Entrevista com Janice Castro

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista a atriz, roteirista e lingüista, Janice Castro.
 (26/01/07)

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Janice Castro - Crédito da foto: Paulo Eduardo Cecconello

Mini-Biografia: Graduada em Letras pela PUC São Paulo (bacharelado e licenciatura). Pós-graduada em Economia Financeira pela UNICAMP. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas: “Cinema – Negativo”, em Campinas. Diversos cursos na área cultural: Produção Cultural e Marketing Cultural (Instituto Kavantan), Técnicas de Negociação (UNB), Formatação de Projetos Culturais (SENAC Lapa/SP), História da Arte por Jorge Mautner (Aulas do Kaos – Instituto Pensarte), Curso livre de teatro pelo Grupo TÉSPIS (2005). Roteirista do curta-metragem “Hora H”, inscrito no Festival do Minuto 2006. Atriz no ensaio cênico “Ascensão e Queda de Mahagonny”, do Grupo de Teatro Téspis de Campinas, em 2005. Organizadora, articulista e relações públicas do “Negativo” desde seu primeiro número em Setembro de 2006. Captou recursos para colocar o “Negativo” na rede e formatou o projeto para a Lei Rouanet.
Atua como captadora de recursos para Associação Cultarte e relatora da Câmara Temática de Cinema de Campinas.

Ademir: Como foi o início da paixão pela sétima arte?

Janice Castro: No início dos anos 60, em Araçatuba, interior de São Paulo, assistia aos filmes do Mazzaropi. Eu sabia que existiam muitos outros filmes e muitos livros que eu desconhecia, aos quais não tinha acesso por falta de recursos financeiros.. Nosso orçamento bastante apertado impossibilitava a realização de meus dois grandes desejos: ir ao cinema e comprar livros freqüentemente. Comecei a trabalhar bem nova, vislumbrando a possibilidade de concretizar esses sonhos. Mais tarde, fui cursar letras, pelo encantamento que a linguagem me proporcionava. Mas o encantamento girava também em torno da linguagem cinematográfica, e não somente em torno da linguagem escrita. O cinema é uma linguagem rica e camuflada, mas grande parte dos espectadores não sabe distinguir com precisão efeitos de montagem, enquadramentos, iluminação e outros recursos lingüísticos utilizados na sétima arte.É necessário um treinamento visual para o entendimento do cinema e dos acontecimentos, ou seja para o entendimento do mundo. A animação, por exemplo, além de desenvolver a criatividade, desenvolver um estilo próprio de desenho, aguçar o poder de síntese, também é um excelente instrumento educacional.

Ademir: Quando e por que o site "Negativo" foi criado?

Janice Castro: O MIS-Campinas exibe filmes às sextas (19 horas), com debates após a exibição.
Às vezes, um grupo de pessoas esticava a conversa até altas horas, num boteco qualquer das redondezas. Todos amantes e estudiosos de cinema, cada um a seu modo.
Inicialmente pensamos em criar um jornal impresso, mas desistimos por causa de inúmeras dificuldades. Optamos por um site, aproveitando os conhecimentos da Débora (web) e por envolver um custo mais baixo, entre outros motivos.
Agitação total para fazer algo inovador, democrático, e que ocupasse um espaço cultural em aberto na cidade. Queríamos ir além da crítica. Queríamos divulgar e discutir cinema, queríamos um link entre a sétima arte e as outras. Queríamos um diálogo com as diferentes áreas do conhecimento, queríamos reflexão sobre política cultural – e também escrever e mostrar nossas produções e outras produções artísticas independentes e desconhecidas.
Logo depois conheci o Maurício Squarisi, cineasta de animação, na Câmara Temática de Cinema de Campinas. Ele idealizou o logo e aceitou coordenar o espaço sobre “Cinema de Animação”. As primeiras conversas começaram em junho, mas somente em setembro de 2006 o “Negativo” foi para a rede.

Ademir: Qual é a sua função no site?

