CRÍTICA - DOIS DIAS EM PARIS:
Sem Paris com certeza o
cinema seria um pouco mais sem graça, e qualquer
cineasta sabe disso. O plano mais ruinzinho e
medíocre, ganha estatus de obra de arte com a torre
Eiffel ao fundo apontando para o céu, assim como o
diálogo mais burrinho e sem gracinha ganha uma
beleza diferente e um romantismo sem igual se os
personagens estiverem na beira do Sena ou em um
daqueles cafés parisienses com a calçada repleta de
mesas.
Sair desse marasmo de imagens e citações visuais
óbvias é algo que de vez em quando sempre aparece
alguém fazendo e, por mais que possa parecer clichê,
Bertolucci com seu “Ultimo Tango em Paris” parece
sair dessa premissa e encontrar o pote de ouro no
fim arco-íris. A Paris do cineasta é uma capital que
não consegue segurar a insanidade do personagem de
Brando, sempre escondido nas irônicas sombras
escuras da Cidade Luz.
O que Julie Delpy faz em seu longa de estréia como
diretora não é prender seu “2 Dias em Paris” nas
sombras e na estranheza da beleza, mas sim usar a
cidade como pano de fundo de uma história que tenta
mostrar um pouco mais do que as lentes de um filme
podem enxergar geralmente. Nada de lugares
conhecidos nos cartões postais, mas sim as ruas, as
vielas, as feiras, o fluxo de uma cidade cheia de
tipos, com um cultura hermeticamente fechada,
tipicamente francesa, antropofágica, que além disso
ainda não tem vergonha de ser do jeito que é, doa a
quem doer.
O Acerto de Delpy, não é mostrar essa cidade de um
jeito cômico e stírico, mas sim pela visão do
decorador de interiores norte americano Jack (Adam
Goldberg), que depois de uma viagem a Veneza com sua
namorada, francesa Marion (a própria Delpy) resolvem
passar dois dias na casa dos pais dela em Paris.
O que a diretora faz, é apostar todas suas fichas
nesse personagem hipocondríaco, perdido em uma
cidade onde ninguém fala sua língua, e ninguém faz a
mínima questão, uma cidade onde a liberdade sexual e
comportamental francesa bate de frente com a
caretice ianque. Goldberg incorpora o americano
democrata que na terra do Tio Sam se proclama
liberal, mas que não consegue segurar a onda em uma
cultura que fala de sexo com alguém antes de se
apresentar.
O roteiro de Delpy não se faz de moral e muito menos
escolhe um lado, ele não esta ali para criticar uma
sociedade, mas sim para mostrar alguns lados de uma
cultura que as vezes as pessoas esquecem de mostrar.
O francês conquistador, na verdade os franceses, já
que cada desconhecido que descobre que o namorado
não fala francês investe uma cantada para a namorada
francesa, está no filme para fazer a história ficar
mais engraçada, assim como um monte de outros
estereótipos, e consegue.
“2 Dias em Paris” é uma comédia deliciosa que mostra
que dois mundos totalmente diferentes as vezes dão
as mãos para o amor e que para sempre terão Paris.