CRÍTICA - O TEMPO QUE RESTA

Crítica Especial do Filme "O TEMPO QUE RESTA"   
por Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema -
e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br
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O TEMPO QUE RESTA  -  (Foto Divulgação)

UM TRIBUTO AO FIM

CRÍTICA - O TEMPO QUE RESTA - O tema da finitude da vida, não é algo muito agradável. Sabendo que iremos morrer e que tudo virará pó e perderá o significado é triste e por vezes apavorante; tanto esforço para quê? se no final, não sobrará nada. Encarar este tema e refletir sobre ele é tarefa para poucos. Estamos tão atrelados ao cotidiano, ao materialismo e ao consumismo desenfreado que parar para pensar o que estamos fazendo com a vida que nos deram, chega a ser supérfluo.
Condensado em 85 minutos, o novo filme do cineasta francês François Ozon ( Sob Areia(00), 8 mulheres(02), Swimming Pool(03) - Á beira da piscina), propõe um mergulho no tema, com tanta delicadeza e sutileza, que ás possíveis dores provocada pelo tema, é sublimada em O TEMPO QUE RESTA.
Um fotografo de 30 anos, arrogante, bem sucedido e egoísta, descobre que está com um tumor maligno em fase de metástase (momento em que as células cancerígenas se alastram pelo corpo). Sabendo do inevitável fim, Romain (Melvil Poupaud) rejeita a quimioterapia e o consolo dos que lhe são próximos e parte só na jornada rumo ao seu fim.
Digo isso porque Romain, rejeita a ajuda do namorado, não avisa os pais e se afasta do emprego. A única que compartilha do seu "segredo" é a avó, interpretada por Jeanne Moreau. Uma das cenas mais bonitas do filme é justamente o diálogo dos dois; neto e avó compartilham de um fim próximo. O sarcasmo desmedido do neto é tão sincero que não há como não compartilharmos de seus sentimentos.
É daqueles filmes que nos comove sem fazer melodrama barato. A realidade está lá sendo estampada na nossa cara, descendo pela nossa garganta suavemente, sem o menor pudor. No mês em que completo 30 anos, ver tal filme é motivador. Egoisticamente pensamos : - Ufa! ainda tenho tempo.
Segundo filme da trilogia que o diretor - do ácido e impagável Sitcom - Nossa Linda Familia - pretende realizar sobre o tema da morte.O TEMPO QUE RESTA (Le temps qui reste) é antes de tudo um tributo ao tempo, um chacoalhão em nós que não valorizamos nosso tempo e nossas vidas. É piegas! Mas tem como ser de outra forma?
Quando notamos o personagem se confrontando com a criança que outrora fora, é tão aflitivo que chegamos a relembrar - mesmo na casa dos 30 anos - das vezes que paramos para rememorarmos nossa infância. Numa nostalgia que nos é comum e por vezes necessárias.
As várias mortes que o destino nos impõe em vida está sublinhado no filme de Ozon. Como reagirmos ou nos deparamos com elas, só diz respeito a nós. Assim como avistar o mar, as possibilidades de contemplação deste filme são diversas. Ao me deparar com o fim do filme, relembro as palavras do autor Caio Fernando Abreu (1948 - 1996): Que seja doce, que seja doce, que seja doce.
Nas palavras de Ozon: "É comum as pessoas dizerem que os velhos voltam à infância. Olhar a morte é um pouco como se confrontar a si mesmo como criança. (...) Queria que fosse tudo muito simples e despojado, sem heroísmo e nem desespero. É uma situação visceral, mas como se vive nessas condições? Quais as decisões que é preciso tomar?". Que seja doce o nosso fim, que tenhamos complacência para contemplarmos esse momento com lucidez e dignidade.
Boa viagem!

Título Original: Le Temps Qui Reste
Gênero: Drama
Duração: 85 min.
Ano: França - 2005
Direção: François Ozon.
Roteiro: Michael Seitzman


Cena do Filme "O TEMPO QUE RESTA" (Foto Divulgação)

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Crítico: Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema - e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br

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