CRÍTICA - VENTOS DA LIBERDADE:
De todas as
pseudos-certezas do cinema, poucas são realmente
verdade, e uma delas é que o festival de Cannes
premia o cinema mundial, aquele que não precisa de
altos índices de bilheteria para se consagrar, a
palma de ouro vem a cada ano sendo dada para um
exemplo de cinema, no melhor sentido da palavra.
Às portas do festival desse ano, acaba de chegar por
aqui nos cinemas, o grande vencedor do ano passado,
“Ventos da Liberdade”, dirigido pelo inglês Ken
Loach, é um exemplo de que um filme com um assunto
forte e político, mas cheio de poesia visual e um
lirismo impressionante.
Em uma Irlanda, no começo do século XX, ainda
dominada pelo Inglaterra, um grupo armado aparece
como sendo a única frente contra a opressão
britânica e a única esperança para um povo que
anseia pela independência.
O grupo em questão é o Exercito Republicano
Irlandês, mais conhecido pela sua sigla IRA (Irish
Republican Army) e que até hoje ainda dá as caras em
noticiários de vez em quando, por motivos pouco
gloriosos, mas que no seu começo, era um bando de
jovens que apenas tentavam levar o melhor para seu
país e seu povo.
E é desse mundo que Damien (Cillian Murphy) tenta
fugir e se tornar um médico em Londres, mas acaba
sendo impedido pela sua própria consciência, quando
desperta para o problema, quando ele bate em sua
porta e o faz sentir a dor, o futuro médico então dá
lugar a mais um soldado em busca da libertação.
O filme não se prende em documentar a história e se
preocupa em mostrar quem fazia ela, Damien embarca
em um conflito muito maior do que pensava, seu irmão
Teddy, um dos lideres do IRA, e seus amigos de
infância são obrigados a fazer de suas vidas, muito
mais que apenas um dia após o outro.
Com um roteiro inspirado, de Paul Laverty, “Ventos
da Liberdade” não só mostra o conflito pela
independência da Irlanda, mas aos poucos vai
colocando os antes jovens amigos guerrilheiros em
lados opostos até o momento em que tudo se divide e
ingressam em uma guerra civil.
Belíssima como poucas produções, além explorar ao
máximo as belas paisagens do país, ainda somos
presenteados com uma história lírica, emocionante e
forte, que se prende em mostrar toda linha entre a
primeira cena, onde dois times de jovens, quase sem
preocupações, se degladiam em um jogo de hockey na
grama (ou algo parecido, não sei o nome do esporte),
e o final onde a grama dá lugar ao mundo, e os tacos
dão lugar as armas.
Mesmo com um elenco nada conhecido, apenas Cillian
Murphy pode ter sido visto por aí, e mediano, o
resultado é forte e verdadeiro, cru em certos
momentos, criando uma emoção quente e que
definitivamente fisga o público.
“Ventos da Liberdade” é uma ótima oportunidade para
se conhecer um cinema impecável, que faz questão de
dizer um pouco mais do que está simplesmente na
tela, fazendo você não só pensar a respeito da
história do filme, mas também, repensar um pouco o
nível do que é bom no cinema atual.
Título Original: The Wind that Shakes the Barley Gênero: Drama Duração: 127 min. Ano:
Inglaterra/Espanha/Alemanha/Itália/França/Irlanda -
2006 Distribuidoras: IFC First Take/California Filmes Direção: Ken Loach Roteiro: Paul Laverty Site Oficial:
www.thewindthatshakesthebarley.co.uk
Cena do filme Ventos da Liberdade - Foto
Divulgação