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Entrevista com Willians Fausto Silva, Jornalista e Diretor de Cinema
O Administrador do cranik "Ademir Pascale"  entrevista o Jornalista, Crítico e Diretor de Cinema Willians Fausto Silva (02/04/06)

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Willians Fausto Silva é jornalista, crítico, diretor de cinema, articulista do Portal Cranik e diretor do documentário "Brasília Paulista". Hoje concede entrevista exclusiva ao Portal Cranik.

Ademir: Olá, Willians. Agradeço por aceitar a entrevista. Para iniciarmos, gostaria de saber porque você escolheu o “Jornalismo” e desde quando começou o seu grande interesse pelo cinema?

Willians: Trabalhar com comunicação social, principalmente com jornalismo é uma coisa muito sedutora. Televisão, Internet, rádio, jornal, cinema e outros meios de comunicação são ferramentas que hoje determinam a maneira como as sociedades se organizam e acreditar que você vai ter pelo menos uma pequena fatia de todo esse poder na mão é muito atraente. Na época do vestibular ainda acreditava que no final da festa sobrava um pedaço do bolo pra todo mundo. Mas a coisa não é assim. A concentração na posse das propriedades dos meios de comunicação é enorme. E isso faz que a maioria dos espaços para os profissionais de comunicação sirvam apenas para confirmar a opinião de anunciantes e de alguns poucos proprietário de veículos de comunicação. Mas é preciso trabalhar para pagar as contas no final do mês. Acho que quando você não se dá conta dá contradição que há nas atividades do jornalista fica mais fácil.

Agora falar de cinema é até um pouco de canalhice de minha parte. Jornalista aprende a pensar o mundo através da escrita. Mesmo quando pensa para rádio e TV ele constrói antes o resultado do seu trabalho no papel. Com cinema é diferente. Cinema é essencialmente imagem e som. Oralidade junto das visualidades. Para concertar essa falha na minha formação tenho visto muita coisa e ando lendo outras sobre cinema. Também estou assistindo aulas no mestrado em Multimeios da Unicamp. Mas foram meia dúzia de aulas até agora. E não vi tantos filmes e livros assim. E como contrapartida destes filmes vistos e leituras, e agora das aulas, tento fazer alguns documentários.

Ademir: Como foi ser o diretor do documentário "Brasília Paulista"? (veja mais aqui)

Willians: Acho que o maior erro que cometi neste documentário foi colocar meu nome como diretor nos créditos. Uma injustiça da minha parte. O filme é um curta-metragem feito em um assentamento rural por camponeses militantes do MST. Eu fui até o assentamento Laudenor de Souza e propus algumas oficinas de formação em audiovisual. Junto do Marcio, um camponês formado em comunicação social que mora no assentamento, e outros camponeses percorremos as casas das 26 famílias que compõem o Laudenor. Ensinávamos a eles os conhecimentos técnicos suficientes para manusearem uma câmera mini-dv. Sem trabalhar questões estéticas, apenas queria saber de que maneira ficaria um documentário em que o camponês saísse da condição de objeto do filme e passasse a condição de realizador, de sujeito do documentário. Para que essa idéia fosse efetiva não elaborei nenhum roteiro prévio e tinha a intenção de poder editar o filme junto dos camponeses. O problema que tinha pouco dinheiro para fazer o filme, muito pouco. Só conseguir fazer o filme porque recebi o apoio da Secretária Estadual de Comunicação do MST em São Paulo e porque fui mandado embora de meu antigo emprego de cobrador de bancos. Com o dinheiro que recebi de indenização comprei algumas fitas mini-dv, peguei uma câmera emprestada da secretária do Movimento, arrumei outra câmera e fui para o assentamento. Levei também um data show da Unesp para que pudesse exibir alguns documentários a noite no assentamento nos dias que passei por lá e para que os camponeses pudessem acompanhar o andamento do trabalho e iniciassem a seleção do que deveria compor o filme. Falando assim até parece que sou um aventureiro, corajoso. Nada disso... Sou bem bunda mole até, mas tinha a necessidade de fazer um trabalho desta natureza.

Ademir: Em todos os aspectos, como você acha que anda o cinema nacional?

Willians: O fato de o Eduardo Coutinho e do Nelson Pereira dos Santos estarem vivos e produzindo já é um bom sinal de que a coisa não vai tão mal. Mas também sou contemporâneo às produções de minha geração. O Paulo Sacramento, a Ana Carolina, o Carlos Reichenbach e mais uma dezena de novos realizadores têm insistido em trabalhar com cinema e disso nasce uma porção de coisas boas. Isto mantém o cinema nacional vivo mesmo com toda as dificuldades comuns aos realizadores.

Ademir: Qual foi o filme que mais marcou a sua vida e por quê?

