CRÍTICA - ELIZABETH - A ERA DE OURO -
Existem filmes que não põem ser explicados e/ou
descritos, merecem e tem que ser visto. Elizabeth –
A Era do Ouro (2007) entra nesta categoria. Confesso
que não esperava muito do filme, já que minha
memória me trai e não me lembro do primeiro filme
sobre a rainha, feito em 1998, intitulado apenas
Elizabeth.
Dirigido por Shekar Khapur, a nova versão ressalta
as questões pessoais de uma rainha virgem em volta
com suas obrigações e desejos. Está lá toda a
questão histórica pertinente a época que a rainha
governou a Inglaterra, seus inimigos e as armadilhas
realizadas para derrubar sua ideologia protestante,
frente a uma Espanha católica com sede de domínio.
O filme é grandioso, elegante, delicado e sutil. A
começar pelas cores vivas que há no figurino (Oscar
de Melhor Figurino de 2008), contrastando com a
frieza dos palácios e a opacidade das roupas dos
homens. A roupa de Elizabeth acaba se tornando um
contraponto para seus sentimentos e desejos. As
tomadas do alto do castelo tornam viva e intensa a
figura da rainha diante de tanta impessoalidade.
A rainha que nunca ri, aprende a relaxar os músculos
da face quando se depara com um aventureiro,
atraente, audacioso e sagaz. Elizabeth indiretamente
acaba projetando nele as possibilidades de uma
relação que até então não cogitava com ninguém.
Porém ela é a rainha e não pode se dar ao luxo de
ser livre e tomar as escolhas que bem entender. A
cena do banho onde elogia o fato de sua empregada
ser livre mostra o quanto seu desejo de liberdade é
intenso.
Tão intenso que não aceita ser comandada e nem
reprimida por um Deus e seus possíveis súditos. No
seu mundo não há a palavra perdão. Mas ela teria
perdoado a traição de Mary Stuart se as convenções
não existissem. A cena que Mary Stuart é decapitada
é de uma beleza impar. Raro de se ver no cinema. Uma
cena onde devoção, morte e religião estão aliadas
com a beleza. O figurino também dialoga com a cena,
pois quando Mary Stuart retira seu manto para ser
morta, sua roupa é de um vermelho pulsante.
Elizabeth é retratada como uma semi-deus para que a
fé em suas convicções seja evidenciada e na luta
interna que travou para vencer os que a rodeavam. Em
meio a tanta ambição, machismo e traições. Foi
traída pelos seus sentimentos, mas soube contornar a
situação. Quando pega o bebê do ser amado em seu
colo, seu semblante é agraciado com uma cor, que a
torna mais humana, frágil.
Como disse no primeiro parágrafo Elizabeth é uma
experiência única. Teatral, intenso, introspectivo e
sublime. A rainha que nunca é beijada, que tem seus
parcos cabelos cobertos com perucas extravagantes,
que é complacente com seu próximo e divertida quando
é permitido, ficará na sua memória.
Deveria ter revisto o primeiro “Elizabeth” (1998)
para poder escrever melhor minhas argumentações a
cerca deste novo filme. Mas embora ambos sejam
semelhantes em seus conflitos, dirigido pelo mesmo
diretor e protagonizado pela mesma atriz, a nova
versão consegue a façanha de ser simbólica e
subjetiva e tornar a rainha uma mulher inesquecível.
Lembraria de tanta sutileza e feminilidade?
Provavelmente sim. Um filme como esse a gente não
esquece. Imperdível.
Ficha Técnica
Título Original: Elizabeth: The Golden Age
Gênero: Drama
Duração: 114 min.
Ano: Inglaterra/França - 2007
Distribuidoras: Universal Pictures / UIP
Direção: Shekar Khapur
Roteiro: William Nicholson e Michael Hirst