CRÍTICA - O SACRIFÍCIO:
Antes de apagarem-se as
luzes da sessão, tive um estalo, e pensei no que
pior eu tinha visto no cinema nos últimos tempos,
antes de sequer ter começado os trailers (“os
extintores estão localizados em pontos
estratégicos”) já tinha chegado a conclusão: o
blockbuster “A Ilha” e a refilmagem “Poseidon”.
Quando as luzes voltaram a ascender anunciando o fim
do filme, eu tinha uma certeza, o navio e os clones
tinham tomado um coro e perdido suas presidências,
“O Sacrifício” é a pior coisa que meus olhos tiveram
o desprazer de ver nos últimos anos.
Refilmagem (meu Deus, outra não) do cult inglês “O
Homem Espantalho” de 1973, a nova versão dirigido
por Neil LaBute e estrelado por Nicolas Cage, é uma
completa besteira, desinteressante, sem dizer para o
que veio, repleto de furos e personagens
desnecessários, 40 milhões de dólares jogados pelo
ralo.
Na história, se é que tem alguma, um policial vivido
por Cage, após um experiência traumática, se afasta
por um tempo do emprego, e perto de voltar a ativa
recebe uma carta de uma ex-namorada pedindo sua
ajuda pois sua filha tinha desaparecido. Ao melhor
estilo escoteiro, o policial então parte para a
comunidade particular de Summersisles, e lá começa a
perceber que o desaparecimento da garotinha é um
pouco mais complicado.
Como se pode perceber, a história principal não
deixa a desejar, mas o que poderia repetir o sucesso
do original, se mostra perdido na tentativa de fazer
um filme para agradar ao grande público.
Em 73, o filme mostrava um comunidade que prezava
uma liberação sexual, baseada em um religião pagã,
algo que chocou o público, talvez por isso agora a
nova versão opte por um sociedade dominada pelas
mulheres que só se preocupam com a colheita, e usam
o homem apenas para fins de procriação, muito menos
polêmico.
É óbvio que nessa investigação o policial acaba
descobrindo que há muito mais coisa por trás dessa
fachada, e o roteiro peca em não surpreender ninguém
nesse caminho, tudo é meio sem graça, arrastado,
além parece esquecer de criar um clima que um filme
desse tipo necessita, teimando em criar situações na
cabeça do protagonista que não acrescentam nada ao
desenvolvimento da história, você não sente um clima
de mistério rondando nada e é capaz de até adivinhar
o que vem na próxima cena.
Não se enganem pelo clima imposto pelo trailer, nada
de aparições fantasmagóricas, vá lá uma sombrinha
correndo aqui outra ali, e o protagonista,
burramente, indo sempre para o lado errado.
Mas o que assusta realmente no filme é o como você
se sente idiota vendo ele, a alergia a abelhas é uma
piada, qual o probabilidade do protagonista ter essa
alergia e se meter em uma ilha que tem como um dos
principais produtos a produção de mel, é óbvio que
uma hora ou outro ele vai parar no meio das colméias
e ter problemas.
E isso é só a ponta do iceberg, o roteiro ainda
teima em povoar o filme com situações e personagens
totalmente desnecessários.
Em certo ponto do filme o protagonista salva um
morador da ilha de uma avalanche de toras, para
depois.... para depois nada, ele sobe em sua
bicicleta e vai embora. Em outro momento ele acorda
em seu quarto e escuta uma reunião a respeito de uma
tal vinda do Homem de Palha, vai dar uma olhada e vê
duas velhas cegas e gêmeas, com uma aparência
assustadora, que mais tarde....nada esbarra com elas
mais tarde no filme só.
E como que ele não fica interessado em um papo tão
esquisito quanto a chegado do Homem de Palha? Ele
simplesmente ignora a informação e continua sua
investigação.
A existência de gêmeas na ilha para todo lado é
outro ponto que me incomodou, tudo bem é até
explicado, mas do jeito que é mostrado um par de
gêmeas em cada frame do filme, você espera alguma
situação, mas o que acontece é só isso mesmo, um
monte de gêmeos esbarrando pela tela.
Até o tal acidente no inicio do filme você acha que
vai ter alguma influencia na história, mas é
totalmente esquecido, isso por que o roteiro logo
depois do mesmo, deixa claro que o policial está
obcecado por ele, e pelas vítimas, mas ao primeiro
sinal, deixa o assunto para traz e fica só lembrando
dele.
Eu não gosto do Nicolas Cage, acho que ele faz muito
mais besteiras que ótimos trabalhos (quando os faz é
perfeito, isso se deve falar), e nesse seu novo
filme eu cheguei até a gostar de sua atuação, sutil,
criando um personagem até certo ponto complexo, mas
diante do resto pútrido do filme ele vai para o
mesmo buraco, o mesmo se pode falar da veterana
Ellen Burstyn, que aparece como a líder da
comunidade, tão supérflua quanto todo resto, uma
pena.
“O Sacrifício” só acerta em um ponto, no nome,
realmente é um sacrifício vê-lo até o final.
Título Original: The Wicker Man Gênero: Suspense Duração: 102 min. Ano: 2006 Distribuidora: Warner Bros. Pictures/California
Filmes Direção e Roteiro: Neil LaBute