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RESENHA CRÍTICA DO FILME "O CHEIRO DO RALO"   
por Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema -
e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br
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FILME O CHEIRO DO RALO

 FILME O CHEIRO DO RALO   FILME O CHEIRO DO RALO
O CHEIRO DO RALO  -  (Foto Divulgação)

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CRÍTICA - O CHEIRO DO RALO -  Depois de “A concepção” (2005), O Cheiro do Ralo é o filme nacional mais provocativo e ousado da temporada. Diferente de tudo o que já se viu nas telas nacionais, Heitor Dhalia dirige um filme que conta a história de Lourenço (Selton Mello), homem solitário que trabalha com compra e venda de objetos usados e que mantém uma relação bastante peculiar com seus clientes. Lourenço faz uso do dinheiro para poder se impor sobre as pessoas. “O poder é Afrodisíaco”, diz Lourenço em dado momento, tal frase retrata a força destrutiva que há no dinheiro e no poder.

Dizer que o filme de Dhalia é apenas uma analogia aos homens que detêm o “poder” – e neste caso seja ele qual for – é reducionista. O Cheiro do Ralo é um retrato dos dias atuais. Da fixação do brasileiro por bundas, a miséria que o ser humano está exposto por falta de grana, a obsessão por objetos e a desestrutura familiar. Mutarelli criou um personagem que se faz tão pertinente quanto surreal. Tudo muito bem pontuado pela sagacidade do roteiro escrito por Marçal Aquino.

Não é possível acharmos um Lourenço nas ruas, mas suas características estão facilmente distribuídas entre a população. Acido, cru, debochado, non sense, o filme narra o dia a dia do homem que coisifica tudo, compra tudo e todos e não se importa de humilhar seu semelhante. A platéia ri, porque a sinceridade e aspereza do personagem é tão cortante que chega a ser indigesta. E percebemos que não estamos acostumados com a sinceridade alheia.

A falta de dinheiro, alegado pela produção para a concepção do filme, resultou em algo positivo. O filme tem uma bela direção de arte, figurinos criveis, atores interessantes, poucas e eficientes locações e trilha sonora inquietante. É impressionante como a platéia cria uma empatia com o personagem de Selton Mello, o que faz toda a diferença. Lourenço é antes de tudo um ser solitário, que cria em sua mente doentia uma imagem fragmentada do pai que não conheceu, do amor que não se constrói para ele da forma como imagina e da relação dúbia que há entre dinheiro e poder.

O Cheiro do Ralo é antes de tudo uma provocação sadia e bem feita. Ousado e bem acabado como o bom cinema deve ser. Não é a toa que foi escolhido como o melhor filme da Mostra Internacional de Cinema de 2006 (público e crítica), e no Festival do Rio 2006, levou os prêmios de melhor filme da crítica e de ator, além de ter representado o Brasil no Sundance Film Festival.

Depois da chatérrima adaptação do clássico de Dostoievski, Crime e Castigo, que resultou em Nina (2004), Dhalia mostra que chegou para fazer diferença no cenário cinematográfico nacional. O Cheiro do Ralo é irresistível, confira.

Título Original: O Cheiro do Ralo
Gênero: Comédia
Duração: 112 min.
Ano: Brasil - 2007
Distribuidora: Filmes do Estação
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli
Site Oficial: www.ocheirodoralo.com.br

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Crítico: Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema - e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br

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