Por Ademir Pascale –
ademir@cranik.com –
www.cranik.com
Após anos de leitura, discussões, entrevistas,
tentativas, erros e acertos, comecei a
entender o processo editorial das editoras. É
lastimoso saber que existem tantos autores criativos
que acabam engavetando seus manuscritos
"eternamente", após inúmeras tentativas na
publicação de suas obras. Os "nãos" são
constantes, talvez uma das palavras mais usadas
pelas editoras Brasileiras: "Não, sua obra
não se encaixa em nossa linha editorial" ou "Nossa
cota de publicação já está esgotada para 2007 e
2008, portanto, não poderemos publicar a sua
obra, mas continue tentando em outras editoras".
Algumas editoras alegam que os leitores são poucos e
os autores muitos... Mas por que os leitores são
poucos? Será que as editoras promovem as ações
necessárias para promoverem seus livros ou mesmo
autores? Quantas vezes, você leitor, presenciou o
comercial de um livro na TV ou mesmo outdoor ou
ouviu em alguma rádio? A maioria das propagandas de
livros, são veiculadas na mídia impressa e, mesmo
assim, pouquíssimas divulgadas. O livro tem que ser
um sucesso próprio para se autopromover, o
boca-a-boca tem que prevalecer neste caso.
Por que será que seus filhos gostam "tanto" de
vídeogames? Por que será que eles sabem dos
jogos que ainda serão lançados no ano que vem ou que
estão sendo lançados nos EUA ou no Japão?
Simplesmente porque está na mídia em massa, como:
comerciais e programas de TV, outdoors, rádio, sites,
revistas diversas, jornais, etc. Dizer que o
público leitor está em baixa é desculpa, basta usar
a mídia e o dindim, pois sem investimento e
boas idéias de divulgação, ninguém descobrirá que
existe um livro interessante nas livrarias, pois com
certeza, existem livros e gêneros para todo tipo
de leitor.
Outro dia, estava lendo um artigo no site da autora
Thalita Rebouças. Ela dá dicas bem interessantes
para o envio de originais: “Coloque um pingüinho de
cola a cada dez páginas dos seus originais. Assim,
quando uma editora qualquer devolver seu texto
alegando não ter interesse em publicá-lo, você
poderá checar se ele foi ao menos lido e avaliado.
Meu marido, o Cao, fazia isso quando não tinha ainda
nenhum livro publicado e denominou a técnica de
'colagem anti-depressão'. Muito útil. Diversas vezes
ele recebeu de volta os originais e pôde verificar
que eles não tinham sido sequer folheados.” - Thalita Rebouças. site: http://www.thalita.com.br
Bom, parece bem simples colocar um pingüinho de cola
em algumas folhas do nosso original e enviar para as
editoras, não é verdade? Pode ser, mas é muito eficaz, pois fiz
isso... enviei para três editoras e uma delas me
respondeu em uma semana, dizendo que minha obra não
se encaixava na linha editorial da editora "sendo
que estava dentro dos padrões, se encaixava
perfeitamente na linha editorial". Bom, fui
verificar se o meu original realmente tinha sido
lido, aplicando a técnica da autora Thalita Rebouças
e, para meu espanto, desconforto e tristeza, não foi
sequer lido, as folhas estavam lá, coladas... Fiquei
deprimido por vários dias, pois além de gastarmos
dinheiro, mesmo sem condições, a falta de
respeito foi grande. As outras duas editoras ainda
não deram resposta, e isso já faz meses, "vários
meses"... Fiquei com medo de cair na depressão,
os
amigos sempre dizendo para continuar tentando,
dando dicas, etc. Uma destas dicas, parecia um bom
caminho, procurar um agente literário. (O Agente
Literário faz a ponte entre o autor e a editora.
Busca a editora adequada a sua obra, além de
monitorar todo o processo, como o envio e o
andamento. O agente literário ainda poderá avaliar a
sua obra, dando dicas de melhoria através de leitura
crítica e verificando a viabilidade de publicação
através da editora certa para a sua obra, ou seja, a
que publica o mesmo gênero. O Agente literário,
ainda poderá cuidar da publicidade da obra após a
publicação, posicionando a mesma no mercado
literário e usando meios adequados de divulgação em
massa e, claro, o serviço será cobrado).
Enfim, entrei em contato com duas agentes literárias
muito simpáticas e, quando perguntei sobre o valor
de agenciamento de uma obra, cai pra trás, pois é
quase equivalente ao valor que algumas editoras
“prestadoras de serviço” cobram para publicar um
livro e, nas condições financeiras do povo
Brasileiro, é quase impossível. As editoras dão
muito mais credibilidade para os agentes literários
e às vezes, basta uma simples carta do agente, com
um pequeno resumo sobre a obra do autor, e a mesma
já é aprovada para publicação.
