CRÍTICA - FATAL - Paixões costumam ser
avassaladoras. Se você é jovem ela é irresponsável e
intensa. Quando se é maduro, ela vem balançar
certezas, exigindo que o amante faça valer suas
pretensas experiências. Quando se esta no limite
entre a meia e a terceira idade, (não sei bem o que
isso quer dizer, mas creio que as pessoas
identifiquem o termo para as pessoas acima dos 50
anos), paixões acabam criando complexidades impares
– já que são anos e anos acostumados há agir de uma
forma pré-concebida.
David (Ben Kingsley) é um professor universitário,
separado, que mantêm uma relação casual há vinte
anos com uma “colega”, além de levar algumas alunas
para a cama. Consuelo (Penélope Cruz) entra na vida
do professor e a desestrutura, mas em função dos
temores de David, do que pela ação negativa da
aluna.
Inspirado no livro “O Animal Agonizante” de Philip
Roth, o filme dirigido por Isabel Coixet expõe as
angústias deste animal letrado, que se vê só, após a
perda do amigo. “Fatal” é poético e direto – embora
pareça longo. Ao nos depararmos com a incapacidade
do professor de rever conceitos arraigados, nos
deparamos com nossas próprias defesas para quando o
amor – talvez um dia - chegar.
Alguém já disse “não reagimos bem ao fácil”. David
faz jus à citação e deixa de viver uma história bela
e harmoniosa ao lado da bela aluna. O preconceito da
sociedade em relação a casais com idades diferentes,
a vulnerabilidade dos relacionamentos e a
banalização dos encontros estão presentes
(indiretamente) na história. Como que expondo a
incapacidade do ser humano de aceitar e ser aceito
pelo outro na mesma proporção.
Quando o professor – já ferido – “ganha” a chance de
um recomeço, a trilha já está asfaltada. E o que era
um caminho florido e arenoso – e por isso
confortável e inseguro – é cimentado pelas mazelas
da vida. Que torna mais pesado e definitivo o
caminho por onde deverá caminhar.
Penélope Cruz ilumina o cinema com sua beleza
juvenil e sua apatia romântica, que valoriza
qualquer personagem que ela interprete.
O filme de Isabel é uma flechada na sua
sensibilidade. Só resta saber se será fatal.