RESENHA CRÍTICA DO FILME
"O LEITOR"
por Rodolfo Lima -
Jornalista, ator e crítico de cinema -
e-mail:
dicaspravaler@yahoo.com.br
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O LEITOR
- (Foto Divulgação)
CRÍTICA - O LEITOR - Filme bom é aquele
que te tira da cadeira, te revolve do seu estado
passivo de espectador e o obriga a involuntariamente
reagir para a tela do cinema – ou da TV – no escuro,
por vezes sozinho e/ou pagando o mico.
“O Leitor” me provocou a ponto de não me conter na
cadeira. Só não fui embora do cinema, pois estava
acompanhado. Tive que suportar o filme até o fim.
Ruminando minha irritação diante a covardia do
personagem Michael interpretado por David Kross e
Ralph Fiennes.
Dirigido por Stephen Daldry – o mesmo da “Billy
Elliot” e “As Horas”, dois filmes dos quais sou fã.
O filme é baseado no livro de Bernard Schlink e
conta à história da paixão de Hanna (Kate Winslet) e
Michel. Ela mais velha do que ele. Ele um
adolescente em crise com a família que descobre nela
a auto estima que os parentes não lhe oferece.
“The Reader” oferece um duplo sentido. Pode-se ler
como “O Leitor” - como foi traduzido – e como “A
Leitora”, o que foi prontamente questionado pelo
amigo que me acompanhava.
Ela analfabeta recebia o garoto todos os dias após
as aulas dele, para que o mesmo lesse para ela
romances. Histórias essas que a levavam das
lágrimas, ao riso e a cara de surpresa ao ver um
mundo novo sendo relevado a sua frente. Quem é o
verdadeiro leitor? Aquele que lê ou aquele que
vivencia o que está sendo lido.
O que parecia ser apenas uma história de amor sobre
pessoas com idades diferentes toma proporções
dramáticas, quando o menino – agora estudante de
direito – encontra Hanna no banco de réus, acusada
de ser uma das funcionárias de Hitler, portanto
culpada pela morte de cerca de 300 mulheres,
queimadas.
Os valores humanos são postos em cheque quando vemos
que o garoto recusa-se a defender Hanna, que acusada
pelas “amigas”, assume o crime sozinha. Michael sabe
que Hanna é analfabeta e que, portanto seria
impossível ter escrito num caderno os relatos
diários de sua função. Envergonhada, Hanna não
assume a ignorância e paga o preço sozinha, pelo
crime de ter trabalhado para um dos maiores
assassinos da história.
Nesta altura do filme eu já me revirava na cadeira
intensamente, incomodado com a passividade de
Michael. “O Leitor” tem a qualidade de ir inquietado
e confrontando o expectador até o final. Não há
clichês, não há sentimentalismo barato e não há
complacência para Hanna e Michael. Tudo é duro, seco
e denso. É um desafio, assistir ao filme de Daldry.
Não julgar os personagens, principalmente o de
Michael é uma tarefa árdua, ainda mais se você for
daqueles que como eu, adora “discutir” sobre o filme
no final da sessão. Trocando olhares, experiências,
sensações.
Como “leitor” daquela história, digeri muito mal o
desenrolar dos fatos. Já o amigo que me acompanhava,
saboreou sem problemas a história de amor entre
Hanna e Michael que resvala na época do nazismo e
oferece muito mais do que uma leitura simplista.
É um filme difícil. Não sei se o compreendo, dado o
choque de opiniões no final. Mas, como – para mim –
filme bom é aquele que te perturba, te tira do
estado comum, ok, se você for como eu, “O Leitor” é
um prato cheio.
Winslet está impagável como Hanna e sua
interpretação lhe valeu o Oscar e o Globo de Ouro
pelo papel. Hanna é daquelas mulheres condicionadas
pelo sistema, que arrebanha suas ovelhas e as fazem
pagar caro, pelos erros alheio.
A colaboração voluntária desta mulher nos campos de
concentração é o que está em julgamento. Quantos não
acataram as ordens de Hitler, sem ter a noção de
crueldade ao qual estavam se submetendo? Até que
ponto os carrascos do holocausto poderiam ter
impedido o genocídio?
Essa “responsabilidade moral” é o que provoca –
também – o julgamento do expectador. Culpar Hanna ou
não? Eis uma das questões – pertinentes – do filme.
Como era analfabeta, Hanna sempre escolhia as mais
novas para que lessem os romances para ela, antes
que as encaminhassem para a morte. Uma belíssima
metáfora, para uma personagem que fugiu do amor
adolescente e acabou metaforicamente tentando matar
esse amor, em cada adolescente que encaminhava para
a morte.
Hanna sobreviveu à própria ignorância, aos anos
enclausurada, ao rótulo de assassina. Só não
sobreviveu a perda do amor, esse sim o grande vilão
de sua história.
Ficha Técnica
Título Original: The Reader
Gênero: Drama
Duração: 124 min.
Ano: EUA/Alemanha - 2008
Distribuidoras: The Weinstein Company / Imagem
Filmes
Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado em livro de Bernhard
Schlink
FILME:
Ótimo:
Bom:
Regular:
Crítico: Rodolfo Lima
- Jornalista, ator e crítico de cinema - e-mail:
dicaspravaler@yahoo.com.br
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