CRÍTICA - AUSTRÁLIA - A realidade poder
ser cruel, mas nas lentes do cineasta Baz Luhrmann,
ganha contorno poético mesmo nas tragédias. Foi
assim ao reinventar o clássico de William
Shakespeare “Romeu e Julieta”, pintando com cores
vivas e um ar pop o romance impossível da dupla de
adolescentes. Ou no musical “Moulin Rouge” quando o
diretor “pintou e bordou” ao narrar a história da
prostituta Satine e seu amor por um escritor.
“Austrália” é o novo filme de Luhrmann que traz
novamente Nicole Kidman como protagonista. Desta vez
ela é Sarah Ashley uma madame, esposa do
proprietário de uma grande fazenda que impede o
monopólio da venda de carnes de Carney, um dos
grandes vendedores da região.
O filme é vendido como épico, porém o cineasta
dialoga com vários gêneros. O filme começa com
tomadas cômicas, passa pelo drama, pelo romance,
assume ares de filme de guerra e termina como um bom
melodrama. Tudo feito, claro, para que o público se
emocione nas 2h50 minutos que permanece sentado. A
película não causa tanto impacto no cinema como
“Moulin Rouge”. Para agüentar as reviravoltas no
roteiro, só sendo fã, ou do cineasta, da atriz
principal e porque não, de cinema.
Luhrmann filma seqüências grandiosas que não fosse a
era do mundo digital, tudo seria muito menos
emocionante e menos surreal. A cena que o menino
consegue parar 1.500 bois, a beira de um precipício
com a força do pensamento é no mínimo duvidosa.
Ainda mais se você for um cético. Mas ok, no
universo mítico do diretor, certa dose de fantasia
faz parte. Afinal recorremos a ela todos os dias.
Um dos pontos alto do filme é a utilização da canção
“Over the Rainbow” imortalizada na voz de Judy
Garland no filme “O Mágico de Oz”. A música serve de
metáfora para os três personagens da trama: Sarah, o
Capataz (Hugh Jackman) e o aborígene Nullah (Brandon
Walters) a criança do filme, que entoa a música
durante todo o tempo. Depois de mergulhar no
universo pop na trilha sonora de “Moulin Rouge” a
música de Dorothy é a melhor parte da história, bem
como as cenas em que ela está de fundo.
Impossível não se sentir tocado com o pequeno Nullah
pintado de negro para poder assistir a exibição de
“O Mágico de Oz”. Considerado um mestiço, não tem
permissão para entrar no cinema. Na Austrália em
1938, pior do que ser negro é ser mestiço.
De pano de fundo a história de amor de Sarah e o
Capataz está Pear Harbol, a guerra entre japoneses e
americanos. O cineasta mistura história, romance,
aventura, cultura popular para no fim afirmar que
não existe nada no mundo melhor que nosso lar.
Como uma Dorothy pós-moderna, o cineasta, brinca com
os clichês e com a improbabilidade deles. Um ótimo
exemplo é o grupo que está a disposição para que o
Capataz, leve as centenas de bois até o porto,
formado por duas mulheres, um bêbado, uma criança e
dois homens. Até a disposição deles no inicio do
trajeto brinca com os arquétipos de filmes de
vaqueiros.
O amor em nada surpreendente do casal protagonista
ganha força pela empatia dos atores. O público
“engole” sem sofrimento, cenas melosas e óbvias como
o beijo do casal na chuva.
Considerado a produção mais cara da Austrália,
estimada em US$ 130 milhões e com apenas uma
indicação ao Oscar – de melhor figurino – o filme de
Luhramnn não teve a repercussão que a produção
esperava, mas serve como diversão, e se você for fã
do cineasta...corre o risco de lacrimejar.
Ficha Técnica
Título Original: Australia
Gênero: Drama
Duração: 165 min.
Ano: EUA/2008
Site Oficial: www.australiafilme.com.br
Distribuidoras: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Stuart Beattie, Baz Luhrmann, Ronald
Harwood e Richard Flanagan, baseado em estória de
Baz Luhrmann