ENTREVISTA COM A ESCRITORA GIULIA MOON

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista a escritora Giulia Moon.
 (12/08/08)

DVD'S - CD'S - GAMES ONLINE - PRESENTES - CAMISETAS DE FILMES - LIVROS


 
Giulia Moon - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Qual foi a primeira obra literária produzida por Giulia Moon?

Giulia Moon: Acho que a minha primeira obra literária não foi escrita, apenas pensada. Quando eu tinha uns cinco ou seis anos, comecei a imaginar histórias com heróis de seriados ou monstros e outras criaturas fantásticas de contos de fadas antes de dormir. Era assim que eu pegava no sono, contava histórias para mim mesma. Mais tarde, na época do colégio, passei a desenhar essas aventuras em forma de mangás. Mas, com o correr dos anos, acabei deixando de lado esse meu lado artístico e passei a dedicar-me totalmente à minha profissão de publicitária. Lá pelo ano de 2000, senti novamente a necessidade de expressar essa minha paixão pelo fantástico e passei a fazer parte de listas de discussão na internet, especificamente da Tinta Rubra, um grupo de escritores de histórias de vampiros. Passei a escrever quase todo dia um conto, um poema. Foi uma época legal, eu estava me exercitando e treinando para o meu primeiro livro, que publiquei em 2003, já com o pseudônimo de Giulia Moon. Esse livro, “Luar de Vampiros” (Scortecci Editora), reunia dez contos de vampiros: “A Dama Branca”, o meu primeiro conto vampiresco, os contos de Maya, a vampira preferida dos meus leitores da Internet, e alguns contos mais recentes como “Sangue de Lúcifer”. O título “Luar de Vampiros” foi uma referência ao meu nome, Giulia Moon, claro. E o luar - luz noturna – é a única claridade natural que os vampiros suportam. Acompanhei todo o processo de criação do livro, desde a capa, feita por um amigo, Beleto, até a arte final. Até hoje tenho um carinho especial pelo “Luar de Vampiros”. Afinal, o primeiro livro a gente nunca esquece... Quem quiser saber mais um pouco, pode acessar a página do livro na Internet: www.giuliamoon.com.br/luar/index.htm. Este livro está esgotado, mas ainda existem alguns volumes à venda no site da livraria Asabeça da Scortecci: www.asabeca.com.br/home.php.

Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias?

Giulia Moon: Ah, são tantas! As histórias de fadas no início. Depois, Monteiro Lobato. Mais tarde, as obras de Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Henry James, H. G. Wells e Julio Verne. Passei então por uma fase em que devorava Ficção Científica: Isaac Asimov, Arthur Clarke, Robert Heinlen, Michael Moorcock. Descobri em seguida dois ídolos: Ray Bradbury e J. R. R. Tolkien, até hoje os meus “monstros” sagrados. Comecei a escrever sobre vampiros, graças ao livro “Vampiro Lestat” de Anne Rice, a grande dama vampiresca, de quem eu li quase tudo. Adoro Stephen King, Clive Barker, Terry Pratchett. No momento, estou lendo tudo de Neil Gaiman, desde HQs até contos, artigos, blog... Ah, sim, tem também os animes! Assisto muitos animes, os japoneses produzem verdadeiras obras-primas em animação: a série e os filmes do Ghost In The Shell de Masamune Shirow; A Viagem de Chihiro e outras animações do Estúdio Ghibli... Enfim, as influências vêm e vão, depende do meu estado de espírito, eu acho. E do que estou escrevendo no momento...

Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra "A Dama-Morcega"?