Outro dia, encontrei uma editora na internet que
aceitava o envio de originais através de e-mail –
era sexta-feira e precisamente, 22h33. Como estava
faminto, enviei o e-mail com o arquivo de minha obra
em anexo e fui comprar uma pizza em uma pizzaria que
fica no fim da minha rua, uns 200 metros da minha
residência. O processo para ir até a pizzaria,
comprar a pizza e voltar para casa, foi de
aproximadamente 15 minutos e, quando fui verificar
meu e-mail, a editora já tinha dado a resposta.
Segue abaixo:
Ademir
Obrigado pelo contato
Seu projeto fica fora da nossa linha editorial.
Seria melhor que vc falasse com editoras voltadas às
obras paradidáticas e com outros livros na área.
Atenciosamente
..........................
Detalhe, essa editora acima “não divulgarei seu
nome”, aceitava originais do gênero infanto-juvenil,
este que enviei era infanto-juvenil, mas ele achou que além
deste gênero, também era paradidático e, concordo
plenamente, mas por que não o aceitou? Nem sequer
leu a obra, pois como podem observar acima, o
processo de envio do e-mail e recebimento da
resposta da editora, foi de apenas 15 minutos. Isso
é respeito para uma pessoa que passou meses
pesquisando e escrevendo uma obra?
Minha obra é do gênero infanto-juvenil/paradidático.
Criei uma moderna linguagem, abordando problemas
sociais, inclusão e exclusão digital e social,
minimizando o máximo possível em meu texto, o
estrangeirismo, mas inevitavelmente, usando algumas
palavras aportuguesadas... bom, a obra está na
gaveta, ou se preferir, HD, esperando que seu dono
tome coragem de começar a arriscar novamente e
enviar os originais para as editoras, ou arrumar um
bom dinheiro para pagar para uma agente literária.
O que é reconfortante, é saber que alguns autores
venceram na vida, como o Brasileiro Paulo Coelho. -
Foram muitos anos tentando publicar o seu primeiro
livro. Paulo Coelho, escreveu letras de músicas para
Rita Lee, Elis Regina e para o seu grande amigo
"Raul Seixas". Seu primeiro livro - com publicação
custeada do seu próprio bolso - "Arquivos do Inferno
- 1982", não teve nenhuma repercussão. O 2º livro
editado em 1985 "Manual Prático do Vampirismo" idem,
o próprio Paulo Coelho mandou recolhê-lo, pois achou
que não tinha uma boa qualidade e, quem diria, o
livro "O Alquimista" publicado em 1988, vendeu tão
pouco, que o editor do livro desistiu de publicá-lo,
mas Paulo Coelho não desistiu, bancou a publicação
do seu próprio bolso e logo depois, tornou-se um dos
livros mais vendidos do Brasil... bom, o final todo
mundo já conhece, afinal de contas, qual a pessoa
que não sabe quem é o autor Paulo Coelho? O autor
Brasileiro reconhecido mundialmente passou por
grandes dificuldades e obstáculos para chegar ao
auge do sucesso, mas nunca desistiu, aprendeu tanto
em seus “tropeços” que hoje é um dos reis do
marketing mundial.
Sempre que ouço a história da autora do bruxinho
“Harry Potter”, J.K. Rowling (Joanne Kathleen
Rowling), fico emocionado, ela passou muitos anos
tentando publicar o seu primeiro livro “Harry Potter
e a Pedra Filosofal”, passou por dificuldades
financeiras, familiares, sofreu de depressão e,
acredite se quiser, não possuía nem um computador em
casa, tinha de ir todos os dias em um Cyber Café
para concluir sua obra, enquanto que a sua pequenina
filha “Jessica” dormia em um carrinho de bebê ao seu
lado. Tentou publicar em nove das grandes editoras
de seu país, mas todas o recusaram, afinal, quem
publicaria a história de um bruxinho chamado “Harry
Potter”? Depois de muitos anos, tentativas e
dificuldades, finalmente, no ano de 1997, J.K.
Rowling consegue publicar seu primeiro livro “Harry
Potter e a Pedra Filosofal” em uma pequena editora
inglesa, chamada “Bloomsbury”. Rapidamente o livro
chegou na primeira posição dos livros mais vendidos
do país, foi um tremendo estardalhaço na imprensa e,
imagine quem foi o personagem que ilustrou a capa da
conceituada revista Norte-Americana TIME? Isso
mesmo, o personagem foi o bruxinho “Harry Potter” (o
quinto livro da autora J. K. Rowling, “Harry Potter
e a Ordem da Fênix”, foi o livro mais pré-vendido da
história mundial. O site Amazon.com, chegou a
receber um milhão de pedidos...dá pra imaginar?).