Janice Castro: Embora tenhamos diversos colaboradores, o grupo de organizadores é pequeno. Portanto, cada um de nós exerce mais de uma função. No momento, estou me dedicando mais à divulgação e captação de recursos e apoio. Temos como objetivo, não só mantê-lo no ar, mas também aprimorá-lo a cada dia..

Ademir: Poderia fazer um breve comentário sobre o curta-metragem “Hora H”?

Janice Castro: O curta-metragem “Hora H” surgiu numa conversa rumo ao MIS de Campinas. Um grupo de amigos, que se conheceu numa oficina de cinema, queria fazer um filme experimental, cujo assunto seria a Internet, para o “Festival do Minuto”. A idéia surgiu de uma divagação dadaísta, mas resultou num minuto de humor trash.
Vocês poderão assistir ao “Hora H”, a partir do próximo dia 10/02, no www.negativoonline.com .

Ademir: Fiz uma pesquisa e descobri que os documentários no Brasil estão em baixa e, acredito que sempre estiveram. A maioria dos filmes documentais é educacional e cultural. No seu ponto de vista, o que falta para promovê-los, fazendo com que cheguem ao conhecimento das classes sociais mais baixas?

Janice Castro: De modo geral, os menos favorecidos não têm acesso aos documentários e nem aos outros gêneros cinematográficos.
Existem sim, importantes ações de inclusão, entretanto, a maioria delas é pontual. Temos em Campinas a CULTARTE, uma associação sem fins lucrativos, que tem como um dos objetivos democratizar o audiovisual, criando projetos de descentralização da produção audiovisual e capacitação de comunidades carentes nesse ramo.
O seu projeto “Vá ao Cinema” é um outro belo exemplo. Não preciso falar das dificuldades em se manter e melhorar projetos assim!
Entretanto, ambos precisam ser aperfeiçoados e ampliados com recursos públicos, uma vez que devem fazer parte de uma política cultural. Não falo apenas de recursos financeiros, mas também de pesquisa, fomento ao estudo, disponibilização de recursos humanos capacitados e em número suficiente, um plano estratégico para cada cidade, etc.
Tivemos alguns avanços na gestão do ministro Gilberto Gil, mas há muito caminho a percorrer. Ofereçam o necessário à periferia e ela mesma fará seu documentário. Com certeza, aparecerão obras de qualidade e com boa aceitação pelo público. Elementos de fora podem determinar a cultura local periférica? Acredito que não. Tomo como exemplo o “Nenhum motivo explica a guerra: AfroReggae”. A história registra o trajeto do grupo musical “AfroReggae”, criado nos anos 90 a partir de oficinas musicais. A iniciativa fomentou outras, para projetos culturais dirigidos aos jovens carentes do país.
Outras constatações: 1.Em 2006 foi lançado comercialmente um grande número de documentários. 2. Não há no país uma cultura voltada para esse gênero cinematográfico.
3. Grande parte desses lançamentos atinge um reduzido número de espectadores.

Acredito que exista um campo promissor, pouco explorado na TV, para esse gênero. O DocTV e o Documenta Brasil comprovam os benefícios da união documentário e TV.
O aproveitamento de espaços culturais específicos para esse gênero, em regiões de baixa renda, com exibição e debate sobre o filme, também se apresenta como opção. A conversa sobre a obra levaria informações/conhecimento para aquela área geográfica e traria informações/conhecimento para outras.

Ademir: Você acredita que existiu uma melhora no cinema nacional? Se sim, em quais quesitos?

Janice Castro: O número de lançamentos nacionais aumentou consideravelmente. Entretanto, não ocorreu aumento de público. Mais uma vez, insisto na necessidade de formação de público, alocação de recursos para tal e pontos alternativos de exibição. As leis de incentivo alteraram o panorama cultural e auxiliaram o reconhecimento do setor, mas também ocasionaram um certo “comodismo”, uma vez que os produtos culturais não necessitam de retorno de bilheteria para serem concretizados.
Por outro lado, em virtude do risco financeiro, filmes realmente diferentes e plurais não encontram espaço para exibição, nem mesmo nos alternativos. Eles são encarados como prejuízo e não como investimento. Não se pensa em lucro futuro, com a formação de público.
Pergunto: Os chamados pontos alternativos cumprem esse papel?
Parece-me que os poucos existentes estão fechando as portas e outros aderiram à lógica comercial por questões de sobrevivência.
É impossível ao governo contribuir, para isso doando equipamentos e diminuindo a carga tributária, por exemplo? Não estou falando em disponibilizar altas somas de recursos financeiros.

