CRÍTICA - CLOVERFIELD - MONSTRO:
Antes de qualquer coisa,
um esclarecimento, “Cloverfield” não é um exercício
sobre a paranóia norte-americana depois do 11 de
Setembro, e muito menos uma crítica a uma sociedade
que não sabe mais viver longe da tecnologia,
filmando e fotografando tudo. Indo ainda mais longe,
“Cloverfield” não é uma alegoria sobre o crescimento
do oriente prevendo o esmagamento yankee.
“Cloverfield”, na verdade, é simplesmente um filme
sobre um monstro de 20 andares que invade Manhatan e
resolve acabar com tudo que vê pela frente, ponto
final, fácil assim. Nada de leituras inspiradas e
filosóficas, apenas uma idéia conhecida por todo
mundo, repaginada e mostrada de um modo diferente,
precedida por uma campanha de marketing inspirada
que fez dele o filme mais esperado do ano.
A grande sacada, e que faz o filme ser imperdível, é
mostrar toda ação do ponto de vista de Hud,
incumbido de filmar a festa de despedida para o
Japão, de seu melhor amigo Rob. Munido de uma câmera
amadora, para filmar depoimentos de despedida, acaba
usando-a para documentar o caos na qual a cidade se
transforma.
O produtor J. J. Abrams (“M:I 3” e o seriado “Lost”),
junto do diretor estreante Matt Reeves, com isso
matam dois coelhos com uma cajadada só. Primeiro,
cada depoimento é um pouquinho de apresentação dos
personagens, de quem é quem dentro da trama,
aproveitando isso para contar todo um contexto
anterior ao começo da filmagem da festa. E isso é
genial, já que transporta o espectador para dentro
de uma gravação amadora de festinha, com tanta
informação que faz vocês esquecer o filme que entrou
no cinema para ver.
A segunda cajadada é dada quando o monstro entra em
cena, quebrando totalmente um ritmo que se arrastava
diante da tela. Depois do tremor e da luz da festa
apagando, começa a correria que tomara o filme até
seu final. Nesse ponto, a impressão que se dá é que
a tensão e o suspense do longa só se sustentam
sozinhos com a câmera histérica na mão de Hud, que
nunca gravara um segundo e acaba sempre sem
enquadrar nada direito.
O diretor faz questão não de esconder o tal monstro,
mas sim de dar a impressão, verdadeira, de que,
naquela situação ninguém ficaria calmo o suficiente
para encaixar perfeitamente uma criatura de 40
metros no foco da câmera. Durante todo filme, quem
está atrás da câmera é você, e, como todo mundo, vai
só conseguindo enxergar imagens tremidas, passagens,
vultos e sombras, que em sua mente formam o monstro.
Ele não se esconde, na verdade anda livremente pela
cidade, é você que não faria muita questão de ficar
olhando para ele ao mesmo tempo que se vê tentando
sobreviver nesse caos.
Diferente do primo japonês, que a 10 anos também
atacou Nova Yorke na besteira dirigida por Rolland
Emerich, “Cloverfield” não é um filme sobre um
monstro que ataca uma cidade e sim sobre um grupo de
amigos que tem que sobreviver a esse investida, sem
ninguém entrar na nostalgia querendo virar o Rambo,
apenas fugindo da destruição. Mais longe ainda do
nipônico, o monstro de Abrams nem nome tem, que, a
título de curiosidade, Cloverfield era o nome do
lugar em Santa Monica que a produção do filme
instalou um escritório e usou como codinome para
despistar curiosos, coisa comum em grande produções.
Mas nem por isso, o Monstro fica em segundo plano, e
muito menos na sombra de alguma coisa, sempre que
aparece é claramente, mostrando um ótimo trabalho
nos efeitos especiais, não só na criatura como em
sua destruição, com um tom de visceral e
descontrolada, dando total realidade a coisa toda.
E essa realidade não pode ser comparada em nada,
como muita gente vem tentando, a de “Bruxa de Blair”.
“Cloverfield” é um blockbuster em seu melhor sentido
da palavra, feito para encher as salas de cinema e
virar cult para o resto da vida, não é um produção
que se sustenta nas “fitas achadas em algum lugar”
para criar suspense e tensão, como a “Bruxa” copiou
de Ruggero Deodato e seu “Cannibal Holocaust” de
1980, fingindo uma história verdadeira por trás de
tudo (Deodato não queria isso, mas acabou ajudando
na fama do filme), Abrams e Reeves não querem que
ninguém acredite que manhatan foi destruída de
verdade, mas sim querem que que você aproveite na
tela o melhor jeito que o cinema já destruiu a
famosa ilha de Nova York
*No Brasil, “Cloverfield” ganhou o sub-título de
“Monstro”, pratica comum por aqui, mas que dessa vez
me trouxe revolta, por isso me recusei a escrever o
nome do filme como “Cloverfield - Monstro”.
Cena do filme "Cloverfield - Monstro" - Foto Divulgação
Ficha Técnica
Título: Cloverfield - O Monstro
Gênero: Terror
Ano: EUA - 2007
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Drew Goddard
Distribuidora: Paramount Home Entertainment
Site oficial:http://www.cloverfieldmovie.com