CRÍTICA - INVASORES:
Depois de uma seqüência
caustrofóbica, com a câmera colada na personagem de
Nicole Kidman que, desesperadamente, revira
prateleiras a procura de algo que a faça ficar
acordada, rodeada de um ensurdecedor barulho de uma
porta sendo forçada, a cena é cortada para o espaço,
onde um ônibus espacial descendente corta o logotipo
do filme. Assim começa “Invasores”, e assim também
já é mostrado o que se esperar do filme.
Remake de um dos filmes mais emblemáticos da
história do cinema, “Vampiros de Almas” de 1956, o
que essa nova versão faz, é jogar no lixo todo
potencial que o clássico carregava nas costas.
Na verdade, “Invasores” é o terceiro filme a levar
para tela o clássico livro de Jack Finney “The Body
Santchers” de 1955, mas é o primeiro a andar na
contra mão intelectual que a obra possibilita. O
primeiro, dirigido por Don Siegel um ano depois do
lançamento do livro, fazia uma alegoria aos
primeiros anos da Guerra Fria nas Estados Unidos e
uma suposta invasão comunista, onde a perda da
autonomia pessoal, e uma invasão dessas pessoas ao
território americano, representavam claramente um
pensamento recorrente na época.
O segundo, de 1978, “Invasores de Almas” de Phillip
Kaufman, retratava uma era pós Vietnã, recentemente
saída do escândalo de Watergate, onde ninguém
acreditava em seus líderes, tomados por um
pessimismo desesperançado (o final clássico mostra
exatamente isso), onde não se via uma luz no fim do
túnel. Uma seqüência para esse filme, em 1993,
dirigido por Abel Ferrara, transportava a ação para
uma base militar, onde os invadidos se tornavam os
soldados “perfeitos”, cegos pela obediência de um
estado impositor.
Agora, o alemão Oliver Hirschbiegel (do ótimo “A
Queda”) dirige um filme com cara de pasteurizado,
meio comum, que parece não querer possibilitar
espaço para o espectador tentar entender a trama
sozinho, deixando tudo claro demais, esquecendo do
que fez os outros três tão lembrados: a necessidade
do raciocínio.
Após a queda do tal ônibus espacial, que traz
grudado consigo uma substância misteriosa, que
provoca um certo pânico nas pessoas, e desperta nas
autoridades uma preocupação com uma suposta epidemia
causada pelo tal fungo que veio com a nave, em
Washington, Carol Benell (Kidman) é uma psiquiatra
que começa a desconfiar de certas mudanças nas
pessoas, quando uma paciente a conta que seu marido
não é mais seu marido. Com a ajuda do amigo médico,
Ben Driscoll (Daniel Craig), precisa correr contra o
tempo para salvar seu filho.
O roteiro escrito por Dave Kajganich, além de ser
simplório demais, com uma trama exageradamente óbvia
e correta, faz uma péssima escolha ao colocar a
personagem principal tentando salvar o filho,
minimizando o problema, já que ela deixa de se
preocupar com ela mesma e menos ainda com o
salvamento da sociedade. Em um certo momento até
cogita se deixar ser “invadida”, coisa que só não
ocorre pois isso levaria ao sacrifício do filho, que
é imune.
Além de mostrar benefícios demais com a invasão,
como a paz mundial e o fim dos problemas
internacionais, ainda teima em explicar
cientificamente tudo, do funcionamento do
fungo-esporo, até os benefícios da invasão para o
mundo, sempre colocando um personagem a cargo de um
monólogo explicativo.
Mas “Invasores” ainda sofre com um problema maior.
Com o filme finalizado no ano passado, o estúdio não
gostou do resultado final, contratando os irmãos
Wachowski (“Matrix”) para repensarem o filme, o
deixarem mais movimentado. A dupla contratou James
McTeigue (“V de Vingança”) para dirigir algumas
cenas adicionais.
A verdade é que nenhum dos três é creditado no
filme, com isso é difícil saber onde está o dedo dos
pais de Neo, mas fica fácil perceber que em certos
momentos, o filme toma um rumo menos hollywoodiano,
com um ou outro plano mais diferenciado, mais calmo,
onde a câmera se torna uma observadora meio
distante, indiferente, com uma edição que joga com
conceitos de tempo e espaço, com o futuro
acontecendo ao mesmo tempo que o presente, em
lugares diferentes. De outro lado, vómitos no café,
invadidos correndo atrás dos protagonistas ao melhor
estilo “Extermínio”, cenas de ação se prolongando
demais, animaçõezinhas dos glóbulos vermelhos
lutando contra o fungo e um final extremamente
“feliz para sempre”.
Tanto os irmão “matrix” podem ter tido um momento
“cinema europeu”, quanto o cineasta alemão ter sido
fisgado pelo “cinemão pipoca”, de qualquer jeito, o
que se tem é um filme com a impressão de mexido, com
duas caras.
“Invasores” pode até se tornar interessante para os
cinematograficamente infelizes que não viram as
outras adaptações (principalmente as duas primeiras)
que ficarão intrigados com uma trama diferenciada,
mas que, provavelmente, vão repensar isso se caso
forem a busca do que já foi feito três, e muito
melhores, vezes, talvez até chegando também na
conclusão da falta de necessidade dessa nova visão
da obra.
Ficha Técnica
Título Original: The Invasion
Gênero: Ficção Científica
Duração: 93 min.
Ano: EUA - 2007
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Direção: Oliver Hirschbiegel
Roteiro: Dave Kajganich, baseado em livro de Jack
Finney