ENTREVISTA COM O ESCRITOR E EDITOR RICHARD DIEGUES

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor e editor Richard Diegues.
 (19/08/08)

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Richard Diegues - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por aceitar a entrevista. Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Richard Diegues na literatura.

Richard Diegues: Eu é que tenho que agradecer pela força que tem dado tanto aos autores já conhecidos do público, como para os iniciantes. Considero isso algo muito louvável para a literatura. Grande passo! Respondendo a pergunta: comecei cedo na literatura, tendo escrito meu primeiro romance entre meus 15 e 16 anos, que foi o livro “Magia – Tomo I”, publicado em 1997. Este livro narra a história de um jovem que é impelido por Vozes a seguir em uma busca pessoal, onde segue a premissa da Jornada do Herói. É um livro bem diferente da minha fase presente de escrita, mas que permanece atual em sua trama. Tem muito das Mil e Uma Noites nele, o que torna o ritmo muito agradável. Devo republicar essa obra ano que vem, com uma linguagem atualizada, mas mantendo a história completamente. Bem, depois disso publiquei pela coleção Necrópole os livros “Histórias de Vampiros”, “Histórias de Fantasmas” e, mais recente, o “Histórias de Bruxaria”, juntamente com outros parceiros literários (Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Doris Fleury, Eric Novello, Gianpaolo Celli, Giorgio Capelli, Marcelo Dias Amado e Nazarethe Fonseca). Essa coleção é de extrema qualidade gráfica e de conteúdo, com novelas de cerca de 30 páginas, voltadas para o suspense e terror. Tem sido um sucesso absoluto de crítica e os leitores realmente acabam por colecionar os livros. A parte disso, já publiquei um livro de contos, chamado “Sob a Luz do Abajur”, que explora em 17 contos os monstros reais, aqueles que encontramos em cada esquina, aqui, em nossas próprias cidades, e principalmente dentro década um de nós. Um livro igualmente denso, com contos bem trabalhados e de forte carga de suspense e terror. Além disso, participei dos livros “Visões de São Paulo – ensaios urbanos” como autor e organizador, do “Histórias do Tarô”, do “Livro Vermelho dos Vampiros” e do “Projeto 22”. Tenho mais quatro livros prontos para serem publicados, dois deles garantidos para 2009. No momento tenho me dedicado muito a um projeto monstruoso meu, que creio que falarei mais adiante, e para a Tarja Editorial, na qual atuo como editor, juntamente com meu sócio, Gianpaolo Celli e nos concentramos na literatura de ficção fantástica nacional.

Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias?

Richard Diegues: Para ser sincero eu não me foco muito em um estilo literário, de tal forma que não aparecem reflexos nítidos de outros autores em minha literatura. Se eu tivesse que dar o título de “influências” para algo que me guie, eu diria que leio muito Terry Pratchet, Stephen King, Neil Gaiman, Peter Straub, Ursula K. Le Guin, citando a geração mais contemporânea, além de autores novos e estreantes, e obviamente os clássicos, que explicar seria impensável. Eu leio em média 15 livros a cada mês, quando não mais. Além da compulsão que tenho pela literatura, isso se deve ao fato de que recebo inúmeros originais por conta da Tarja Editorial.

Ademir Pascale: Quando e como surgiu a editora Tarja (www.tarjaeditorial.com.br) e qual é seu principal foco?

Richard Diegues: A Tarja Editorial foi fundada por mim em 2006, por ocasião da criação do livro “Visões de São Paulo – ensaios urbanos”, que reuniu 50 autores, cada um com um conto que retratasse a cidade de São Paulo com uma visão particular. Eu organizei e editei o livro, lançando pela editora, antes mesmo de ter sua fundação legalmente concretizada. Pode-se dizer que foi uma prévia do que viria. Depois disso, fechei uma sociedade com Gianpaolo Celli, que é meu sócio na editora e finalmente a “abrimos” em caráter empresarial. Hoje lançamos livros de literatura fantásticas, abrangendo desde a ficção científica até a fantasia, incluindo todos os seus subgêneros que incidam diretamente sobre a prosa.