Note algo diferente nas crianças da atualidade, algo
que nós adultos não fazíamos na juventude, ler um
livro com mais de 500 páginas e ainda torcer que
logo saia a sua continuação (O livro “Harry Potter e
a Ordem da Fênix” – Ed. Rocco, possui nada menos do
que 702 páginas). Com certeza, J.K.Rowling será
eternizada como a primeira autora que despertou a
leitura nas crianças do século 20 e 21. Agora,
imaginem o desgosto das nove grandes editoras que
tiveram o material da autora em mãos e não quiseram
publicar as aventuras desse bruxinho? Hoje, tanto a
autora como a editora que acreditou em seu
potencial, faturam milhões - J.K Rowling é a segunda
mulher mais rica do mundo, perdendo apenas para a
Rainha Elizabeth -, e não foi uma “bruxaria” da
autora, como muitos dizem, e sim, muito amor, garra,
determinação e “muita persistência”. Você deve estar
se perguntado por que eu também usei a palavra
“amor”. Porque antes de tudo, você deve ter amor
pelo que faz, só assim você nunca se cansará de
tentar, de persistir, de lutar, de corrigir os seus
erros e de correr atrás dos seus sonhos.
Todos os autores que conheço já levaram vários "nãos"
das editoras, como a autora Helena Gomes, que hoje
faz um tremendo sucesso (veja entrevista que fiz com
ela na página:
http://www.cranik.com/entrevista60.html). O simpático e super criativo autor, Luis Eduardo Matta, também ganhou vários "nãos" das editoras
(veja entrevista:
http://www.cranik.com/entrevista56.html). Agora a pergunta, por que eles fazem um tremendo
sucesso hoje e não anteriormente, quando enviaram
seus primeiros originais para as editoras? Porque
simplesmente tiveram o mesmo tratamento que eu ou
você temos das editoras, pois se elas acreditassem
nesses autores, o sucesso seria inevitável.
Conheço um autor chamado Waldecy Simões, um senhor com mais
de 60 anos que já escreveu mais de 70 obras de ótima
qualidade, mas que nunca conseguiu publicá-las. No
início deste ano de 2007, ele me pediu um auxílio,
pois gostaria de disponibilizar seus livros
gratuitamente na internet através de downloads, pois
cansou de procurar editoras que publicassem suas
obras. Fiz um site bem simples, mas que serve
perfeitamente como plataforma para downloads de
livros doc. do Word e PDF. É claro que nunca
deveremos desistir, Zélia Gattai é um grande
exemplo, escreveu seu primeiro livro “Anarquistas,
graças a Deus” com 63 anos de idade.
Infelizmente, o trabalho das editoras no Brasil
ainda são super precários, não investem em novas
ações na mídia para promoverem seus autores e ainda
esperam faturar milhões, o que não acontece. Não
investem em funcionários mais qualificados para a
avaliação de uma obra, simplesmente para diminuírem
seus gastos, sendo que na realidade, estão perdendo
muito mais do que ganhando.
Escrevi essas linhas simplesmente para pedir um
pouco mais de respeito aos editores das editoras
brasileiras pelos jovens autores e também para os
leitores, afinal de contas, eles merecem um bom
tratamento e principalmente, informação adequada ao
alcance de todos.
Um forte abraço,
* Escrevi o texto acima há quase 1 ano e, em Julho
de 2007, fechei meu primeiro contrato com a editora
Alyá. Elaborei um audiolivro intitulado "Cinema -
Despertando seu olhar crítico". CLIQUE AQUI para
acessar a página do meu audiolivro. Em 2007,
criei também um novo site "Divulga Livros" com a
intenção de divulgar autores publicados e não
publicados:
http://www.divulgalivros.org . Em 2008, estou
participando de várias antologias e organizando uma
antologia de contos, além de que finalizei várias
outras obras.
Para me aprimorar
e auxiliar os internautas, estou sempre
entrevistando autores e, meu último foi um dos
membros da academia brasileira de letras, Moacyr
Scliar: CLIQUE AQUI e leia nossa entrevista.
Se você tiver alguma dúvida ou quiser trocar
informações, entre em contato:
ademir@cranik.com
Ademir Pascale é crítico de cinema,
ativista cultural, administrador e criador do portal Cranik
www.cranik.com e do projeto de inclusão social
e cultural "Vá ao cinema!". Contatos para matérias
em Jornais, Sites ou Revistas, e-mail: ademir@cranik.com
Indique esta matéria para um amigo!