CRÍTICA: ERA UMA VEZ... –
O
diretor Breno Silveira (Dois filhos de Francisco)
acertou em cheio em Era uma vez.., longa
magnífico, tanto no roteiro como na fotografia,
direção e atuações ... Que era uma vez coisa
nenhuma, o título clichê não carrega a magnitude dos
temas abordados; drogas, desigualdade social, amores
impossíveis e preconceito. Na sala de exibição em
que assistimos (eu e minha esposa Elenir) o
longa-metragem aqui em São Paulo (Shopping Jardim
Sul), 80% dos espectadores eram granfinos e confesso
que em determinados momentos da exibição, notei um
certo desconforto em seus semblantes, afinal, a
grande tela revelava o preconceito dos ricos com os
menos afortunados, ou melhor,
OS
NÃO AFORTUNADOS. A população de
baixa-renda sabe muito bem que uma coisa leva a
outra, e não preciso entrar em detalhes. Já os
granfinos enxergam as coisas por outros ângulos...
visões diferentes; mundos diferentes...
No
final do longa, temos uma surpresa (?), o
protagonista Thiago Martins (Dé) é um dos moradores
de uma das favelas do Rio de Janeiro, e como disse
nos créditos finais: “Moro até hoje na favela. A
história que vocês acabaram de assistir poderia ter
sido a minha história.” Thiago Martins fez uma
atuação magnífica e espero vê-lo em outros longas,
pois tenho certeza que os diretores já estão de olho
neste excelente e jovem ator. Vitória Frate (Nina),
a Julieta do nosso pobre Romeu, fez sua estréia no
cinema, e sua atuação não fica atrás do nosso
protagonista.
ROMEU E JULIETA? Não contarei o final,
pois perderá a graça, mas você se lembrará dessas
duas antigas personagens do velho Shakespeare.
Só
tenho uma coisa a lamentar: é triste saber que
nossos melhores longas sempre envolvem tráfico de
drogas, desigualdade social, violência e
preconceito, assim como Carandiru, Cidade de
Deus, Antônia – O filme, etc. Não nego que as
tramas que abordam esse tema geralmente são
envolventes, principalmente quando são salpicadas
com excelentes atuações e direção, mas tenho certeza
que os estrangeiros nos enxergam com outros olhares,
pois para eles, nosso mundo é somente esse; essa é a
influência negativa desses longas, mas fazer o quê?
É a pura realidade, não é verdade?
Minisinopse
oficial: Era uma vez... conta a história de amor
entre dois jovens que vivem realidades bem
distintas. Morador da favela do Cantagalo, em
Ipanema, na Zona Sul, Dé descobriu cedo as
dificuldades de vencer na vida de forma honesta,
cercado pelas armadilhas do crime. Filho da
empregada doméstica, Bernadete, e abandonado pelo
pai, ele assistiu a um traficante matar seu irmão
Beto. Em seguida, seu irmão mais velho, Carlão, é
obrigado pelos bandidos a se exilar da favela e
acaba preso ao ser confundido com marginais em meio
a um arrastão na praia. Apesar de tantos
contratempos, Dé mantém sua dignidade. Trabalhador,
vende cachorro-quente num quiosque na praia. É dali,
de trás do balcão, que observa Nina, filha única de
uma família rica que mora na Vieira Souto, avenida
em frente à Praia de Ipanema.
Os dois
se conhecem na praia e acabam se apaixonando.
Juntos, experimentam as alegrias, emoções e
dificuldades de viver um amor tão grande quanto
improvável. Porém, são alvo de críticas e
preconceitos velados. Dé e Nina são o retrato da
intolerância e dos abismos sociais que separam
brasileiros não apenas no Rio, mas em cidades de
todo o país e do mundo.
Ficha Técnica:
Título Original: Era Uma Vez...
Gênero: Drama
Duração: 120 min.
Ano: Brasil - 2008
Site Oficial:
www.eraumavezofilme.com.br
Distribuidora: Columbia Pictures
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade, com colaboração de
Domingos de Oliveira
Fotografia: Dudu Miranda e Paulo Souza
Crítico: Ademir Pascale é crítico de cinema,
ativista cultural, administrador e criador do portal Cranik
www.cranik.com e do projeto de inclusão social
e cultural "Vá ao cinema!". Contatos para matérias
em Jornais, Sites ou Revistas, e-mail: ademir@cranik.com