Willians: O filme que mais marcou minha vida foi o que fiz com os trabalhadores rurais, o Brasília Paulista. Aprendi muito convivendo com os camponeses do assentamento Laudenor de Souza. É curioso a maneira que a mídia apresenta a zona rural. Hoje o espaço urbano, as metrópoles são mostrados como lugares privilegiados da vida moderna. Se você opta por morar na zona rural logo te taxam de jeca, de caipira. Os filmes do Mazzaropi contribuíram muito para isso. Ainda hoje as pessoas associam a ingenuidade e a pobreza aqueles querem viver da agricultura familiar. O MST e outros movimentos sociais rurais levam esta herança histórica nas costas. Além disso, tem a criminalização que toda atividade feita por eles sofre na Imprensa. Com o Brasília Paulista não queria tomar partido do Movimento. Apenas queria dar a possibilidade que aqueles camponeses criassem uma notícia, um documentário a partir do ponto de vista deles, através da voz deles. Tenho certeza que conseguimos isso. Esteticamente o filme não é nenhuma produção hollywoodiana. Mas é uma percepção do campo e da questão agrária que não conhecemos e, na maioria das vezes, nem nos interessamos em conhecer. Poder ampliar o meu discurso, conseguir dialogar com aqueles camponeses e ver nascer um filme da natureza do Brasília Paulista marcou minha vida.

Ademir: O que você acha dos projetos culturais que incentivam o cinema e a inclusão social no Brasil?

Willians: Iniciativas que pretendem democratizar o acesso às produções cinematográficas são muito válidas. Levar cinema àqueles que estão à margem da vida cultural no Brasil é algo que deve sempre ser estimulado. Mas é preciso também democratizar o acesso à produção de objetos culturais. Fazer com que os meios de produção e o dinheiro das leis de estimulo à cultura chegue além das mesmas figurinhas carimbadas de sempre. Algumas iniciativas como as oficinas Kinoforum que capacitam jovens a trabalhar como realizadores em cinema caminham nesta direção. Mas para que a democracia seja substantiva, que seja pra valer o acesso a produção, é preciso partilhar os meios de produção.

Ademir: O que você acha dos atores que decidiram virar diretores, como "George Clooney"?

Willians: Se até jornalistas se arriscam, por que não atores? Só não dá para generalizar e dizer que todo ator será um bom diretor. Nem mesmo dentro da obra de um diretor eu me arrisco a fazer isso. O George Clooney, por exemplo, deu uma porção de tiros certos em Boa noite e Boa Sorte. Filmar em preto e branco, a atualidade do tema, usar imagens de arquivo no lugar de um ator para interpretar o senador Joseph McCarthy. Mas não ponho minha mão no fogo pelos próximos filmes dele. Preciso primeiro assistir para depois falar algo.

Ademir: Algumas perguntas rápidas.

Um ator: O John Wayne, por conta de No tempo das diligências e Rio Vermelho.

Uma atriz: A Giulietta Masina, que trabalhou muito com o Fellini.

Um diretor: Gosto muito do Eduardo Coutinho e atualmente descobri o Jean Rouch.

Um crítico de cinema: O Jean Claude-Bernardet

Um filme que revolucionou a história do cinema: não dá para falar de um filme que revolucionou a história do cinema. Ele se renova constantemente com as novas tecnologias, com novas metodologias e com novos temas que surgem. A primeira revolução foi quando os irmãos Lumiere resolveram encontrar maneiras que registrar movimentos. Ai o Flaherty decidiu filmar a vida de um esquimó e mostrar as imagens que fez para que seu personagem ajudasse na construção do Nanook. Outra revolução. Mas adiante o Eisenstein encontra novas possibilidades de edição e o Vertov resolve fazer filmes com posições políticas bem definidas. São outras revoluções. Tem ainda a invenção do chassi grande capacidade para filmadoras que permitiu filmar por muito mais tempo seguido. Depois surge a capitação de som e imagem simultânea. Hoje em dia apareceram as câmeras digitais. O prisioneiro da Grade de Ferro, do Paulo Sacramento, e os filmes do Kiarostami são bons exemplos do que dá para fazer com esta nova tecnologia.

O pior filme de todos os tempos: Não acho o Carandiru, do Babenco, o pior filme de todos os tempos. Mas teve um orçamento gigantesco para muito pouco. Ele é pequeno perto do filme do Paulo Sacramento (O Prisioneiro da Grade de Ferro) que foi feito com pouco dinheiro.

Um curta metragem: Brasília Paulista.

Um momento inesquecível do cinema: esse momento tem muito a ver com minha curta história pessoal com o cinema. Foi o dia em que vi os camponeses do assentamento Laudenor de Souza assistirem Cabra marcado para Morrer, do Eduardo Coutinho.

Ademir: Pessoas interessadas em bater um papo sobre cinema, ou novas entrevistas e matérias relacionadas também ao cinema, como deverão proceder para entrarem em contato com você?

Willians: Meu e-mail é williansfausto@yahoo.com.br . Para quem quiser reclamar das besteiras que falei, para trocar idéias é só me escrever. Se também estiver interessado em investir 4% do imposto de renda em objeto cultural e poder deduzir no final da prestação de contas com o leão também pode me escrever. Ando insistindo na idéia de fazer outro documentário de curta metragem, mas está difícil à beça.

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Entrevistador e Administrador do http://ww.cranik.com : Ademir Pascale Cardoso
Entrevistado: Willians Fausto Silva.
E nos informar pelo e-mail: webmaster@cranik.com 

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