CRÍTICA: O NEVOEIRO Se você acha que o novo
filme do diretor Frank Darabont é um terror
tradicional, desses que fazem a delícia dos
adolescentes no mundo inteiro, trago novidades: você
errou feio. A princípio, nada leva a crêr que O
NEVOEIRO será diferente de tantas outras produções
baseadas na quilométrica obra do mestre do terror
Stephen King: numa cidadezinha perdida, uma violenta
tempestade destrói casas e carros, derruba postes de
eletricidade e deixa em pânico pacatos cidadãos que
correm a comprar seus mantimentos no único
supermercado da localidade, antes que o
desabastecimento os deixe sem ter o que comer. De
repente percebem que um estranho nevoeiro desceu
sobre a cidade deixando a todos perplexos. Não é um
nevoeiro comum, e logo eles descobrem que existe
algo de terrível por trás dele.
Tudo muito comum, mas é exatamente aí que o enredo
segue outro rumo, que faz de O NEVOEIRO um filme
diferente de outros filmes com a mesma temática. Ao
invés de basear seu suspense em seres horripilantes
ou sobrenaturais, como de praxe, ele aposta em outro
tipo de monstro, muito mais terrível e tão perigoso
quanto o primeiro: o ser humano.
Sim, os monstros estão lá, por todos os lados: são
tentáculos gigantescos e insetos pavorosos de todos
os tipos, mas nada chega aos pés do terror causado
pelas ações dos grupos que se formam dentro do
supermercado. É nesse meio que David Drayton (Thomas
Jane), um artista que cria cartazes para filmes de
Hollywood, tem que sobreviver e ainda tomar conta do
seu filho Billy (Natan Gamble). As coisas já não vão
lá muito bem, mas ficam um pouco piores quando a
Sra. Carmody, muito bem interpretada por Marcia Gay
Harden, uma fanática religiosa sedenta de poder,
começa a influenciar as pessoas através do medo.
Formam-se então dois grupos antagônicos dentro do
espaço claustrofóbico do supermercado: aqueles que
querem encontrar uma saída para a situação-limite, e
os que pretendem apenas aceitar passivamente a
vontade "divina", que se manifesta através da sua
"enviada", Sra. Carmody. Cercados por terríveis
criaturas e sem saber o alcance real daquele
pesadelo, os habitantes da cidadezinha têm de lutar
pela própria vida.
O diretor Frank Darabont entende perfeitamente o
universo particular de King. Foi com dois filmes
baseados na obra do mestre do terror que ele
conseguiu suas duas indicações ao Oscar de melhor
direção (UM SONHO DE LIBERDADE, em 1995, e À ESPERA
DE UM MILAGRE, em 2000), portanto sabia exatamente
como traduzir em imagens todas as alegorias
imaginadas pelo autor. E ele se saiu muito bem. O
supermercado, que serve de prisão e ao mesmo tempo
de refúgio aos personagens, representa a sociedade
consumista norte-americana e o "American way of life"
que eles tanto gostam de difundir mundo afora; os
"monstros" que cercam o estabelecimento representam
todas as ameaças a esse estilo de vida nos últimos
sessenta anos - os nazistas, os comunistas, os
terroristas e todos os demais "istas" que já
existiram ou ainda virão a existir; e os fanáticos
religiosos, liderados pela Sra. Carmody, representam
a direita ultra-radical dos republicanos, ou seja, o
presidente Bush e seus asseclas, digo, assessores,
que sob o pretexto de defenderem os interesses da
nação, criam guerras, invadem países e matam
inocentes em nome de Deus. Frank Darabont explora
com bastante competência o terror que o ser humano
pode causar a seus semelhantes, sem esquecer que
trabalha em Hollywood. Assim sendo, o filme consegue
manter o suspense do princípio ao fim sem apelar
para soluções fáceis de um final contemporizador.
Aliás, o final... É um espetáculo à parte. Você pode
amar. Você pode odiar. Mas não pode negar que o cara
tem coragem para terminar um filme daquela forma.
Resumindo: Mr. Dara é bont!...
FICHA TÉCNICA
Direção: Frank Darabont.
Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Handen, Chris Owen,
Natan Gamble, Lauren Holden, Alexa Davalos.
Origem/Ano de produção: EUA/2008.
Duração: 126 min.