Entrevista com o autor, Luis Eduardo Matta.
O Administrador do cranik "Ademir Pascale"  entrevista o autor, Luis Eduardo Matta. (28/11/06)

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Nascido no Rio de Janeiro em 1974, Luis Eduardo Matta publicou seu primeiro livro, “Conexão Beirute-Teeran”, aos 18 anos. Pioneiro no Brasil do thriller não-policial, é autor de romances como “Ira Implacável” (2002) e “120 Horas” (2005) e um dos poucos escritores brasileiros exclusivamente dedicados à literatura de suspense e mistério. Além disso, tem vários artigos publicados, muitos dos quais voltados para a questão da leitura e do livro no Brasil. No primeiro trimestre de 2007, Matta lançará pela Coleção Vaga-Lume da Editora Ática o seu primeiro livro infanto-juvenil, “Morte no Colégio”, um thriller sobre a busca de antigos manuscritos que provariam a existência do continente perdido de Atlântida.


O Autor Luis Eduardo Matta

Ademir: Quando foi o início de sua carreira literária?

Luis Eduardo Matta: Descobri a minha vocação literária e o meu desejo de ser escritor aos 17 anos, num fim de noite de janeiro de 1992, enquanto assistia a uma entrevista de Jorge Amado e Zélia Gattai no programa do Jô Soares. Comecei, então, a escrever o meu primeiro livro “Conexão Beirute-Teeran”, que foi finalizado três meses depois e lançado no ano seguinte.

Ademir: Algum autor o inspirou no início de sua carreira? Se sim, qual?

Luis Eduardo Matta: Creio que Jorge Amado e sua obra foram muito marcantes para mim naquele princípio de carreira, embora a minha literatura nenhuma semelhança tenha com a dele.

Ademir: Poderia fazer um breve comentário sobre a obra "Conexão Beirute-Teeran"?

Luis Eduardo Matta: É um thriller passado no Brasil e no Oriente Médio, sobre o esforço de um grupo de espiões para evitar que uma nova guerra-civil seja deflagrada no Líbano. É bom salientar que o livro foi escrito no começo de 1992, quando o Líbano mal havia acabado de sair de um sangrento conflito que durou quinze anos e se encerrou no final de 1990. A memória da guerra estava muito presente e o livro reflete isso, o clima daquela época.

Ademir: Qual foi a receptividade dos leitores com a recente obra "120 Horas"?

Luis Eduardo Matta: Foi muito acima das minhas expectativas. “120 Horas” teve uma repercussão excelente e a vendagem tem sido muito boa. Vários leitores me escrevem semanalmente, do Brasil todo, dando suas impressões.

Ademir: A pesquisa "Retrato da Leitura no Brasil", da Câmara Brasileira do Livro (CBL), apontou que somente 17 milhões de brasileiros com mais de 14 anos, compram ao menos um livro por ano e que, em cada 100 brasileiros adultos alfabetizados, o hábito da leitura é comum a apenas 30. Você acredita que esse desinteresse é conseqüente da falta de bibliotecas públicas, analfabetismo, do incentivo à leitura ou mesmo, devido ao baixo poder aquisitivo da população?