Ademir Pascale: Além de editor e escritor, você também é palestrante? Conte pra gente como é o dia-a-dia do Richard multitarefas.

Richard Diegues: Eu sempre fui o tipo “agitador cultural”. Desde que morava em Santos (hoje moro em São Paulo), já participava de grupos de debate literários, fui ator de teatro, e trabalhei um bom tempo como locutor de rádio. Com essa bagagem em relacionamento pessoal, acabei me tornando referência em alguns temas e comecei a ser convidado para participar de eventos e palestras. Esse ano, para encurtar a coisa, participei da Fantasticon (o maior evento nacional dirigido a literatura fantástica) como palestrante, também fui convidado a discursar em faculdades para estudantes de cursos de formação de escritores, além de ter sido convidado para algumas mesas de literatura fantástica e ficção na Livraria Cultura. Em setembro vou compor a mesa sobre “Publicar uma nova ficção fantástica no Brasil”, em um superevento organizado pelo Itaú Cultural. E pra fechar, estou organizando para breve um curso de formação de escritores, que sairá dessa absurda monotonia de tentar ensinar apenas os truques para uma boa escrita, mas transcenderá para ensinar os autores a pensarem de forma “grande”, desenvolvendo suas histórias desde a criação de universos fantásticos, passando por construção de personagens, tramas, enredo, mídias e finalizando com os conhecimentos sólidos de produção e mercado editorial. Esse curso é uma meta minha, para que um dia tenhamos bons autores de ficção, que realmente produzam algo que seja publicável pelas editoras. Ele surgiu justamente da dificuldade que venho tendo, como editor, em encontrar material de qualidade para ser publicado.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista como editor, o que o mercado editorial brasileiro busca no jovem escritor que deseja ingressar no meio literário?

Richard Diegues: Em uma palavra: profissionalismo! Os novos autores pensam que o fato de terem escrito um livro os torna aptos para a publicação. Isso é muito ruim e uma das coisas que eu mais lamento hoje em dia. Qualquer pessoa que acredite que pode se tornar um escritor de livros – aqui vale uma observação: quem escreve é escritor, mesmo na Internet, mas existe um segmento que prefere ser escritor de livros, e essas duas áreas são como água e vinho: fácil de diferenciar, e muito duro de separar depois que se misturam – deve produzir pelo menos dois originais, sendo que três é o desejável, antes de sequer pensar em enviar um original para uma editora. Sinceramente conheço dezenas de bons livros que secaram a fonte dos seus autores. A fonte de um profissional nunca seca, se é que me faço compreender. Em resumo, sinto falta do escritor que escreve para colocar suas idéias no papel, de forma pretensiosa, com esmero, cuidado, e acima de tudo, sem pressa. Onde está aquele escritor que tem quatro originais na gaveta, e ainda assim prossegue escrevendo? Onde está o jovem escritor que se dedica a arte, antes da celebridade? Uma verdade: viver da venda de livros em qualquer recanto do mundo é uma tarefa árdua e cansativa. Na literatura, um autor profissional é o que reúne as seguintes qualidade: vontade (de mostrar suas idéias), criatividade (para passar essas idéias ao papel de maneira inteligente), paciência (para deixar as idéias repousando no papel e vez ou outra as retomar e reescrever até se tornarem algo polido) e desprendimento (para não acharem que serão publicados e ficarão ricos com isso, mas sim que estarão passando suas idéias adiante).

Ademir Pascale: Como está sendo a receptividade dos leitores com a coleção Necrópole (editora Alaúde)?

