O movimento “Cinema novo”,
iniciado nos anos 60, trouxe formas, conteúdo,
perspectivas e modo de se fazer filmes, que
caracterizam até hoje as produções brasileiras.
“Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha e
“Vidas secas”, de Nelson Pereira dos Santos, ambos
os filmes e diretores foram a fundo nas questões
problemáticas do Brasil: o sertão, a seca, o ser
humano miserável e a corrupção. Mas, suas obras não
ficaram apenas marcadas pelo conteúdo, mas também
pela linguagem, que era libertária ao extremo e até
hoje é atual.
Tal movimento foi enterrado pela ditadura nos anos
70, nos anos 80 tivemos o auge das
pornôs-chanchadas, e na era Collor, já nos anos 90,
o cinema brasileiro praticamente foi enterrado, nas
salas de projeção apenas trabalhos estrangeiros, e
principalmente norte-americanos. No lugar da
liberdade estética dos filmes de Glauber e cia., os
enlatados de Hollywood, regidos por uma ditadura
cultural da indústria norte americana.
Porém, na metade para o fim dos anos 90, quando
filmes como “Carlota Joaquina”, de Carla Camuratti,
e “O que é isso companheiro¿”, de Bruno Barreto,
este indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro,
chegou aos cinemas, os sintomas de saída do coma do
nosso cinema estavam iniciados. O quadro iria
modificar de vez com o lançamento da obra prima de
Walter Salles, “Central do Brasil”, com duas
indicações ao Oscar, entre elas, a de melhor atriz
para Fernanda Montenegro. Era à volta do cinema
brasileiro e da estética iniciada no movimento do
“Cinema Novo”.
Assim como o tropicalismo foi um movimento efêmero,
engolido pela ditadura, mas que está presente em
inúmeros músicos atuais do Brasil, com o “Cinema
novo” não é diferente, as temáticas e a linguagem
incomum pode ser encontrada em filmes como, “Madame
Satã”, de Karim Ainous, “Amarelo manga”, de Cláudio
Assis e “Lavoura Arcaica”, de Luiz Fernando Carvalho
etc. Nos três filmes citados e em muitos outros
produzidos nos últimos 5 anos, você vai encontrar o
máximo da ideologia cinematográfica dos anos 70:
personagens marginalizados socialmente, miséria
urbana, contestamento político, fotografias ousadas,
enquadramentos um tanto intimidadores, ou seja, a
máxima de Glauber Rocha e a ideologia de sua época.
Menos Hollywood, mais Brasil
As duas décadas obscuras do cinema brasileiro
deixaram marcas que se perduram até hoje, a mais
gritante de todas é presença maciça do cinema
“gringo”, 90% das salas brasileiras exibem produções
dos Estados Unidos, com publicidade milionária,
dessa forma, obras importantíssimas passam
despercebidas pelo público nacional, salvo algumas
exceções, no caso produções da Globo Filmes.
Só para se ter uma idéia do tamanho do estrago, na
época em que foi exibido, “Lavou arcaica”, vencedor
de mais de 40 prêmios ao redor do mundo, com um
orçamento pequeno, ocupou duas salas, uma no Rio e
outra em São Paulo, enquanto o filme “Homem aranha”
se apresentou em 200 salas.
Não a intenção de chamar o xenofobismo aqui, apenas
à atenção de que obras primas brasileiras são
reverenciadas lá fora e aqui, amargam magras
bilheterias.
O filme de Cláudio Assis, “Amarelo manga”, quando em
seu lançamento, foi dito por vários diretores, entre
eles Luiz Fernando Carvalho, “como o inicio de uma
nova dramaturgia no cinema”, os críticos daqui
também elogiaram a obra, nos festivais europeus e
latinos o filme foi aplaudido em pé, e sabem quanto
custou o filme¿ R$ 450 mil reais!
Outro exemplo, o filme “Cidade de Deus” quando foi
exibido em Nova York, chegou a fazer fila, disputou
Oscar de melhor filme do ano com o “Senhor dos
Anéis” e o produtor Jerry Buckheimer disse o
seguinte, “em termos de na edição e fotografia, o
filme ‘Cidade de Deus’ consegue superar o Senhor dos
anéis”.
Apesar da ajuda estatal ter aumentado
significativamente e este ano já terem sido exibidos
mais de 20 filmes brasileiros, os profissionais do
cinema nacional ainda sofrem para divulgar seus
trabalhos, portanto, vamos olhar mais para as
produções do Brasil, que em termos de conteúdo,
estética e criatividade, o nosso cinema, em grande
parte das produções, deixa muito filme estrangeiro e
milionário no chinelo.