CRÍTICA - PIAF - UM HINO AO AMOR -
Depois de ver “Piaf – Um hino ao amor”, você não
será capaz de ouvir a versão de Cássia Eller para
“Non, je ne regret rien”, sem associar com a
derradeira cena final do filme, embalada pela
música. Cássia, assim como Piaf, provavelmente não
se arrependia de nada. Edith Piaf foi a maior
cantora popular da França.
Ao vermos o filme a primeira sensação é a de inveja
por não termos uma artista tão urbanamente
decadente, visceral e fatalista. Ok, tivemos uma
Dalva de Oliveira – que se inspirava nela – uma Elis
Regina, uma Maysa, uma Cássia Eller e ainda temos
uma comportada e desintoxicada Angela Ro Ro. Mas a
artista “produzida” em Paris é única. Sua trajetória
marcada por perdas e desacertos, justifica cada copo
que tomava e que lhe roubaria o fígado e a mataria
de falência hepática, agravada por anos de
dependência química aos 47 anos, isso em 1963.
O filme de Olivier Dahan não é linear. Embaralha
fatos, ignora outros, alterna passado, presente e
futuro, sem a menor obrigação de seguir uma
seqüência lógica – embora ela esteja por lá. O filme
é uma grande e belíssima homenagem a um das maiores
artistas francesas do século XX. Causou furor na
França quando lançado e vem arrastando elogios e se
tornou um forte candidato a abocanhar a famosa
estatueta do Oscar.
Tal mérito recai sobre a atriz Marion Cotillard que
impressiona com sua transfiguração e entrega, ela
não interpreta, ela é Piaf. Assim como aconteceu com
Helen Mirren (A Rainha), Nicole Kidman (As Horas) e
Philip Seymour Hoffman (Capote) - entre outros – a
academia adora premiar atores que se transfiguram
para interpretar personagens reais. Em Piaf, eles
encontrarão motivos de sobra.
Piaf (pardal em francês) passou sua infância
dividida entre a mãe decadente que cantava nas ruas
para sobreviver, o pai autoritário e acrobata que a
obrigou a vagar com uma trupe de circenses e uma avó
cafetina que não a reconhecia como tal, dona de um
bordel, permitia que as prostitutas tivessem contato
com a pequena garota. Curiosamente - ou não – desde
pequena Edith viveu flertando com a decadência.
Não há toa cresceu “imitando” a mãe, sendo impessoal
como o pai e despegada, afinal Piaf nunca pode ter
nada de concreto. Descoberta na rua, Piaf se torna
uma grande e impulsiva cantora, que com seus olhos
expressivos, seu corpo mignon e sua voz potente
encantava os que a ouvia.
Impossível não se comover com o filme. Simplesmente
porque a história e a arte de Piaf se misturam, numa
macabra simbiose que a fez despencar em cena, numa
de suas ultimas apresentações públicas. Geniosa,
generosa e intensa, Piaf teve sua vida arrasada com
a morte do grande amor de sua vida, o boxeador
Marcel Cerdan. Tal relação resulta numa das mais
belas cenas do filme, onde poesia, cinema e
realidade se misturam para enfatizar o(s) grito(s)
de dor, originado pela perda do amor.
Piaf é programa obrigatório. Intenso e emocional,
sem ser piegas ou maniqueísta, a história de Edith
Piaf vêm a tona sem maneirismos. Dahan se apropriou
de sua história e a transformou em belas seqüências.
Antes de reverenciar o mito, nos brinda com uma
interpretação impagável e incontestável de uma
artista que nunca se enquadrou, viveu solta num
sistema que a acolheu, graças ao dom de cantar,
concedido pelos deuses.
O filme no conecta com a utópica e necessária visão
do artista que foi consumida pela arte e fez dela
seu alimento. Para ter em casa e rever, assim não
esqueceremos os predicados que compõe o “forro” de
uma grande artista. Edith Piaf – Um Hino ao Amor é
inesquecível.
Ficha Técnica:
Título Original: La Môme
Gênero: Drama
Duração: 140 min.
Ano: França/República Tcheca/Inglaterra - 2007
Distribuidora: Europa Filmes
Direção: Olivier Dahan