CRÍTICA - SANGUE NEGRO - E não é que
Daniel Day-Lewis levou o Oscar? Concorrendo ao lado
de atores como George Clooney, Johnny Depp e Tommy
Lee Jones, Day-Lewis se tornou imbatível na sua
representação do “homem-monstro”: Daniel Plainview.
Indicado anteriormente por “Em Nome do Pai”(93) e
“Gangues de Nova York” (03), o ator colocou a nova
estatueta ao lado da que ganhou por “Meu Pé
Esquerdo”(90).
Sangue negro não é um filme fácil. Além dos seus 158
minutos, o protagonista não ajuda. É antipático,
grosso e ambicioso. Cruel em muitos momentos o
personagem de Day-Lewis é o típico homem que
ambiciona o sucesso a qualquer custo. O filme tem
longas seqüências e um tema que nem sempre resulta
num filme atraente, a politicagem do mundo
capitalista.
Numa árida região no inicio do século XX, ainda não
explorada pela ganância do homem, Plainview se faz
presente e nos mostra que o mundo foi feito a base
de muita exploração e dinheiro. Sua interpretação é
teatral, seus gestos são grandiosos como num grande
teatro. E se o ator levou o Oscar é por um motivo: é
impossível separar ator e personagem. Diferente de
Marion Cottilard que se transformou em Edith Piaf –
e merecidamente levou o Oscar de melhor atriz.
É necessário ressaltar que as melhores cenas do
personagem se fazem no duelo com o pastor
interpretado por Paul Dano. Ao vermos as
personificações do capitalismo selvagem duelando com
a religião que cega os homens, saboreamos o que de
melhor o filme pode oferecer.
O Pastor e o Empreendedor são figuras de um mesmo
sistema macabro que tem como intuito ludibriar a
população com suas falsas promessas de auxilio e
progresso. Só faltou à figura do político para
transformar o filme de Paul Thomas Anderson, mas
antagônico.
“Deus não salva os idiotas”. A frase dita pelo jovem
pastor ficou martelando na minha cabeça no final do
filme. Extensas duas horas e quarenta depois. Se
Deus não salva os idiotas, por que os deixa soltos
entre nós? Porque deixa que eles enganem cada vez
mais um número maior de pessoas com seus discursos
moralistas, reducionistas, preconceituosos e
alienantes? O que é pior para eles? Serem enganados
ou viverem solitariamente?
Sangue Negro nos põe a mercê do convívio na sala do
cinema, destes indivíduos que evitamos na rua, na
vizinhança, na escola. Este tipo de pessoa que além
de não nos acrescentar, ainda nos tira o pouco que
temos.
Paul Thomas Anderson não levou os famigerados
prêmios de direção e filme do ano. “Sangue Negro”
não é tão violento como “Onde os Fracos Não Têm
Vez”, mas não deixou de revelar as mazelas que
corroem o ser humano por dentro e os torna violento
e destrutivo.
Ficha Técnica
Título Original: There Will Be Blood
Gênero: Drama
Duração: 158 min.
Ano: EUA - 2007
Distribuidoras: Paramount Pictures/Miramax Films/Buena
Vista International
Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson, baseado em livro de
Upton Sinclair