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RESENHA CRÍTICA "PRIMO BASÍLIO"   
por Vinicius Vieira - vvinicius@hotmail.com 
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PRIMO BASÍLIO - (Foto Divulgação)

CRÍTICA - PRIMO BASÍLIO: O que faz de um filme inovador é seu caráter de quebrar as regras, de fazer algo tão inesperado pelo público em tons técnicos e narrativos que fica para as próximas gerações como uma eterna fonte de inspiração e influência.

Quando se entra no cinema para ver “Primo Basílio” não se espera isso, mas ao seu final é fácil perceber que você acabou de participar da história do cinema, com novos conceitos tendo sido criados bem diante de seus olhos.

Daniel Filho, O Diretor, resolve mais uma vez transpor as barreiras do cinema ao adaptar a obra de Eça de Queiroz. A história é sobre uma mulher que tem seu casamento abalado quando reencontra o ex-namorado e primo Basílio e acaba tendo um tórrido caso extraconjugal com ele, mas que acaba caindo nas mãos da empregada que ao descobrir uma de suas cartas de amor começa a chantageá-la, tornando sua vida um inferno.

O roteiro escrito por Euclydes Marinho transporta a ação do final do século XIX em Lisboa para o final dos anos 50 em São Paulo, e ousa em fazer uma história muito mais simplória, deixando para traz toda possibilidade de recriar uma sociedade como o livro o faz, optando por simplesmente se fechar na história principal, esquecendo toda e qualquer nuance que fez do livro um clássico, para assim não criar um filme enfadonho e rico em detalhes e retratos de uma época, coisa que perigosamente poderia aumentar a duração do filme, e deixar muito tempo o espectador no cinema.

E tempo talvez seja a principal palavra do filme, tal qual Daniel Filho transgride toda percepção desse fator ao não apresentar nenhuma passagem de tempo, só escorregando no final mostrando a luz do dia entrando pelo quarto da personagem principal enquanto ela se recobra de uma doença.

O diretor ainda inova em não apresentar nenhum plano de transição, ninguém entra em nenhum quarto, nem sai de nenhum lugar, economizando todo e qualquer tempo que poderia ser perdido (e esses anos todos é repetido exaustivamente no cinema mundial) ao mostrar os personagens, por exemplo, saindo do teatro e chegando em casa, coisa que é muito mais impactante se uma cena for seguida da outra, mostrando que provavelmente o teatro era bem perto da casa deles.

Ainda nesse assunto, é bom reiterar que a casa deles é bem perto de tudo, já que em outro momento a impressão que se tem é que a personagem entra no carro e nem anda com ele para chegar no esconderijo de seu amante, ou ainda mostrando a rapidez do carro.

Pode-se até pensar que tal criatividade tenha vindo da mente da montadora Diana Vasconcelos, mas provavelmente tais possibilidades como carros andando na rua, entradas em quartos e qualquer outra cena desse tipo nem tivesse sido filmada para não possibilitar uma edição comum.

É preciso lembrar que todo estilo visual que Daniel Filho vem angariando em todos esses anos estão presentes, os sempre bem usados recursos de plano e contra-plano em todos os diálogos, os closes de encher a tela do cinema com um olho e um nariz, o uso sempre de um obstáculo em primeiro plano para situar a profundidade da cena e a quase ausência de externas (meia dúzia no máximo) que pelo menos não atrapalham o espectador com qualquer tipo de imagem para situá-los em uma cidade desnecessária.

Daniel Filho ainda se mostra transgressor no uso de gruas, principalmente para mostrar a casa onde a ação acontece, recorrendo à cena incessantemente, criando um estilo de repetição nunca antes usado. Ele ainda usa a mesma grua para fazer um plano longo do tal esconderijo, com tantas nuances que dá um passo a mais no legado deixado por Robert Altman e seus planos seqüenciais, logicamente esse plano longo é usado mais de uma vez para impor esse novo estilo.

Mas não se pode esquecer do enquadramento dos personagens escrevendo em uma escrivaninha, que além de ser repetido umas três vezes, faz qualquer um lembrar dos tempos de primário onde se tirava aquela fotinho sentado à mesa com a bandeira do Brasil ao seu lado, te jogando ainda mais dentro do filme.

Mas não é só de inovações na direção que o filme resiste, no campo das atuações, Tanto Débora Fallabela, como Luísa, a personagem principal, quanto Gloria Pires, por trás empregada e todo resto do elenco, elevam o modo de se fazer cinema a outro grau, fingindo péssimas atuações para não desviar a atenção da história, prestem atenção em Gloria Pires, que quando fica nervosa ou brava, sai do personagem, perde o jeito que ele falava e transcende a linha entre o real e o imaginário, sem esquecer o ataque final de Débora Falabella dentro de seu quarto, que impõe um tom de comédia necessário para descontrair ao final do filme.

Resumindo, “Primo Basílio” é um filme tão técnica e narrativamente completo e novo, que se mostra à prova de qualquer ironia e sarcasmo que se possa tentar fazer... ou não.

Ficha Técnica
Título Original: Primo Basílio
Gênero: Drama
Ano: Brasil - 2007
Distribuidora: Buena Vista International
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Euclydes Marinho, com colaboração de Rafael Dragaud, baseado em adaptação de Daniel Filho e Euclydes Marinho de romance de Eça de Queiroz
Produção: Daniel Filho
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Crítico: Vinicius Vieira - Jornalista - vvinicius@hotmail.com

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