por
Ademir Pascale - Crítico de Cinema e Editor do
Portal Cranik -
ademir@cranik.com
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Foto Divulgação
Antigamente me questionava referente à escolha sobre
a
Educação Bancária ou
Pedagogia Libertária nas
escolas e, imensuráveis pontos de interrogação
surgiam perante meus olhos. Porém, um certo dia,
acabei me decidindo por pedagogia libertária, pois
os educandos teriam maior liberdade de expressão em
sala de aula e, poderiam fazer os alunos enxergarem
o mundo com mais liberdade. O mestre apenas abriria
as portas para a sabedoria e "viva a liberdade e
igualdade" mas, será que hoje estes que professam a
arte da educação e o desenvolvimento das faculdades
intelectuais, não estariam distorcendo o conceito de
"Educação Libertária?".
Tomei a liberdade das reticências soltas para uma
pequena divagação.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Retornando a questão: "Educação Bancária ou
Pedagogia Libertária?". Porém, antes de inferir
esta intrincada e lastimosa questão, contarei uma
pequena experiência vivida por mim há poucos dias
atrás.
Pensativo, como sempre, no rijo caminho entre lar e
trabalho, refletia sobre alguns lamentosos
ocorridos: trabalho em uma entidade carente de
segunda à sábado, das 9h às 13h, ministrando
aulas de introdução a informática para jovens
carentes em uma pobre região da periferia de São
Paulo e, pude observar cautelosamente o aprendizado
das crianças e adolescentes de 9 a 16 anos. Nestas
aulas, em momentos de descontração, notei que
"todos" os alunos, infalivelmente e sem exceções,
acessavam os mesmos canais: "orkut, msn e sites de
jogos" e, isso vale também para os adultos, pois
além de ministrar aulas de informática, também
oriento adultos para esta grande rede, intitulada "world
wide web" que, abre caminhos, rompe fronteiras, mas,
os interessados em se aventurarem nesta viagem,
ainda são poucos, os demais preferem a limitação dos
mesmos canais de diversão.
Depois de refletir, observar e conversar com as
crianças e adolescentes, compreendi e cheguei ao “x”
da questão sobre o interesse nos mesmos canais. Este
mundo virtual, ainda é algo novo para pessoas da
periferia de baixa-renda e, a diversão neste novo
mundo é escassa, pois as crianças de hoje não sabem
se divertir como no tempo de minha infância... ainda
lembro, como se fosse hoje os campeonatos de jogo de
botão e bafo, sinto-me feliz ao lembrar das
brincadeiras de queimada, esconde-esconde e
cabra-cega, mas, percebi que hoje isso é algo
extinto, são apenas lembranças...
Um dia, fiquei dez minutos observando os jovens
alunos e, percebi que alguns não tinham o hábito de
piscar os olhos em frente ao monitor e, que Deus me
perdoe, mas pareciam zumbis. Até então, em um
lindo dia, dei uma pesquisa de livre escolha para as
crianças. Escrevi na lousa os seguintes temas
abaixo:
- Biografia de Maurício de Souza
- Aquecimento Global
- Dia do Índio
- Harry Potter
- Inclusão digital
Dos 15 alunos, 11 pesquisaram sobre "Harry Potter",
02 sobre o "Dia do Índio", 01 sobre "Maurício de
Souza" e o último sobre o "Aquecimento Global" e,
detalhe, a pesquisa não foi para redigir em um
editor de texto, mas sim, com papel e caneta
"mesmo".
Queria observar os erros de português, caligrafia e,
principalmente, a criatividade destes alunos que
variavam de 9 a 16 anos de idade. Bom, até que
gostei da escolha da maioria, afinal, a criadora do bruxinho Harry Potter,
Joanne Kathleen Rowling, foi
a autora que despertou a leitura nas crianças do
século 20 e 21, mas, naquele caso, não era bem isso,
pois os pais dessas crianças não tinham dinheiro
para pagar 30 ou 40 reais em um livro de Harry
Potter. Neste caso, o fato da escolha foi apenas a
divindade que a personagem gerava perante essas
crianças, que talvez ficaram sabendo de sua
existência em filmes reprisados na sessão
da tarde, ou mesmo em boatos na escola, daqueles um
pouco mais afortunados, então neste caso, não
fiquei "mais" tão feliz.
