CRÍTICA: UMA CHAMADA PERDIDA - Mais um remake
de filme japonês. Dito isso, poderia muito bem
encerrar a resenha, pois todo mundo que gosta de
cinema já sabe bem o que significa: suspense
sobrenatural, alguns sustos, dezenas de clichês e, é
claro, o indefectível fantasminha pálido que assola
as imaginações orientais. Além de ser uma versão
fraca do bom filme japonês CHAKUSHI ARI, creio que
também estamos um tanto quanto saturados do estilo
oriental de terror que tem invadido as nossas telas
nos últimos anos. O que era novidade e inovação vai
aos poucos se tornando repetitivo e para piorar a
situação, Hollywood sempre dá um jeito do filme
ficar mais comercial ainda, como se isso fosse
possível...
Neste aqui, a estudante Beth Raymond (Shannyn
Sossamon, de "Regras da atração") perde dois amigos
de forma misteriosa, após receberem uma chamada
telefônica onde seus próprios gritos de morte são
ouvidos, de um futuro bem próximo. Visões
perturbadoras parecem enlouquecer as vítimas, antes
da hora fatal, que acontece exatamente no dia e
horário prenunciados pelo telefonema. Um exorcista
televisivo convence uma outra amiga de Beth, que
também recebeu a ligação, a participar de um
programa ao vivo, mas não consegue evitar sua morte.
Intrigada, ela começa a investigar o motivo da
maldição e descobre que a próxima pessoa a morrer é
sempre escolhida a partir da lista de contatos do
celular da vítima. É então que ela recebe a tal
ligação, é claro, e tem que correr contra o tempo
para descobrir um modo de anular a sentença de
morte. Conta para isso, com a ajuda do policial Jack
Andrew (Ed Burns, de "As aparências enganam"), que
também perdeu a irmã após receber a maldita ligação
no celular. De pista em pista, eles chegam a um
hospital incendiado onde algumas das vítimas haviam
trabalhado, e se vêem às voltas com o passado
nebuloso de uma enfermeira e sua filhinha.
Se você assistiu ao trailler, possivelmente também
foi fisgado pela exuberância da montagem, no melhor
estilo montanha-russa, mas não se engane: UMA
CHAMADA PERDIDA seria um ótimo média-metragem, mas
não tem fôlego para segurar os 87 minutos de
projeção, então se perde em tramas paralelos inúteis
e na inexperiência do novato diretor Eric Valette,
que além de desperdiçar uma boa oportunidade para
homenagear o longa que inspirou o remake, dirigido
pelo seu colega japonês Takashi Miike, ainda se
contenta em fazer um filme óbvio demais, onde todo
mundo sabe exatamente o que vai acontecer a seguir.
Tudo bem, Alfred Hitchcock alcançou fama e prestígio
fazendo exatamente isso, mas é coisa que somente os
gênios conseguem, e esse não é propriamente o caso
do francês Eric Valette.
Em alguns momentos é impossível não comparar UMA
CHAMADA PERDIDA com outro remake oriental, O
CHAMADO, de 1998. A diferença básica é que o
sobrenatural, que antes se manifestava através de
uma fita de VHS, agora aparece na forma de um
celular, cujo toque específico deixa um clima de que
algo terrível irá acontecer, mas quando acontece,
não consegue impactar o espectador, o que é, no
mínimo, frustrante, para um filme de terror. Outra
detalhe mal trabalhado pelo roteiro é a pretensa
fobia que a personagem principal sente por
'olhos-mágicos', uma vã tentativa de fazer com que o
filme tenha uma densidade psicológica, mas que no
final só serve para tornar a trama mais arrastada.
Esperamos sinceramente que o cinema americano dê um
tempo nesses remakes que não acrescentam nada à obra
original, pelo contrário, apenas servem para
reafirmar que estas são bem superiores às cópias, e
para roubar um público que poderia estar assistindo
a bons filmes orientais em DVD.
FICHA TÉCNICA DIREÇÃO: Eric Valette.
ELENCO: Shannyn Sossamon, Ed Burnes, Ed Harris,
Gabriel Byrne, Ray Wise, Azura Skye, Ana Cláudia
Telancon.
ORIGEM/ANO DE PRODUÇÃO: EUA/2008.
DURAÇÃO: 87 min.