CRÍTICA - SUNSHINE - ALERTA SOLAR:
A verdade é que Kubrick
e seu “2001” não só deixaram um legado no cinema
como também dificultaram, e muito, o trabalho de
qualquer diretor que quisesse se aventurar na ficção
científica, ainda mais se o coitado resolver fazer
toda ação do filme passar dentro de uma nave.
Ridley Scott soltou um Alien sedento por
sangue dentro de uma nave e conseguiu não ser
comparado a “Odisséia no Espaço”, o mesmo aconteceu
com Paul W.S. Anderson em seu ótimo “Enigma do
Horizonte”, mostrando sua “nave-mal-assombrada”.
Infelizmente o inglês Danny Boyle não conseguiu se
distanciar tanto assim com seu “Sunshine”, e foi
prejudicado, principalmente pela espera que ele
criou nas pessoas. Algo que iria mudar a história do
cinema acabou se mostrando apenas como uma ótima
opção do gênero, e, não adianta, a expectativa pode
destruir qualquer filme.
A produção segue a risca toda a fórmula das ficções
mais recentes, mostrando um futuro, não muito
distante, apocalíptico onde o sol começa a se apagar
criando uma nova era glacial na terra a única
esperança da humanidade é a nave Icarus II (a
primeira se perdeu anos antes), que tem a missão de
levar uma “bomba” do tamanho de Manhatan para
explodir no meio do astro que dá nome ao nosso
sistema e assim fazer com que retome toda sua força.
Obviamente, depois de alguns problemas eles acabam
encontrando a Icarus I, e são obrigados a ir ao seu
encontro, situação que acaba pondo toda missão em
risco.
Danny Boyle faz um filme consistente, que mesmo se
entregando a muitos clichês, não perde o rumo,
criando uma história que te envolve na maioria do
tempo, seja por uma reviravolta bem colocada, seja
pelo apelo visual que o diretor explora
primorosamente, por mais que teime em alguns
momentos, mostrando demais alguns detalhes inúteis
da tecnologia da nave, de resto apresenta imagens
inspiradas, sempre com um tom perturbador, escuro,
criando um ótimo contraste com o sol, não é a terra
que está no escuro e sim a humanidade que não
consegue olhar diretamente para para a luz.
Junto com o diretor, o roteirista Alex Garland (que
já fez “A Praia” e “Extermínio” com Boyle) mostra
que fizeram muito bem a lição de casa, fazendo do
filme uma grande colagem de elementos da ficção
científica que deram certo (é bom dar uma chance de
achar que tudo não foi falta de imaginação, e sim um
modo de homenagem), além da tripulação prontinha
para morrer, onde você de cara até desconfia qual
vai ser a ordem das despedidas como em “Alien”, o
computador central onipresente e onipotente que mais
cedo ou mais tarde vai entrar em conflito com a
tripulação, quase um Hal feminino, a presença quase
mística do sol, perturbando os astronautas, como o
planeta do clássico russo “Solaris”, e até, por que
não, a nave-fantasma Icarus I como em “Enigma do
Horizonte”.
Mas a verdade é que o diretor consegue sintetizar
muito bem isso tudo sem deixar nada espalhado.
Provavelmente, muitos vão sair das salas de cinema
reclamando de “Sunshine”, mas com um pouco de mente
aberta o filme é uma ótima diversão, e do mesmo
jeito que “A Praia” e “Extermínio”, que foram bem
execrados na época de seus lançamentos, mas que
ganharam qualidade a cada ano que se passou,
“Sunshine” daqui a um tempo será muito apontado como
uma das melhores ficções científicas dessa época,
com razão.
Título Original: Sunshine Gênero: Ficção Científica Duração: 100 min. Ano: Inglaterra - 2007 Distribuidora: 20th Century Fox Film
Corporation Direção: Danny Boyle Roteiro: Alex Garland Produção: Andrew Macdonald Fotografia: Alwin H. Kuchler