E o Oscar foi para “Quem Quer Ser
Um Milionário?”, assim mesmo, sem surpresas, sem
graça e ainda com tempo de sobra para tentar te
fazer dormir. Longe do filme de Danny Boyle não
merecer sua estatueta de melhor filme, só fica uma
impressão estranha com os outros sete carecas
dourados que o filme passará a exibir nos cartazes
dos cinemas.
O Inglês Danny Boyle saiu com a estatueta de Melhor
Diretor, o filme ainda levou para casa os prêmios de
Fotografia, Edição, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora,
Canção Original e Efeitos Sonoros, um número um
pouco exagerado para uma produção tão pequena. É
como se a Academia deixasse aquela impressão que vem
aperfeiçoando a cada ano: um desespero de colocar
algum filme em um pedestal altíssimo, muito mais
alto do que ele realmente está.
Quem Quer Ser Um Milionário? - Foto
Divulgação
Tanto Trilha Sonora, quanto Efeitos Sonoros deixam
mais que claras essa impressão, ainda mais levando
em conta seus concorrentes, principalmente “Wall-e”
e “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Ainda no campo
da audição, “Quem quer ser Um Milionário?” levou o
Oscar de melhor canção original por um música
cantada na língua nativa de Bollywood, deixando a
impressão de que, ou os velhinhos da Academia estão
a procura de um estreitamento com o maior produtor
de cinema do mundo (coisa que eu não acredito) ou
resolveram esnobar Peter Gabriel, que concorreu com
a música “Down to Earth”, do filme “Wall-e”, mas se
recusou a cantar apenas um trecho de sua canção. Em
resumo, três estatuetas que não deixaram o grande
ganhador da noite sair do Kodak Theather com apenas
quatro prêmios, coisa que já seria mais que
merecido.
Do outro lado, “O Curioso Caso de Benjamin Button” e
suas treze indicações, só não se mostrou uma
decepção porque, na verdade, ninguém esperava que
ganhasse muito mais que as três estatuetas que
conseguiu: uma pela sua Direção de Arte, muito mais
pelo trabalho que tiveram com suas oito décadas
diferentes que mostraram no filme, do que por seu
trabalho artístico, que não faz nada de excepcional,
e outras duas por Efeitos Especiais e Maquiagem,
mostrando que ninguém conseguiu distinguir
exatamente quem fez o que, se a maquiagem retocou os
efeitos ou vice-versa, merecidos é bem verdade, mas
ainda assim uma prova de um filme narrativamente
capenga mas visualmente deslumbrante.
O Curioso Caso de Benjamin Button - Foto Divulgação
Seu astro, Brad Pitt, só não
ficou de mãos abanando graças as pequenas homenagens
que todos atores indicados ganharam na hora da
premiação. Em uma inovação interessante, a Academia
destacou cinco ex-ganhadores para, cada um,
apresentar um indicado desse ano, com uma
apresentação de seda
bem-vinda, tanto para eles, sentados na platéia,
como para o público em casa, que teve a oportunidade
de matar a saudade de alguns atores que fizeram
história. Nesse esquema, Michael Douglas anunciou a
vitória de Sean Penn por seu papel em Milk, coisa
que, por mais que pareça uma surpresa, é mais que
normal, já que o ator tinha acabado de ganhar o
prêmio do Sindicato. Surpresa, por que a maioria
ainda apostava em Mickey Rourke, mas, me pareceu que
a Academia preferiu dar os 45 segundos de
agradecimento para um ator boa-praça e politizado a
um com jeito bizarro, terno branco, óculos escuros,
bigodinho de trambiqueiro e anel de brilhante no
dedinho, que provavelmente usaria seu tempo para
lamentar a morte de seu chihuahua que estampou as
manchetes nos últimos dias. “Milk” ainda ganhou o
prêmio de Roteiro Original mas ficou só por aí
mesmo.
Na categoria de Melhor atriz, aparentemente, a
Academia se viu obrigada a corrigir um de seus erros
e, finalmente, depois de seis indicações, dar o
prêmio para Kate Winslet em seu papel por “O
Leitor”. E a falta de surpresas continuou com a
espanhola Penelope Cruz levando a estatueta de Atriz
Coadjuvante, assim como os pais, e a irmã, de Heath
Ledger, vindo lá da Austrália, para receber o prêmio
de Ator Coadjuvante como o Coringa do “Cavaleiro das
Trevas”. Quase algumas obrigações que a Academia nem
pensou em fugir.
O Leitor - Foto Divulgação
O Filme do homem-morcego ainda saiu com o prêmio de
Melhor Edição de Som, completando o estigma de
grande injustiçado da noite, pouco lembrado nas
categorias principais, subjugado às técnicas, assim
como “Wall-e”, que recebeu o de melhor animação, com
todo jeito de consolação e um quase aviso que lugar
de animação é nessa categoria, não adiantando
espernear. Uma dupla de filmes que não só foi pouco
indicada, como deixada de lado e ignorada como
merecedora de lugar entre os cinco na categoria de
Melhor filme, até porque, tanto “Frost/Nixon” quanto
“O leitor” praticamente, já que Winslet levou o seu,
passaram despercebidos durante as premiações.
De resto, em linhas gerais nada de interessante
aconteceu, em mais uma noite chata, já parecendo uma
obrigação dos prêmios, em que Hugh Jackman
interpretou seu papel de “show man” e galã da
Broadway, dançando e sapateado sem acrescentar nada
à premiação, nem uma piadinha mais legal, na verdade
ainda praticamente nem aparecendo direito durante
toda transmissão. Uma noite em que um dos maiores
comediantes da história do cinema, Jerry Lewis,
levou um Oscar honorário pelo seu teor humanitário e
suas benfeitorias, mas que deixou uma impressão de
que ainda não foi aceito como ator, uma pena, já
que, com uma carreira tão extensa e conhecida, os
aplausos de pé poderiam coroar, não só ele, mas um
gênero, a comédia, ainda tido como marginal e menor.
É mais triste ainda, saber que, daqui a um ano,
provavelmente um texto semelhante resumirá os
prêmios da Academia de Cinema de Hollywood, batendo
mais uma vez na tecla da falta de surpresas. Nem
isso eles conseguem surpreender.