CRÍTICA -
OS ESTRANHOS:
A maior surpresa de “Os
Estranhos”, para mim, é esse filme de terror dar
certo, já que, sem cerimônia nenhuma, não passa de
um pastiche, muito bem feito isso é verdade, de um
punhado de obrigações do gênero. E talvez, seja esse
mesmo seu grande acerto, como uma colcha de
retalhos, e não uma cópia.
É lógico, que isso dá uma idéia depreciativa a
produção, coisa que precisa ser afastada
rapidamente, já que, muito, mas muito mesmo, pelo
contrário, o filme de estréia do jovem texano Brian
Bertino, consegue fazer o que muitos vem,
preguiçosamente, tentando em Hollywood: fazer um
filme de terror, original, que preste.
Não que original seja a palavra chave, já que é
impossível não olhar para “Os Estranhos” e não
enxergar o dedinho de “Jogos Perigosos” de Michael
Haneke e até, de um mais recente filme francês
chamado “Ils” (no Brasil lançado direto para DVD
como “Eles”), ambos extremamente semelhantes, tanto
em sua estrutura narrativa, quanto nos pilares de
sustentação de suas tramas, com seus casais, ou
família, no caso do de Haneke, abordados por figuras
misteriosas que, sem qualquer razão aparente,
decidem transformar suas vidas em um inferno.
O que “Os Estranhos” faz de diferente, é aproximar o
espectador dos algozes do filme, do mesmo jeito que
o terror vem fazendo a décadas, com suas máscaras
sem expressão e seu andar calmo, sempre espreitando
suas vítimas, como se controlassem exatamente todas
variantes de uma equação mortal e inevitável. E é
exatamente esse receio do inevitável que o diretor,
e roteirista, em ambos ótimos trabalhos, consegue
explorar ao máximo.
Primeiro de tudo, dá a dupla de personagens vividos
por Liv Tyler e Scott Speedman, um extinto de
sobrevivência digno de última vítima de “Sexta-feira
13”, com aquela impressão de que eles, simplesmente,
só não querem ser isso mesmo, vítimas. E é nesse
momento que o filme ganha o espectador, já que ele
percebe o quanto tudo aquilo é inútil diante do três
mascarados que resolvem, simplesmente botar terror,
no casal. Isso mesmo, aterrorizar, já que, em grande
parte da trama, o trio está ali presente apenas
marcando sua presença, forçando portas, desligando
luzes e mais uma porção de coisas que mataria
qualquer um de medo.
Bertino não deixa o filme se transformar em um
slasher qualquer, e aposta em criar esse clima todo
que envolve a trama, um incômodo perturbador que,
associado a uma tensão crescente, deixam-no
sufocante ao extremo. É com essas ferramentas
narrativas em mãos, que o diretor acaba fazendo o
ótimo trabalho de reciclar idéias e mais idéias,
como uma câmera que finge ser mexida, mas na
verdade, é muito certeira e forte em seus
enquadramentos, sempre com um composição repleta de
informação, manipulando o olhar do espectador e,
deixá-o sempre com a aquela expectativa do bote, do
susto, que não acontece naquele momento, mas sim
logo em seguida. Nada que nunca tenha sido feito,
apenas mais do que está bem esquecido.
O diretor ainda acerta na mosca quando cria um filme
sutil, onde os tais estranhos perambulam pelos
planos de fundo das cenas (mais uma vez nada de
novo, só esquecido lá pelos anos 80), dando sempre
aquela vantagem para o espectador em cima do
personagem, já que ele sabe muito mais do que quem
está na tela, ansiando por ele, querendo tirá-lo do
inevitável.
É óbvio que, em certos momento “Os Estranhos” acabam
tendo que cair na velha fórmula do casal se
separando e a mocinha se transformando em uma vítima
clássica, mas ainda assim, exala um frescor devido a
uma situação que, no fim das contas, acaba sendo
pouco explorada no cinema, aquele medo intrínseco do
desconhecido. Em certo momento do filme, vendo um,
do trio de estranhos, parado encarando sua janela o
personagens afirma que “as pessoas não ficam
simplesmente paradas olhando para alguma coisa, elas
devem querer algo”, bem mais tarde, os próprios
agressores respondem a essa afirmação (Aqui pode ser
que tenha um Spoiler!) com uma razão para o terror,
“por estarem em casa”, algo ilógico, frio e que
incomoda por não se mostrar racional diante dos
padrões cinematográficos, mas que no fim das contas
acaba por se mostrar uma ótima razão para um, ótimo,
filme de terror. (Fim do Spoiler... e do texto)
Ficha Técnica
Título Original: The Strangers
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 85 minutos
Ano: (EUA): 2008
Distribuidoras: Universal Pictures/Paris Filmes
Direção e roteiro: Bryan Bertino