Luis Eduardo Matta: É tudo isso junto e mais alguma coisa. Além do analfabetismo e do analfabetismo funcional, problemas crônicos que, vergonhosamente, nós, brasileiros, não conseguimos ainda resolver, há a questão da falta de incentivo à leitura nas escolas, que é, no meu entendimento, a maior causadora da baixa leitura no país. Pela minha experiência e por tudo o que observo, leio e ouço falar, o ensino de literatura é muito deficiente no Brasil em vários sentidos. Ou as escolas não possuem aulas de literatura e os alunos acabam não tendo contato algum com os livros ou, então, as aulas de literatura são inadequadas e não estimulam uma relação natural e prazerosa com os livros, optando por uma abordagem excessivamente didática da literatura, quando esta relação deveria ser lúdica. Afinal, o gosto pela leitura somente se enraíza nas pessoas, quando os livros são vistos como objeto de lazer e não como uma obrigação. Você já ouviu falar de alguém que assista telenovelas ou jogue videogame por obrigação? É claro que não. Então, é preciso repensar a metodologia de ensino de literatura nas escolas, para que possamos formar leitores apaixonados, em vez de, apenas, obrigar os alunos a ler livros que não lhes interessam para fazer um teste chato de interpretação dali a um mês. Está mais do que provado que o procedimento em vigor atualmente não funciona e que envenena qualquer apreço que o jovem poderia ter pela leitura, fazendo dele um adulto não-leitor. Já com relação ao preço do livro, ele, de fato, é alto em relação ao poder aquisitivo da população. Mas esse é um problema apenas para quem já é leitor, para quem já compra livros, que são essas 17 milhões de pessoas mencionadas na pesquisa da CBL. Para os demais 160 milhões de brasileiros que não lêem, o preço pode cair a dez centavos que eles continuarão não comprando livros, pela simples razão de que eles não gostam de ler.

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           livro - 120 Horas - Editora Planeta      Livro - Ira Implacável - Razão Cultural

Ademir: Qual a sua opinião referente as estratégias das editoras para atrair novos leitores?

Luis Eduardo Matta
: Posso estar enganado, mas não vejo muito movimento por parte das editoras no sentido de formar novos leitores. Vejo, isso sim, elas disputando fatias do diminuto mercado já existente. Para formar leitores, repito, é preciso atacar o problema na raiz, ou seja, nas salas de aula.

Ademir: No seu ponto de vista, a alfabetização poderia ser melhorada em nosso país? Se sim, por quê?

Luis Eduardo Matta: A alfabetização e o ensino de português e de literatura precisam, urgentemente, ser reformulados. Vejo pessoas formadas, com diploma de boas universidades, que têm dificuldade de interpretar um parágrafo simples, que se perdem ao escrever uma carta, que não conhecem regras elementares da gramática portuguesa. Isso tudo é resultado de uma formação cultural deficiente, conjugada com uma mentalidade muito em voga hoje em dia de que o importante é ter um diploma, ainda que não se tenha o conhecimento necessário para honrar este diploma. Então, as escolas preocupam-se muito mais em preparar mecanicamente os alunos para o vestibular do que em lhes dar uma formação cultural e humanista sólida, que estimule o livre pensamento e a capacidade de refletir com clareza e independência sobre a vida, a arte, o mundo, a sociedade e a condição humana.

Ademir: Será que o indivíduo que lê e compreende perfeitamente a leitura, não tenderá ao habito de ler cada vez mais?

Luis Eduardo Matta: Claro que sim. Leitura, acima de tudo, é treino. Não importa o que se leia. A leitura regular, por si só, já proporciona ganhos imensuráveis para uma pessoa. Desde desenvolver a capacidade de concentração, até a familiaridade com a palavra escrita e com a norma culta do idioma no qual se lê. Uma pessoa, por exemplo, habituada a só ler best-sellers e livros de entretenimento, que são obras consideradas pela crítica acadêmica como menores, estará mais do que habilitada a imergir numa leitura mais densa e mais sofisticada, se esta lhe cair nas mãos. Por isso eu defendo a literatura de entretenimento como algo que deve ser valorizado. A literatura do dia-a-dia não precisa ser extraordinária, não precisa ser sempre a melhor literatura, desde que o indivíduo leia com prazer e tenha no objeto livro, acima de tudo um grande companheiro para todas as horas.

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Livro: Morte no Colégio - Editora Ática

Ademir: Qual a sua opinião referente às obras que estão sendo lançadas recentemente no mercado de baixíssimo cunho literário e que estão entre os livros mais vendidos do país? Qual seria o motivo da alta aprovação do brasileiro por essas obras?