Duas crianças escreveram sobre o dia do índio,
acredito que porque seus avós eram indígenas. Uma
criança escreveu sobre o excelente
Maurício de Souza
e, acredito que ela tenha se lembrado que foi ele
quem criou a
Turma da Mônica. A última criança,
escreveu sobre o "tão falado" Aquecimento Global e,
fiquei sabendo que o fez, porque o professor de
português de sua escola, tinha pedido esta pesquisa.
Ninguém se interessou na inclusão
digital, talvez porque eu não tenha deixado dúvidas
referente a importância desta inclusão que, ao final
deste artigo, concluirei minha idéia.
Observei que alguns alunos, apenas copiavam os
textos dos sites sobre o tema escolhido e, alertei
para que não o fizessem, e sim, para que lessem e
"entendessem" o texto e depois com suas próprias
palavras, escrevessem na folha - queria ver a visão
de mundo de cada um, a interpretação do texto, mas,
aquele dia que começou belo, naquele momento, se
tornou em trevas. Outros desenhavam as palavras,
não sabiam o que estavam escrevendo, apenas copiavam
o texto e, uma destas crianças, estava na 6º série
do ensino fundamental e, meu Deus, diga, como essa
criança conseguiu chegar a “6º série" sem ao menos
conseguir formular uma frase, apenas
desenhando as palavras sem o mínimo de entendimento?
As outras crianças, apresentavam erros tão
grotescos, que fechei os olhos por alguns momentos, mas, ao
abri-los novamente, percebi que não era um pesadelo,
era real... Por que, Deus, não ouvistes minhas
preces? Uma criança escreveu que "estava adorandu
o curço", outra "isplicou" que o "Aquecimento
Global" era algo relacionado ao chuveiro de sua casa
- por mais que me esforcei, este não consegui
entender. *(sei que uma boa porcentagem do Aquecimento Global
é devido a queima de carvão mineral para gerar a
energia elétrica, mas a criança não fez nenhuma
associação referente a este caso).
Não estou julgando as crianças, mas sim, seus
mestres que não tornaram a leitura um hábito.
Mestres que "não pegam no pé" do aluno ao notarem
tais erros. Mestres que não incentivam, que não
explicam, que não abrem as portas do aprendizado e,
acham que a "pedagogia libertária" é deixar o aluno
fazer o que quiser, pronunciar e escrever como
quiser... É, essa deve ser a tal pedagogia
libertária.
Paulo Freire deve nos olhar das nuvens
com tristeza, não sabendo que raios de pedagogos são
esses... Para complementar o que acabei de
escrever, no dia seguinte desta lastimosa
experiência, perguntei para um aluno, que horas ele
deveria estar em sua escola e ele me disse: "às zuma". Eu disse
educadamente para ele que, o correto seria dizer “às
13 horas”, mas este disse que tanto faz, pois um dia
disse isso a sua professora e ela não deu a mínima
atenção, não o corrigiu.
Voltando a pé, com passos curtos e de cabeça baixa,
no mesmo rijo caminho entre trabalho e lar, algo me
fez parar e levantar a cabeça. Era o som de algumas
crianças brincando em um campinho, próximo de um
sujo córrego. Não sei dizer qual modalidade era, mas
estavam brincando com bolinhas de gude e, lembrei de
minha infância, dos anos 80s, quando ainda nem
sonhava com a tal internet. Lembrei dos livros que
lia antes de dormir de
Daniel Defoe,
Miguel de
Cervantes,
George Orwell e do brasileiro,
Marcos Rey (Clique aqui e veja os livros
do autor Marcos Rey).
Com perfeição, lembrei de quando assistia pela manhã
ao
Daniel Azulay e suas interessantes oficinas de
desenho e criativas brincadeiras... também lembrei
da educação bancária que, mesmo sendo imposta pelos
rígidos mestres, aprendia a ler e a escrever e,
sabia pelo menos formular opiniões e uma boa
história, pois sempre que a fazia, minha professora
de português mandava ir à frente da lousa e a ler em
voz alta, o que me trazia constrangimentos, pois era
e, ainda sou, muito tímido.