Giulia Moon: “A Dama-Morcega” é uma coletânea de onze contos de terror fantástico que lancei pela Landy Editora (www.landy.com.br) em 2006, e que teve a honra de ser prefaciada pelo escritor e roteirista Rubens Francisco Lucchetti, o decano de todos nós, que escrevemos Terror no Brasil. O livro traz histórias de uma grande variedade de criaturas fantásticas: amigos invisíveis, dragões, sacis, fantasmas, gatos, demônios. E, claro, vampiros... O conto que dá nome ao livro, “A Dama-Morcega”, a mais longa – é um conto de vampiros. É uma história que eu tinha na cabeça há muito tempo, desde que li um livro muito interessante sobre aberrações médicas. No conto, uma mulher desmemoriada, estranha e assustadora, é exibida num circo de horrores em São Paulo, no início do século XX. Ela é conhecida como a Dama-Morcega, pois tem uma força extraordinária e habilidades físicas surpreendentes. No entanto, a água benta a fere e não suporta a luz do dia. Um médico, Olavo Alencar, impressiona-se com o fenômeno e resolve estudá-lo à luz da Ciência. E ambos acabam envolvidos numa teia em que se tornam tênues as diferenças entre a normalidade e a aberração física e espiritual. “A Dama-Morcega” é um conto que exigiu muita pesquisa de época, pois o cenário é a São Paulo de 1905, quando a cidade ainda tinha cerca de duzentos mil habitantes, apenas. O Matadouro Municipal ficava na Vila Mariana, na época um subúrbio afastado do centro. Enfim, além do prazer de contar uma boa história, pesquisar e recriar essa época, que sempre me fascinou, foi muito interessante.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista, qual é a real importância da participação de um escritor em uma antologia?

Giulia Moon: Participei de uma antologia pela primeira vez com o livro “Amor Vampiro” da Giz Editorial (www.gizeditorial.com.br) em 2008. Somos em sete autores, ao todo: André Vianco, Martha Argel, Regina Drummond, J. Modesto, Adriano Siqueira, Nelson Magrini e eu. Até agora, senti-me muito bem, dividindo o espaço, a publicação e as atenções com eles, pois são companheiros sensacionais, sempre alegres, entusiasmados e com altíssimo astral. Sou também co-editora da revista Scarium Megazine (www.scarium.com.br), que é, na prática, uma pequena antologia de autores brasileiros a cada edição. Compartilhar uma publicação com outros escritores é uma experiência gratificante. É uma ótima oportunidade para cada escritor mostrar o seu trabalho para um público mais amplo, que transcende os seus leitores costumeiros. Ao mesmo tempo, é um desafio escrever imaginando que o seu conto vai estar no meio de contos de outros ótimos autores. Claro que você quer ser reconhecido e se destacar, fazer bonito. E, nesse ponto, é uma competição bastante saudável. Tenho notado, também, a tendência no mercado de se produzir antologias de autores iniciantes, uma solução muito legal para dar uma chance de publicação para quem está começando. O público sai ganhando com tudo isso, pois pode provar um pouco de cada escritor, ampliar a sua lista de autores favoritos para, quem sabe, comprar o próximo livro deles.

Ademir Pascale: Como surgiu a idéia inicial na produção do livro de contos "Vampiros no Espelho & Outros Seres Obscuros”?

Giulia Moon: Os contos do livro “Vampiros no Espelho & Outros Seres Obscuros” foram sendo escritos durante três anos, de 2000 a 2003. A oportunidade para publicá-los surgiu quando a Landy Editora (www.landy.com.br) entrou em contato para saber se eu tinha algo para ser publicado. Reuni os meus contos em duas propostas: um livro de vampiros chamado “Vampiros no Espelho” e um livro com criaturas fantásticas, chamado “Seres Obscuros”. Por sugestão da editora, os dois livros acabaram sendo reunidos num só volume, com 33 contos. Portanto, o livro teve um início peculiar, como se dois gêmeos fossem reunidos num só corpo, depois de nascer. Acho que é um início interessante para um livro que trata de criaturas fantásticas, não é mesmo?
Na primeira parte, Vampiros no Espelho, há 16 contos contemporâneos de vampiros. São contos que se passam nas grandes metrópoles, mostrando o vampiro urbano, cruel, arisco, um predador. A segunda parte, Seres Obscuros, traz 17 contos de terror envolvendo criaturas fantásticas, que eu costumo denominar genericamente como “Seres Obscuros”, isto é, seres noturnos, misteriosos e assustadores. Pode ser o gato que o espreita de uma fresta do quintal. Uma assombração que perambula nos corredores. Um canibal moderno. Ou a garota que você traiu. É um livro com muita diversidade, muitas idéias, muitos personagens. Talvez hoje, com a experiência que tenho, eu não reuniria os dois livros, mas as coisas sempre acontecem na hora certa. Gosto muito do “Vampiros no Espelho & Outros Seres Obscuros”, sempre recebo e-mails entusiasmados dos leitores que me “descobriram” ao lê-lo.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado editorial brasileiro para os jovens escritores? Está sendo fácil ingressar no meio literário?