Luis Eduardo Matta: Olha, eu tenho uma posição muito liberal em relação a isso. Os livros são publicados, postos à venda e se uma pessoa se interessa em comprá-los e lê-los, por que ela não deveria fazer isso? Cada um tem o direito de escolher o que ler. As deficiências do ensino de literatura no Brasil geraram algumas distorções, entre elas, o enorme abismo que existe entre o que as pessoas desejam ler e o que a elite intelectual acha que elas deveriam ler. Obras apelativas, como as memórias dessa ex-garota de programa paulista, cujo nome, no momento, não me ocorre, sempre existiram e sempre fizeram sucesso no mundo todo. A diferença é que, no passado, esses livros eram proibidos pelos rigores de sociedades mais rígidas, isso quando não eram queimados em praça pública e o autor severamente punido. Hoje, felizmente, existe mais liberdade. Obras de baixo cunho literário sempre foram e sempre serão lançadas. O que precisamos é aumentar o número de leitores no Brasil, para que se amplie o consumo de obras mais sofisticadas, mais literárias que, hoje, é baixíssimo.

Ademir: Quando o site www.lematta.com foi ao ar?

Luis Eduardo Matta: Em novembro de 2002, na mesma semana do lançamento do meu livro “Ira Implacável”. O site ficou alguns meses no ar em caráter experimental até que, em setembro de 2003, fiz uma boa reformulação, dando-lhe a fisionomia atual.

Ademir: O trabalho das editoras na avaliação de uma obra é muito complexo e muitas vezes, quase impossível de ser entendido. Na sua opinião, o que é avaliado em uma obra: o currículo do Autor; realmente a obra ou eles avaliam outros fatores? Por que é tão difícil conseguir publicar uma obra em nosso país? O que poderia ser melhorado?

Luis Eduardo Matta: Não tenho a menor idéia de como funciona esse processo de avaliação. Isso varia muito de editora para editora. O currículo do autor é importante, se ele já for alguém de destaque na área sobre a qual está escrevendo, mas pode ser irrelevante se ele escrever mal ou não tiver nada de interessante a dizer. O que eu posso afirmar é que a avaliação de um original em qualquer editora é um processo sempre muito subjetivo, do mesmo modo que a leitura de um livro é muito subjetiva. Um mesmo livro pode ter um parecer devastador de uma editora e em outra receber os maiores elogios e ser publicado. Não podemos nos esquecer de que os pareceristas de editoras são, antes de tudo, leitores, que têm seus gostos, suas opiniões, seus pontos de vista e que podem, muito bem, errar numa avaliação. “A Firma”, de John Grisham, por exemplo, que foi um dos maiores sucessos literários da década de 90 e vendeu milhões de exemplares no mundo todo, foi recusado friamente por dezenas de editoras nos Estados Unidos, antes de conseguir ser lançado. O problema é que, no Brasil, os originais que chegam a uma editora, descontados aqueles totalmente destituídos de qualidade ou que não se afinam com o perfil da casa, muitas vezes não são lidos ou são mal lidos. E há a questão do mercado. Um autor iniciante dificilmente dá retorno a uma editora, seja em prestígio, seja em vendas. Um escritor precisa de tempo para se firmar e se projetar. É um processo lento e vivemos numa sociedade muito imediatista, que só pensa no agora. As editoras no Brasil ainda não se profissionalizaram o bastante para pensar a longo prazo e isso se deve às dimensões acanhadas do nosso público leitor, que precisa crescer para poder abrigar novos autores e novas vertentes literárias.

Ademir: Agradeço pela simpatia e presteza nas respostas. Um grande abraço e sucesso em suas empreitadas literárias.

Luis Eduardo Matta: Também agradeço. Foi uma grande satisfação ter essa conversa com você e estar aqui no portal Cranik.

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© Cranik

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Entrevistada: Luis Eduardo Matta.
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