Ademir: Se pararmos para refletir e nos lembrarmos dos atores protagonistas dos filmes nacionais, logo teremos em mente os mesmos atores conhecidos das novelas, que podem ser bons atores "nas novelas", mas péssimos no cinema. Existem casos de sucesso em filmes nacionais usando atores não conhecidos da massa brasileira, como "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles. Assistindo a filmes internacionais, sempre notamos novos atores. Será que o cinema no Brasil não deveria apostar mais em novos atores?

Janice Castro: Acredito que esta proposta seja válida também para outras áreas. Pessoas, idéias, formatos, e formas diferentes, podem levar a um resultado mais rico e inovador.

Ademir: Pegando o gancho da última pergunta, o que você acha dos mesmos diretores estarem sempre tendo ótimo apoio financeiro em filmes nem sempre bem cotados, enquanto que ótimos diretores, criativos e cheios de novas idéias, não conseguem nenhum apoio e acabam desistindo, decorrente das grandes dificuldades de se produzir um filme no Brasil?

Janice Castro: Infelizmente, grande parte das empresas privadas incentivadoras busca tão somente a renúncia fiscal. Nesse caso, o critério de escolha para o incentivo é somente a visibilidade comercial, ou seja, a publicidade. Os critérios de escolha passam a ser da iniciativa privada, atendendo aos seus interesses.
Sem entrar no mérito qualitativo dos filmes “Antonia” e “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, que levaram os 400 mil reais, oferecidos pela Petrobrás na Mostra de SP de 2006, questionamos: Os ganhadores precisavam mesmo do dinheiro para distribuição dos filmes? Outros bons cineastas, com dificuldades reais de distribuição, foram prejudicados?

Ademir
: No seu ponto de vista, o que pode ser feito para que o Brasil reduza essa porcentagem de exclusão social e cultural?

Janice Castro: Não existe inclusão sócio-cultural sem redistribuição de renda e qualidade de vida, o que obriga a um leque de medidas amplas, consistentes e que quase sempre desagradarão a uma pequena, mas poderosa, parcela da população.
Várias medidas colaboram para a redistribuição de renda e para o desenvolvimento sócio-econômico de um país, uma delas é a cultura, principalmente através da geração de empregos diretos e indiretos. Em 1997 a produção cultural movimentou cerca de 1% do PIB (soma das riquezas produzidas no país) e atualmente movimenta cerca de 3%.

Ademir: Algumas perguntas rápidas:

Janice: Deixe-me dar ao menos duas respostas rápidas...rs...rs...

Longas: “O Invasor” (Beto Brant) e “Veludo Azul” (David Linch).

Curtas: “Um Cão Andaluz (Buñuel e Salvador Dali) e “A Velha a Fiar” (animação dirigida por Maurício Squarisi).

Diretores: Beto Brant e David Linch.

Atores: Ricardo Darín (o argentino que protagonizou “O filho da Noiva”).

Uma atriz: Fernanda Montenegro.

Um momento no mundo da sétima arte: “Tudo Sobre Minha Mãe”, de Almodóvar. Um pouco de “A Malvada”, “Um Bonde Chamado Desejo” e “Noite de Estréia”, são referências que se juntam para salientar a emoção do filme. Os estudantes da área diriam que a função metalingüística está a serviço da função emotiva.

Ademir: Foi um grande prazer ter essa conversa com você. Desejo-lhe muito sucesso.

Janice: Muito sucesso para você também. Agradeço em nome da equipe do site www.negativoonline.com
Nosso e-mail para contato é negativo@negativoonline.com
Aguardamos a “visita” de vocês. 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale Cardoso - ademir@cranik.com
Entrevistada: Janice Castro.
E nos informar pelo e-mail: webmaster@cranik.com 

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