Giulia Moon: Não está fácil, mas está bem melhor do que quando comecei. Como já disse, as antologias de contos com escritores iniciantes está dando a oportunidade para novos autores publicarem, mesmo que dividindo o espaço com muita gente. Há interesse por parte de algumas editoras em publicar material nacional. A internet está treinando os iniciantes, com blogs, sites e oficinas literárias. Enfim, há muitos meios disponíveis para publicar, mas ao mesmo tempo há um número enorme de novos autores procurando se destacar. A competição aumentou, o que, espero, pode levar a uma elevação de qualidade geral do que é produzido.

Ademir Pascale: É verdade que a procura dos leitores pelo gênero ficção/terror está crescendo nos últimos tempos? Por quê?

Giulia Moon: Acho que o interesse por esse tipo de leitura sempre existiu. Stephen King é um sucesso duradouro e constante no Brasil. Nós temos o José Mojica, que criou um personagem, o Zé do Caixão, que teve o mérito de alcançar o sucesso numa época em que fazer cinema no Brasil era coisa de heróis. O que está acontecendo é que o mercado descobriu o segmento dos leitores de literatura fantástica, após o boom dos filmes de fantasia nos últimos anos, como Harry Potter e Senhor dos Anéis e, recentemente, com as adaptações de HQ como o Homem-Aranha, Homem de Ferro e Batman. O Terror, assim como a Ficção Científica e a Fantasia, estão na moda, o que, espero, não seja uma onda passageira, mas o início da formação de um mercado sólido e permanente. Para isso, nós, escritores, e as editoras devemos produzir livros de qualidade, para conquistar de forma definitiva esse público que vem nos ler, atraídos pelo cinema ou pela TV. E mostrar a ele que o autor brasileiro tem talento e merece ser prestigiado e comprado.

Ademir Pascale: Quando o site www.giuliamoon.com.br foi ao ar?

Giulia Moon: O site foi ao ar em 2003, se não me engano. Quem idealizou o site foi o meu amigo Tetsuo Matunaga. A idéia dos olhos de gato na apresentação inicial em Flash foi dele... Eu adorei, claro! Eu amo gatos. Lá vocês poderão encontrar alguns contos curtos, poemas e links para algumas ilustrações minhas a lápis. E informações detalhadas sobre os meus livros.

Ademir Pascale: E o que você diz do FicZine?

Giulia Moon: O FicZine é um zine em formato pequeno, sempre com um tema especial para cada número, que Martha Argel e eu criamos para divulgar o nosso trabalho. Já tivemos os FicZines de Natal, de Vampiros, de Heroínas, de Lobisomens, sempre com um conto inédito meu e outro da Martha, mais o de um autor convidado. O FicZine 6, o último, tem como tema "Fantasmas" e, pela primeira vez, não tem um convidado especial. Foi engraçado, de repente, Martha e eu quisemos um FicZine só para nós, sem dividir com ninguém... Foi um momento egocêntrico nosso, que acabou resultando num número bem legal: o conto “Motoqueiro Sem Cabeça” da Martha e “Vanda Volta, Vingativa”, um conto meu. Totalmente feito em casa: até a ilustração da capa é minha!
Os FicZines são distribuídos gratuitamente em eventos, aqui em SP. Para dar download, também gratuito, da versão virtual dos FicZines, é só acessar o site da Scarium Megazine ou acessar o meu site: www.giuliamoon.com.br

Perguntas rápidas
:

Um livro: no momento, “Coisas Frágeis”, de Neil Gaiman
Um (a) autor (a): Ray Bradbury, sempre
Um ator ou atriz: Heath Ledger
Um filme: O Labirinto do Fauno
Um dia especial: 13 de fevereiro de 2004
Um desejo: que quem eu amo seja feliz

Ademir Pascale: Foi um grande prazer entrevistá-la. Desejo-lhe muito sucesso.

Giulia Moon: Obrigada, Ademir. Parabéns pelo seu site e pelo seu trabalho de divulgação da literatura fantástica brasileira.
  

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistada: Giulia Moon.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

Indique esta entrevista para um amigo! Clique Aqui      

 


© Cranik - 2003/2008