TRILOGIA DAS CORES
Antes de qualquer análise
crítica, pra conhecimento do leitor é válido saber
que o projeto “A trilogia das cores” nasce por dois
motivos: o bicentenário da revolução francesa, sendo
que é deste fato histórico/ político donde nasceu o
lema: liberdade, igualdade e fraternidade, e o
segundo fato é o momento político europeu, a
comemoração da unificação da Europa, a já conhecida
União Européia.
Feito o contexto da obra, vamos a ela. Como já
mencionado Krzysztof Kieslowski foi convidado a
fazer um filme que prestasse dupla homenagem, a
partir deste ponto o diretor tem a seguinte idéia:
com os três lemas da bandeira francesa,
transportá-los a década de 90 e com a seguinte
questão, como estão estes valores no mundo de hoje?
Como anda a liberdade, a igualdade e a fraternidade
na Europa e no mundo hoje?
A liberdade é azul ou apenas Azul, como no título
original, Kieslowski toma como ponto de partida a
tragédia e os dez minutos iniciais já denotam a
desgraça. Num acidente de carro, Julie (Juliette
Binoche) perde o marido e a filha, após a tragédia a
personagem decide-se livrar de tudo que lhe prende
ao passado, porém, impossível se livrar de tudo, eis
o ponto filosófico do roteiro, aquela liberdade
utópica é possível?
Em “A igualdade é branca” a personagem central é
Carol (Zbiniew Zamachowski) ele é polonês e não fala
francês, é apaixonado pela sua mulher, Dominique (Julie
Delpy), que o surpreende com um pedido de divórcio,
Carol é julgado na França sem falar uma palavra
sequer em francês, mesmo em tom de comédia o filme
já dá o tom logo de cara, como um estrangeiro é
julgado, obrigado a assinar uma separação sem sequer
falar a língua nativa, sem um interprete, onde
reside a igualdade na sociedade? Carol resolve
retornar a sua cidade natal, volta a trabalhar com o
irmão na profissão de cabeleireiro e planeja uma
inusitada vingança.
No Vermelho ou “A fraternidade é vermelha”,
Valentine (Irene Jacob) leva uma vida normal, faz
curso universitário, no filme não é citado qual
curso, ganha o seu dinheiro como modelo, tem um
namorado onipresente no filme, toda a sua
tranqüilidade e normalidade serão quebradas quando
atropela uma cadela pastor-alemão, na coleira da
cadela há o endereço de sua casa, Valentine vai
então até lá, quando adentra a casa do dono, o Juiz,
senhor aposentado que tem um estranho hobby, com um
aparelho de escuta, consegue escutar as conversas
telefônicas de seus vizinhos, paralelamente há a
história de um jovem que estuda pra ser juiz e tenta
a sorte no amor, porém nada fácil e linear na visão
de Kieslowski.
Julie do azul se decide por vender todos os bens
materiais, inclusive a casa onde morava com a sua
família, acredita que deste modo apagará qualquer
lembrança de sua vida passada, vai morar em um
pequeno apartamento, não quer qualquer tipo de
contato com alguma pessoa, porém o acaso vem pra
mudar isso, é importante ressaltar que o diretor se
foca nisso, no acaso, pequenos acontecimentos que
nos ligam a outras pessoas, a outros mundos, assim
como Carol, que retornando a sua cidade, se envolve
em negócios, a forma como vai se tornar um
empresário bem sucedido se dá totalmente no acaso,
assim como Valentine que, após atropelar uma cadela
entra em contato com o mundo do voyeurismo, fica
dividida entre denunciar o sujeito, que ela o
considera como um anormal ou compartilhar deste
mundo com o tal sujeito, em cena clássica o juiz lhe
questiona o que é certo, o que é normal.
Nos três filmes, as personagens terão as suas vidas
transformadas por efeito do acaso e entrarão em
conflitos correlacionados com os temas/ lemas de
cada cor, no caso de Julie, que acredita estar se
libertando, mas, o marido ao morrer deixa uma opera
inacabada, obra encomendada pelo parlamento europeu,
se vê refém da música, o som está dentro dela, Carol
quer a igualdade na vingança para com a sua mulher e
Valentine vê todos os seus valores morais decaírem
quando resolve adentrar no mundo do Juiz, e uma das
coisas mais interessante dos três filmes, as três
histórias coexistem no mesmo tempo, vemos
personagens dos filmes transitarem entre si,
coexistem num mesmo espaço, mas não se relacionam,
existem e não existem ao mesmo tempo.
Seria a liberdade algo trágico? A igualdade uma
comédia? A fraternidade inexistente? Perguntas com
inúmeras respostas, a trilogia nos permite
significações variadas. Aparentemente podemos pensar
que os lemas liberdade, igualdade e fraternidade
hoje são outros, transitam entre si, assim como as
histórias e seus respectivos personagens, se cruzam
sempre, mas não se comunicam. Não a toa é uma obra
prima, pra fechar, tenho que ressaltar a parte
técnica, a forma como o diretor trabalha as cores em
cada filme, e cada um exige um tratamento, no
primeiro o direito trabalha em cima do zoom, em cima
das pequenas coisas que, é o que importa para a
personagem, no branco temos um enquadramento mais
fechado e já no terceiro é a perspectiva, planos
mais abertos e as trilhas sonoras também são ótimas,
com destaque para o azul. Enfim, Krzysztof
Kieslowski se consagrou como diretor com esta obra,
prêmios nos mais importantes festivais, porém,
durante Cannes, ele anunciou que iria parar de
filmar, que tudo estava chato e queria uma vida
tranqüila, infelizmente, um ano após esta
declaração, este mestre do cinema faleceu por conta
de um enfarto em 1996.
Crítico: Marcelo
Hailer - Jornalista -
marcelo.hailer@gmail.com
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crítica:
Nome: Angela Batista e Alcídia Batista
Idade: 30 e 35 anos
Estado:RN
e-mail:angelabatista@brisanet.com.br
Opinião: NOTA 10!!!
OBS: Amamos essa trilogia!! E o comentário fez jus
ao Grande Mestre Kieslowski . Só quem assistiu sabe
o quanto isso é verdade: Seria a liberdade algo
trágico? A igualdade uma comédia? A fraternidade
inexistente?
Nome: João Felipe
Idade: 26 anos
Estado: Rn
e-mail: joao_lemos.in@hotmail.com
Nota: 10
obs: Ótima critica, muito esclarecedora! Achei que
fosse este mesmo o objetivo do diretor! desde o
principio notei a relação com as cores da bandeira
-o que é obvio para qualquer um.Sua critica tirou as
ultimas teias do meu entendimento, o que me impedia
de compreender a totalidade e a profundidade da
obra. Muito bom filme, ou melhor, FILMES!
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