CRÍTICA - Ó, PAI, Ó - O primeiro a se
interessar pela história foi Caetano Veloso, projeto
arquivado, ressurgiu pelas mãos de Monique Gardenberg (Benjamim/2004). É a primeira versão de
uma história encenada no palco pelo Bando de Teatro
Olodum, grupo de onde saiu Lázaro Ramos, seu mais
célebre ex-membro, também produtor do filme.
O texto de Márcio Meirelles de nome homônimo foi
montado pelo grupo em 1992. A ação se passa num
cortiço no pelourinho, no último dia de carnaval,
onde moram diversos "tipos" de Salvador. Caricaturas
e clichês cinematográficos não são as melhores
opções de marketing para mostrar o que a Bahia
passui.
Quem já viu o Bando no palco, sabe que o discurso do
grupo é mais ácido e sacal do que o filme mostra. Há
comicidade, politicagem, conflitos e muito
planfletarismo que no teatro resulta em protesto. Já
no cinema.....
Na sessão que acompanhei um casal "branco" atrás,
ria e fazia chacota de tudo o que acontecia no
filme. Da nudez de Rosa (Emmanuelle Araújo) aos
personagens gays, as danças e até os globais Wagner
Moura e Lázaro Ramos, foram motivos de comentários
depreciatórios.
Não há crítica social no filme - o que contradiz o
discurso do grupo - apenas demonstrações de tipos
esteriotipados. Do mecânico fogoso que aspira ser
cantor (algo que lembra Toni Garrido em "Orfeu" de
Cacá Diegues, na cena em que canta e toca violão)
passando pela baiana do acarajé, a religiosa (a
ótima Luciana de Souza) - que vê no carnaval uma
manifestação do diabo, a mau falada, a parteira,
entre outros. Os famosos que lotam o carnaval, o
falso candomblé, greve dos professores, guias
turísticos, a violência das ruas, o fato dos gringos
curtirem bunda e a americanização da linguagem do
povo para poder receber os estrangeiros e até um
catador de latinha credenciado transitam com
superficialidade pelo filme.
A graça reside no dialeto peculiar dos baianos que
resulta em tiradas rápidas e engraçadas. O didatismo
do filme "Use Camisinha" e a frase dita por Daniela
Mercury "Para o Nordeste o Brasil vira as costas",
não tem nenhum propósito na trama além de soar como
Déjà vu. Estamos bem cientes de tais problemas.
A direção de Ganderberg só faz reverenciar um povo e
um grupo que merecia um melhor tratamento, e o
cinema carece de outros artistas que não se
restrinja á Wagner Moura e Lázaro Ramos.
Ó pai, ó, vai virar seriado em 2008 e pretende
ampliar os conflitos do filme. Márcio Meirelles
escreveu uma trilogia para retratar os conflitos que
derivaram da iniciativa de Antônio Carlos Magalhães
em tombar os edifícios do pelourinho e expulsar seus
moradores. "Essa nossa praia" e "Bai, bai, Pelô",
junto com "Ó pai, ó" serão explorados pela TV Globo.
É muito difícil que a Globo recrie os problemas da
capital baiana, com a eficácia com que fez com
Cidade dos Homens. Uma pena. O grupo e os conflitos
que os permeiam, mereciam ser retratados com mais
dignidade.
Título Original: Ó Paí, Ó Gênero: Comédia Duração: 98 min. Ano: Brasil - 2007 Distribuidora: Europa Filmes Direção e Roteiro: Monique Gardenberg
Baseado na peça teatral de Márcio Meirelles Site Oficial: www.opaio.com.br