CRÍTICA - A ÚLTIMA AMANTE - Dos 11
filmes da cineasta francesa Catherine Breillat, sou
fã dos dois que até então havia visto. “Romance”
(1999) e “Para minha irmã” (2001) são filmes que
aborda as questões do universo feminino e são
instigantes na mesma medida que tocam e provocam o
expectador.
“A última amante” (Une Vieille Maîtresse), tradução
aportuguesada para “Uma velha amante”, não fica
atrás. Não é o melhor dos três – por exemplo – mas
tem o mérito de seduzir seu público.
Ás duas horas de filme se arrasta, e em vários
momentos você se distancia do filme e se perde no
marasmo do cotidiano proposto por Catherine. Porém
este suposto clima tedioso é preenchido pelo
sentimento avassalador que une Ryno (Fu’ad Ait
Aattou) e Vellini (Asia Argento), será amor?
Sedutoras são as cenas em que não diálogo. Esse
estranho objeto de desejo que é a tela e seus
protagonistas é adornado pelas imagens da cineasta
que relata o drama alheio para que nos encontremos
refletidos ali.
O voyerismo do cinema é potencializado pela câmera,
ora nas cenas de sexo, com enquadramentos
promissores e inquietantes, como a cena em que vemos
Vellini e um pedaço – mas precisamente a canela e os
pés – da perna de Ryno, ora nos longos focos no
rosto de Aattou. O exótico e andrógino ator se torna
mais bonito e inunda o cinema com uma beleza
clássica, num corpo magro, contrapondo-se a beleza
rústica de Ásia.
Não é uma grande história. Embora o roteiro seja
cuidadoso ao retratar os pensamentos e costumes da
época, o filme se faz mais eficiente quando a
palavra, não está presente.
O sentimento que une – e destrói – duas pessoas tem
em “A última amante” uma singular caracterização,
num filme de época onde as relações e os sentimentos
são velados e construídos de forma extrema, quando
expostos, ou reprimidos, como se qualquer
manifestação do desejo fora da dita normalidade
fosse motivo de vergonha.
É justamente este sentimento estranho que mescla
desejo, curiosidade e estranhamento que se faz
presente para o expectador. Você pode achar o filme
lento, porém não menos sensual. Pode preferir um bom
diálogo, mas será incapaz de recusar o silêncio
entre o casal de protagonista.
O filme nos faz pensar sobre os (10) caminhos do
amor e da paixão. Provocante e instigante, “A última
amante” nos incomoda, sem que saibamos bem o motivo.
Ótimo convite reflexão
FICHA TÉCNICA
Gênero: Drama
Duração: 114 min.
Classificação: 14 anos
Distribuidora: Filmes do Estação