CRÍTICA - O EX-NAMORADO DA MINHA MULHER:
Isso é fato, qualquer
comédia que em sua história conta com algum
personagem deficiente, já antes de estrear faz
barulho, mas a verdade é que na maioria das vezes
esse tipo de humor negro, quando bem feito dá muito
certo, e os irmão Farrely estão ai para provar isso,
desde o menininho cego tapeado com o passarinho
morto em “Debi & Loide”, passando por qualquer outro
deles, que sempre conta ou com um irmão com problema
mental em “Quem Vai Ficar com Mary” e até os irmão
siameses em “Ligado em Você”.
O segredo talvez seja cercar a situação de um
absurdo tão grande que isso não ofenda tanto quanto
pode parecer, fazendo com que seja impossível você
não rir desse tipo de piada, já que ela vem
acompanhada de qualquer outra insanidade do próprio
roteiro.
De certo modo, o trailer de “O Ex-Namorado da Minha
Mulher” mostrava que esse poderia ser o caminho que
o ele tomaria, mas resolve tomar um outra, quase se
levando a sério e dando de cara com o muro.
Dirigido pelo desconhecido Jessé Perete, o filme
conta a história de Tom Reilly (Zach Braff) e Sofia
Kowalski (Amanda Peet), ele pulando de emprego em
emprego e ela uma bem sucedida advogada, mas tudo
muda quando o primeiro filho nasce e o marido acaba
aceitando um cargo na agencia de publicidade do
sogro. Chegando na nova cidade, Sofia começa a
descobrir que a vida de mãe em tempo integral pode
não ser o que ela procurava, enquanto o marido, em
seu novo trabalho tem que enfrentar a disputa cega
com o tal personagem do título, Chip Sanders (Jason
Bateman) que mesmo em uma cadeira de rodas consegue
fazer a vida do novato um inferno.
Tirando o fato do grande oponente do filme ser um
deficiente físico, o resto do filme é como milhões
de outras comédias românticas, com o personagem
principal no final tendo que disputar o coração de
sua própria mulher com um personagem sem escrúpulos
que faz todo mundo acreditar que o bonzinho da
história não presta. Mas a cadeira de rodas teria
que mudar tudo isso, e ainda tomar o cuidado para
não ofender ninguém, isso, o roteiro de David Guion
e Michael Handelman faz, só esquecem que essa
situação teria que ser o centro do humor do filme.
Além de demorarem um pouco demais para colocarem os
personagens na ação, em certos momentos do filme
praticamente esquecem da existência do personagem, e
descambam para um drama quase existencialista (“não
sei se essa é minha vida”, “meu lugar não é aqui”),
chato e que parece não fazer parte do mesmo filme.
O filme ainda peca grandiosamente em ser covarde,
Chip Sanders é, como dizem, mau que nem o Pica-Pau,
maquiavélico, egocêntrico, inescrupuloso e sem dó
nenhuma do personagem central, resumindo, um inimigo
nato, mas que no final é quase redimido, como que
tentando mostrar que ele nunca poderia ser
cadeirante e mau ao mesmo tempo.
É como se o filme tentasse se livrar de qualquer
piada de mau gosto que possa ter cometido, tentando
mostrar que a existência de uma deficiência física
redimisse a pessoa de qualquer maldade que
possuísse, como se dissesse: (Spoiler) “olha, vocês
estão vendo, ele não tem problema nenhum, portanto
não estamos usando sua deficiência física para que
ele seja mau e sim o contrário”(Fim spoiler), mas a
verdade é que isso quebra um pouco o clima do filme,
já que o espectador já se acostumou a adiá-lo não
por ser deficiente, e sim por ser uma pessoa
facilmente odiável.
“O Ex-Namorado da minha Mulher” só não se afunda
mais pelas ótimas atuações, principalmente de Jason
Bateman, cínico e caricato e Amanda Peet, linda e
conseguindo passar uma sinceridade incrível,
principalmente quando se mostra entediada.
Nesse assunto ainda só é preciso lembrar do
desperdício de Mia Farrow, no papel da sogra, que
claramente poderia elevar um pouco o filme, já que
no pouco que ela aparece mostra uma ótima
personagem, sempre com um tom esquizofrênico e
amalucado, mas que se resume a duas ou três
aparições no filme inteiro.
Com certeza quem entrar no cinema não vai sair
ofendido por qualquer piada, pelo contrário vai até
se divertir um pouco, mas com certeza vai se
decepcionar com um final politicamente correto
demais, que até incomoda.
Ficha Técnica Título Original: The Ex Gênero: Comédia Duração: 90 min. Ano: EUA - 2007 Distribuidoras: The Weinstein Company / MGM /
California Filmes Direção: Jesse Peretz Roteiro: David Guion e Michael Handelman