Richard Diegues: A coleção Necrópole já nasceu como um sucesso. Não há leitor que compre um dos volumes e não siga para os outros, e mesmo para os demais livros de alguns dos autores. É uma literatura muito madura, trabalhada a exaustão por cada um dos autores, até beirarem a perfeição. E isso não é opinião somente minha ou dos leitores, pois essa é a característica que a mídia tem apontado em sua crítica literária. É claro que em um ambiente de pouca divulgação a coleção nunca nos deixará famosos e muito menos ricos, mas ela é um ótimo medidor de sua própria força, pois a cada leitor que nos dá um retorno sobre o que achou da obra, vemos que ganhamos um fã perpétuo, daqueles que aguarda por mais, ávido por qualidade e inovação. E Necrópole é isso acima de tudo: inovação! A nossa intenção sempre foi pegar os “mitos” e resgatar sua origem de uma forma criativa, fugindo do lugar comum dos livros atuais sobre os temas. Nossos vampiros, fantasmas e bruxarias inovam no sentido de forma, mas com um forte resgate do velho mito.

Ademir Pascale: Como é o trabalho em conjunto na produção de uma obra do início até chegar nas livrarias?

Richard Diegues: Vou continuar usando como exemplo o livro “Necrópole – histórias de vampiros”, que teve uma produção muito bacana por parte do grupo. O processo ocorreu assim: juntamos um grupo de cinco escritores com qualidade boa, e formas de escrita divergentes, isso foi pensado justamente para diversificar a obra e atingir todos os leitores possíveis; depois selecionamos um tema, no caso os vampiros, e cada um escreveu uma novela com o compromisso de ser o mais inovadora possível; assim que os textos foram dados por concluídos, fizemos uma troca entre nós, onde eu li o texto de um outro autor, passando o meu para que um outro lesse, como em uma ciranda; cada um dos textos foi limado e criticado até a exaustão, depois ajustado, corrigido e adaptado; essa segunda versão passou a girar uma vez mais na ciranda, com leitura, crítica, correção, melhorias, e... um novo giro; depois que os textos haviam girado por cinco vezes, estavam realmente livres de falhas, e com uma história muito melhor do que quando foram criados; daí pra frente foi revisão gramatical, capa, diagramação e busca por uma editora. Essa busca não levou mais de um mês, para você ter idéia da qualidade final que atingimos. Mas não pense que o trabalho parou por aí, depois do livro ir para as livrarias os autores continuaram se reunindo mensalmente. Criamos sites, mandamos releases para revistas e jornais, demos entrevistas, fizemos eventos, continuamos fazendo e distribuindo Zines, enfim, continuamos com nosso profissionalismo, pois sem ele o livro estaria encalhado nas prateleiras. É um trabalho cansativo, mas muito recompensador em termos de prazer pessoal.

Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra Sob a luz do Abajur (editora Tarja)?

Richard Diegues: Eu já citei um pouco sobre ele acima, mas vamos lá: é um livro de contos, dezessete no total. O tema são os monstros, mas no sentido explícito da palavra. No dicionário o termo “monstro” designa um ser cuja formação se afasta da natural à sua espécie; um ente fantástico da mitologia; pessoa cruel, desumana, perversa; assombro, prodígio; pois é exatamente esse conjunto de definições que eu retrato em cada um de meus contos. O livro fala sobre eventos fictícios, mas é inteiramente legítimo quanto aos monstros. E eles são os da pior espécie.

Perguntas rápidas:

Um livro: A torre negra (a coleção completa), de Stephen King
Um(a) autor(a): Neil Gaiman
Um ator ou atriz: Al Pacino e Sandra Bulock
Um filme: Advogado do Diabo
Um dia especial: Dia das Bruxas
Um desejo: viver somente da minha literatura.

Ademir Pascale: Mais uma vez, agradeço por ceder tão preciosa entrevista. Desejo-lhe muito sucesso.

Richard Diegues: Ademir, o prazer foi meu, acredite! Sucesso vale para nós dois... estamos no caminho!  

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado: Richard Diegues.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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