CRÍTICA - MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA -
“Meu Ódio Será Sua Herança” de Sam Peckinpah é um
marco no western, reiventou o gênero através da
exploração de uma temática crua e sem glamour e de
sua violência estilizada muito antes de “Os
Imperdoáveis” de Clint Eastwood, outro filme que fez
o mesmo pelo gênero.
Sam Peckinpah foi tido como um diretor “maldito” por
Hollywood, alcoólatra, imprevisível, quase sempre
estourava em muito seu orçamento e os prazos de
filmagem, fez alguns filmes de sucesso e muitos
fracassos de bilheteria. Por causa de “Meu Ódio Será
Sua Herança” teve que conviver com a avidez da
audiência e dos produtores pela violência em seus
filmes, quando na verdade Peckinpah queria retratar
os dramas humanos pelos quais passou na infância.
Suas qualidades iam muito além da exploração da
violência estilizada, foi um meticuloso construtor
de personagens, a riqueza com que os construía
dramaticamente e conseguia fazer com que os atores
os representassem com a motivação correta pode ser
apontada como uma de suas melhores qualidades.
O gênero western no cinema pode ser dividido em 3
fases:
- a primeira retrata a conquista do oeste, a luta
contra os índios, o desbravamento da terra.
- a segunda fase trata da formação da nação, a
colonização, as pequenas comunidades e as suas leis.
- a fase final retrata a chegada da modernidade com
as construções das ferrovias.
O filme pertence ao final da última fase, onde já
estão estabelecidas as leis e a força policial em
todo o território. A estória retrata um bando de
fora-da-lei que já tiverem seu auge e estão sofrendo
com as mudanças, além de enfrentarem o
envelhecimento, seu modo de vida já não pode mais
existir nessa nova sociedade. O bando é liderado por
Pike Bishop (Holden) e os mercenários que os caçam
são liderados por Deke Thornton (Ryan) um antigo
membro do bando de Pike, após um fracasso Pike
planeja o golpe final para finalmente poderem
abandonar esse estilo de vida.
O filme é mais reconhecido pelos recursos utilizados
para a estilização da violência, principalmente na
cena do duelo final, Peckinpah transforma o filme
numa opereta, com vários personagens muito bem
coreografados, câmera lenta e uma sanguinolência até
então inédita nas telas.
O que mais chama a atenção para o filme é a
construção dramática dos personagens, cada um tem
características muito bem definidas e é nas cenas de
interações e de conflitos entre cada um que o filme
ganha conjunto. Essas cenas que se destacam no filme
principalmente pela ambigüidade e pela exposição das
fraquezas são cenas memoráveis que se mantém na
memória porque carregam simbolismo e ambigüidade.
Como exemplo pode ser citada a cena na casa das
prostitutas antes do confronto final, eles acordam
de manhã e se recusam a ser complacentes com as
mulheres, recusando a pagar o que lhe haviam
combinado e mesmo sabendo que em seguida caminharão
para a execução, apenas se preparam em silêncio para
partirem. Eles se juntam ao outro membro do bando
que estava do lado de fora os esperando e começam a
caminhar com uma altivez magnífica, a duração
estendida da cena nos faz perceber que estão
caminhando para a morte.
O filme está permeado de cenas magníficas além
dessa, tais como a cena inicial das crianças
brincando com formigas e escorpiões, o bando caindo
do cavalo descendo o morro de areia, o velho que
tira sarro deles quando descobrem que foram
enganados, entre muitas outras mostram porque esse
filme vai muito além de sua violência intrínseca e
se torna uma obra-prima do gênero.
Ficha Técnica Título: Meu Ódio Será Sua Herança
Título Original: The Wild Bunch
Direção: Sam Peckinpah
Atores: William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan,
Edmond O'Brien, Warren Oates, Jaime Sanchez, Ben
Johnson, Emilio Fernandez, Strother Martin, L.Q.
Jones.
Áudio: Dolby Digital 5.1, Dolby Digital 1.0
Legendas Português, Inglês, Espanhol
Formato da tela: Letterbox
Ano de produção: 1969
País de produção: Estados Unidos
Duração: 145 min.
Distribuição Warner Home Video
Região 4