CRÍTICA - NOME PRÓPRIO - “A intensidade
é uma doença contagiosa. E eu não concebo uma vida
sem contágios”. Esta é uma das frases ditas por
Camila (Leandra Leal) que faz com que queiramos
ficar na cadeira e assistir às 2 horas de martírio
no qual a protagonista está mergulhada.
Camila é intensa, inconseqüente, impulsiva. Seus
valores não são os mesmos de garotas da sua idade.
Embora não seja revelada a idade da personagem,
supõe-se que ela não tem bagagem suficiente, para
tanta intensidade. Mas isso é medido pela idade?
Para Camila não há valores a serem seguidos. Apenas
o desejo de ser – qualquer coisa que preencha o
vazio que a domina – e o de escrever.
A protagonista camufla sua vida pessoal e a de
escritora para narrar uma experiência pessoal e
intransferível. A falta de amor é a mola propulsora
para toda gama de frustrações que a absorve e engole
seus dias. Sem passado, sem perspectiva de futuro,
para que a vida tenha mais importância, o momento
presente conta mais. Sua escrita é visceral,
confessional e raivosa. Por vezes decadente, por ora
frágil, outras imatura, o que vemos na tela é um
retrato parcial de uma “galera” apaixonada por
remédios, alucinógenos, bebidas alcoólicas e
qualquer outro produto que os faça deixar de lado a
consciência, para assim, agirem por impulso.
Deixe de lado toda a polêmica que envolve o filme de
Murilo Salles e a escritora Clarah Averbuck –
escritora no qual seus livros “Máquina de Pinball” e
“Vida de Gato”, além de textos em seu blog, que
serviu de fonte inspiradora para o roteiro – e vá ao
cinema ver com os próprios olhos a descida ao
inferno – parece exagero dito assim, mas não penso
em outra metáfora – da garota auto-destrutiva, sem
eira, nem beira.
O filme de Salles não facilita, incomoda pela crueza
com que expõe sua personagem como que querendo
devassar cada canto do apartamento vazio que Camila
reside. Curiosamente preenchemos aquilo com tudo o
que Camila não é, e nem tem. Esse paradoxo faz com
que o filme inquiete o espectador, propondo assim
uma revisão dos próprios valores e escolha.
Vale transar com o namorado da amiga? Vale expor
fotos nuas de outra amiga na internet? Vale transar
com quem não se sabe o nome? Vale curtir uma paixão
on-line? Vale abusar de alguém para obter moradia e
segurança? No mundo de Camila tudo vale desde que
seja espontâneo e necessário, mesmo que isso a torne
um simulacro de si mesma. Tão tênue é a linha que
separa as duas Camilas que vemos no final, que se
torna impossível desassociá-las. Somos muitos.
Qual a pior das traições? Trair um sentimento que
permanece efêmero e invisível. Algo como amor e
cumplicidade. Ou trair a carne, cedendo o corpo aos
desejos animais mesmo que isso possa magoar o outro.
Trair a si mesmo ou ao outro, o que é pior?
“Nome Próprio” é um mergulho no universo de uma
escritora precoce que fez/faz de sua vida, material
para sua literatura. No filme de Salles a escritora
Clarah que já declarou não se vê no filme, lembra o
escritor Caio Fernando Abreu, que também fazia de
suas experiências pessoais matéria prima para seus
contos.
O filme é sem dúvida, um retrato contundente da
juventude (transviada?), dos dias atuais, carente de
amor, intransigente e impulsiva. Geração essa que se
embebeda de si mesmo para esquecer do outro. Embora
como bem revele Camila, o outro é o nosso maior
objetivo. O existencialista Jean Paul Sartre já
sentenciou “o inferno são os outros” Quem se importa
com tal afirmação?
Nome Próprio:
Camila (Leandra Leal) tem a escrita como sua grande
paixão. Intensa e corajosa, ela busca criar para si
uma existência complexa o suficiente para que possa
escrever sobre ela. Ela escreve compulsivamente em
um blog, só que isto faz com que também fique
isolada.
Ficha Técnica
Título Original: Nome Próprio
Gênero: Drama
Duração: 130 min.
Lançamento: Brasil - 2008
Distribuidora: Downtown Filmes
Direção: Murilo Salles
Roteiro: Elena Soarez, Murilo