Quando era mais jovem, perdia horas na biblioteca
da pracinha do Campo Limpo, procurando livros para
minhas pesquisas. Hoje, as crianças pesquisam na internet, simplesmente digitando o título da
pesquisa em um site de busca e ao achar o site com o
referente tema, simplesmente usam o comando: Ctrl +
C, Crtl + V e, jogam em um editor de texto e mandam
imprimir com seus nomes ao final da falsa pesquisa e
nem sabem sobre o que se tratava o assunto da mesma.
Um dia perguntei para uma destas crianças se o
professor aceitava esse tipo de pesquisa e ela falou
que sim, que sempre aceitava.
Sei muito bem da importância da internet, da rapidez
na informação e da liberdade de expressão, mas, se
não existir alguém que mostre o caminho certo e que
auxilie corretamente os jovens, pode ter certeza que
de nada adiantará essa "grande" tecnologia e, no
futuro, não saberia dizer se ela continuaria a se
desenvolver com tanta velocidade, afinal, quem
continuaria criando e desenvolvendo programas e
benefícios na grande rede, se esses adultos do
futuro, aprenderam no passado simplesmente a usar o
comando Ctrl + C, Crtl + V nas pesquisas escolares?
Os pais deveriam incentivar mais os filhos e, mesmo
sabendo que os livros são caros, ainda existem as
bibliotecas públicas e, lá as crianças poderão ler
gratuitamente. Os professores, deveriam pensar mais
no futuro, afinal, quem os construirá se eles não
estão interessados em ensinar corretamente? Se o
salário está baixo e que não compensa lecionar, me
desculpe, mas que arrumem outra profissão, afinal de
contas, lidam com seres humanos e com a educação,
constroem o futuro da humanidade e, precisam
principalmente, ter paixão pelo que fazem.
Hoje, não ministro aulas apenas de introdução a
informática. Abro as portas para o conhecimento,
mostro sites interessantes, criativos e informativos
e, às vezes, sorteio alguns livros ao final da aula,
como uma forma de incentivo para aqueles que se
destacaram e, mesmo os que não se destacaram, ganham
também alguma coisa, como uma revistinha em
quadrinhos.
Saudações para a internet e ao glorioso Paulo
Freire, Daniel Defoe, Miguel de Cervantes, George
Orwell, Marcos Rey, Daniel Azulay, Maurício de
Souza, Harry Potter e Joanne Kathleen Rowling e,
viva a verdadeira Pedagogia Libertária. Abra os
olhos para o futuro da humanidade e impeça que as
crianças virem zumbis do sistema.
Hoje, convivo com a pedagogia libertária, mas
aprendi com a *educação bancária e, sinceramente,
prefiro a “verdadeira” pedagogia libertária do
Prof.
Paulo Freire, e não esta falsa que rola solta nas
escolas.
*Pais e mestres, indico os sites listados abaixo,
mas, não se esqueçam das antigas brincadeiras de
roda, cabra-cega e mãe da rua. Não se esqueçam
também, que as bibliotecas publicas ainda existem,
não são “coisas” do passado. Além da diversão, o
exercício físico e mental também é uma boa:
Sites que Recomendo:
www.turmadamonica.com.br
www.danielazulay.com.br
www.iped.com.br/kids
pt.wikipedia.org
www.amigosdodente.com.br
www.amigosdodente.com.br/add_criancas.html
www.on.br/site_brincando
www.cienciadivertida.pt
www.tvcultura.com.br/aloescola/infantis/chuachuagua
www.contandohistoria.com
www.palavracantada.com.br
www.tiogui.com.br
Crítico:
Ademir Pascale é crítico de cinema,
ativista cultural, editor e criador do portal Cranik
www.cranik.com e do projeto de inclusão social
e cultural "Vá ao cinema!". Contatos para matérias
em Jornais, Sites ou Revistas, e-mail: ademir@cranik.com
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