ENTREVISTA COM O ESCRITOR ALEXANDRE HEREDIA

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor Alexandre Heredia.
 (07/08/08)

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Alexandre Heredia - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início de Alexandre Heredia na literatura.

Alexandre Heredia: Meu início não foi diferente da maioria dos escritores. Não sou um alienígena, não fui picado por uma aranha radioativa, nada disso. Sou apenas um aficionado por leitura desde antes mesmo de aprender a ler. Aliás, a vontade era tanta que aprendi a ler por conta própria. Era um leitor voraz. Lia de tudo. Essa paixão só aumentou quando, em 1989, minha mãe abriu uma locadora de livros aqui em São Paulo e me colocou para trabalhar lá. Foi a época que mais li em minha vida (em média 10 livros por mês) e que começou a fomentar a vontade de não apenas ler, mas também escrever. Escrevi alguns contos experimentais e, aos 16 anos, já me achei maduro o suficiente para escrever um romance. O resultado pode ser lido de graça na internet. O livro chama-se A Espada de Taranis e, mesmo hoje eu o considerando uma obra incrivelmente imatura, faz algum sucesso com os leitores. Depois disso simplesmente parei. Apenas 10 anos mais tarde decidi retomar essa carreira, motivado não apenas pela paixão pelas letras, mas também por uma indignação profunda com a produção de suspense e terror da época.

Ademir Pascale: Quais são suas principais influências literárias?

Alexandre Heredia: Não gosto de citar influências, pois elas mudam de acordo com o tempo e com minha cabeça. Já idolatrei obras de autores de gêneros diversos: Luis Fernando Veríssimo, Henfil, Machado de Assis, Clarice Lispector, Céline, John Fante, Charles Bukowski, Franz Kafka, Isaac Asimov, Kurt Vonnegut, Chuck Palahniuk... São muitas as referências. Atualmente estou relendo alguns clássicos e livros considerados seminais, mas de uma maneira mais crítica, tentando compreender o que exatamente eles fizeram para que se tornassem clássicos.

Ademir Pascale: Conte um pouquinho pra gente como foi o seu trabalho no desenvolvimento como co-editor do zine Necrozine.

Alexandre Heredia: O NecroZine surgiu de uma necessidade de um grupo de autores, até então desconhecidos, de ser lido. O grupo se uniu com este objetivo. Estávamos cansados de apenas escrever em listas de discussão na internet. Queríamos levar essa carreira a sério, ampliar os horizontes. Criamos então o NecroZine. Todos contribuíam, não apenas escrevendo, mas também na arte, revisão, diagramação, divulgação e distribuição. As sementes da coleção Necrópole foram lançadas lá, não apenas com os autores participantes, mas também com a qualidade gráfica, um custo acessível e com textos primando pela originalidade. Foi uma experiência excelente, que cimentou as fundações de minha carreira.

Ademir Pascale: Sou fascinado pela história da condessa Ersébet Báthory e do seu provável primo romeno Vlad Tepes. Como surgiu a idéia inicial para a criação da obra O Legado de Bathory?

Alexandre Heredia: Descobri a história da condessa Bathory totalmente por acaso. Foi fascinação à primeira vista. Era uma história espetacular demais para ser simplesmente ignorada. E era real! Durante dois anos pesquisei tudo que era possível a respeito. Só que desde o começo não senti vontade ou segurança para escrever uma biografia. Eu queria usá-la. Queria pegar aquela trama sinistra e transformá-la em semente de uma história completamente diferente. Daí surgiu a idéia de focar a trama não em sua vida, mas em seu legado, em sua herança. Dessa idéia saiu O Legado de Bathory e mais dois romances (que serão lançados em breve).

Ademir Pascale: Como foi a sua participação na excelente obra Visões de São Paulo (editora Tarja)?

Alexandre Heredia: O organizador do livro foi Richard Diegues, que havia criado junto comigo e os outros autores tanto o NecroZine quanto a coleção Necrópole. Ele já conhecia meu trabalho e minha seriedade neste ramo, então o convite veio naturalmente. Meu conto neste livro, Vira latas, foi lido e analisado por intelectuais e professores de literatura durante um curso de Literatura Paulista ministrado na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e colheu muitos elogios acalorados. É um dos textos que tenho mais orgulho de ter escrito.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado editorial brasileiro para os jovens escritores que desejam ingressar no meio literário?

Alexandre Heredia: Em termos de mercado editorial o cenário está um pouco melhor agora do que estava há dois ou três anos. Hoje vemos mais editoras investindo nos novos autores e procurando a nova “geração XX”, não só na literatura “convencional”, mas também na chamada “de gênero”. Mas não pense que por conta disso será uma tarefa fácil ver seu trabalho publicado. E não deve ser mesmo! Sou favorável a uma seleção rígida de trabalhos a serem transformados em livro. Tem muita gente aí querendo publicar seus textos apenas para massagear seus egos e poder declarar nas mesas de boteco que são “escritores”. Acho isso desrespeitoso para autores que se preocupam não apenas em publicar, mas em criar obras sérias, relevantes, bem escritas, originais e, acima de tudo, que contribuam para o avanço da literatura. Se há um conselho que eu poderia dar, este seria: antes de pensar em ser escritor, que tal pensar no que você quer contar, como contribuir culturalmente? E não apenas o que, mas COMO contar essa história sem ficar simplesmente fotocopiando outros autores. Escrever apenas para massagear o ego pode ser divertido, mas é uma satisfação oca e de vida curta. Escreva por prazer, por tesão, para alcançar seus leitores com suas histórias. Para estimular seus raciocínios, emoções e anseios. Para passar uma mensagem qualquer, desde que haja uma. Não escreva pela fama ou pelo dinheiro (até porque esse não é o melhor jeito de alcançar esses objetivos...). Lembre-se que não há recompensa maior para um autor que um calafrio, uma lágrima ou a ausência de fôlego de um leitor. O resto é conseqüência.

Perguntas rápidas:
Um livro: O Jardim do Diabo – Luis Fernando Veríssimo
Um(a) autor(a): Charles Bukowski
Um ator ou atriz: Sem preferências.
Um filme: Adaptação (roteirizado pelo gênio Charlie Kaufmann)
Um dia especial: Amanhã.
Um desejo: Preciso escolher um? Tenho tantos...

Ademir Pascale: Foi um grande prazer ter essa conversa contigo. Desejo-lhe muito sucesso em suas empreitadas literárias.

Alexandre Heredia: Eu que agradeço a oportunidade. Um grande abraço!
  

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado: Alexandre Heredia.
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