RESENHA
CRÍTICA "O CORTIÇO"
por Frodo Oliveira -
frodooliveira@hotmail.com
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O CORTIÇO - FOTO DIVULGAÇÃO
CRÍTICA: O CORTIÇO - Baseado no clássico
romance do maranhense Aluísio de Azevedo, a segunda
versão desse marco do naturalismo brasileiro ficou a
cargo do diretor, roteirista e produtor Francisco
Ramalho Jr., que mais tarde seria o responsável por
produções de sucesso como “Das tripas coração”, “O
Beijo da mulher-aranha” (que, inclusive, concorreu
ao Oscar, tendo vencido na categoria melhor ator,
com William Hurt) e, mais recentemente, O Casamento
de Romeu e Julieta.
O filme narra a vida miserável dos habitantes do
cortiço de João Romeu (Armando Bógus), português
ambicioso que, no Rio de Janeiro do final da
monarquia, amasia-se com uma escrava fugitiva para
tomar conta da sua quitanda e das suas economias.
Tentando enganar a ex-escrava, ele falsifica uma
carta de alforria para que a ela tenha a ilusão de
que é livre de fato, quando, na verdade, é
totalmente escravizada por ele e tem que trabalhar
horas seguidas e ainda entregar todo o dinheiro que
consegue em suas mãos. Com o dinheiro conseguido,
ele começa a construir o cortiço, num pequeno pedaço
de terra que logrou comprar. Primeiro três casas,
depois muitas outras, graças ao trabalho da
ex-escrava, que, apaixonada, deixa-se explorar sem
perceber que João está interessado apenas em seu
dinheiro e em seu trabalho.
Com o sucesso da empreitada, João Romão prospera.
Moradores não faltam para habitar seus cubículos e
ele começa a juntar dinheiro, ambicionando um futuro
igual ao do rico Miranda, seu vizinho (Maurício do
Valle), homem de posses, porém, desprezado pela
esposa por não ter nascido em berço de ouro. Com
poder e prestígio, Miranda, um árduo defensor do
Império, acaba por conseguir o título de Barão,
despertando mais ainda a inveja de João Romão.
Com o crescimento do cortiço, as mais variadas
personagens começam a transitar pela história, sendo
a principal delas Rita Baiana (Betty Faria), mulata
assanhada e festeira, alegria dos marmanjos do
lugar. Mesmo morando com Firmo (Antônio Pompeu),
capoeirista, sambista e malandro carioca, a mulata
desperta a paixão de um outro português, Jerônimo,
recém-chegado ao Rio de Janeiro, cuja esposa logo
percebe que algo está acontecendo entre Rita e seu
marido. Ela aceita o jogo de sedução da mulata, pois
tem medo de perder Jerônimo, por isso prefere fazer
de conta que nada percebeu.
Temos também outros personagens inesquecíveis, como
Machona, a mulher que tinha "filhos que não se
pareciam uns com os outros", Pombinha, a prometida
que não podia se casar porque ainda não havia
menstruado pela primeira vez, sua madrinha,
secretamente apaixonada por ela e que a
desencaminharia no futuro.
Num encontro casual, na Caixa Econômica, o Barão
Miranda descobre que seu vizinho tem uma quantia
considerável aplicada, e começa a vislumbrar um
ótimo casamento para sua filha. O único empecilho é
Bertoleza, a ex-escrava fugitiva e amasia de João
Romão. Ele, homem sem escrúpulos, concebe um plano
para se ver livre da mulher que o tinha sustentado
com seu dinheiro e seu trabalho, que culmina com a
morte da ex-escrava.
O romance entre Rita Baiana e Jerônimo caminha para
o seu desfecho trágico quando Firmo, enciumado pelas
atenções que a mulata parece dispensar ao português,
resolve lavar sua honra com sangue, mas não é bem
sucedido, permitindo a Jerônimo se vingar de forma
mais efetiva: ele assassina o capoeirista, mas é
visto pelos amigos deste, que tomam o corpo e
começam um quebra-quebra no cortiço. Em breve, um
incêndio terrível consome todas as casas, para o
desespero de João Romão, que tenta inutilmente
apagar o incêndio. Somente mais tarde ele vem a se
lembrar que havia feito um seguro na Caixa
Econômica, o que lhe garante o reembolso de uma
quantia considerável e a reconstrução do cortiço.
Rita Baiana vai morar com Jerônimo, mas não dura
muito tempo: em breve, o português se cansa da
mulata e acaba voltando para os braços da esposa.
Na cena final do filme, vemos João Romão e sua jovem
esposa saindo para a lua-de-mel, sob os olhares
orgulhosos do Barão Miranda e de sua esposa, quando
chega a notícia da proclamação da República, e todos
os moradores do cortiço comemoram, mesmo sem saber
direito o que isso significa. Como na vida real, a
falsa aparência de uma falsa burguesia sai
fortalecida, os ricos ficam mais ricos e só resta
aos pobres cantar e dançar, para esquecer da própria
pobreza.
Direção: Francisco Ramalho Jr.
Elenco: Armando Bógus, Betty Faria, Maurício do
Valle, Mário Gomes, Ítala Nandi, Beatriz Segall,
Antônio Pompeu.
Origem/Ano de produção: Brasil/1977.
Duração: 110 min.
Filme:
Ótimo:
Bom:
Regular:
Crítico: Frodo
Oliveira
– Acadêmico de letras e crítico de cinema -
e-mail:
frodooliveira@hotmail.com - Blog:
frodooliveira.zip.net
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