ENTREVISTA COM O ESCRITOR HERMES SELENYSTHÁKIS
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor Hermes Selenysthákis
 (18/03/14)

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Hermes Selenysthákis - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de Hermes Selenysthákis no meio literário?

Hermes Selenysthákis: Minhas primeiras publicações foram acadêmicas. Escrever sempre foi para mim um grande prazer, mas eu sentia que meus trabalhos não me permitiam destacar o que há de mais profundo em meu Ser. Eu falava sobre temas que me interessavam, mas faltava elã. Depois de me afastar do magistério, pude dedicar-me a escritos com os quais espero tocar o íntimo das pessoas, se possível, trazendo-lhes novas perspectivas para a contemplação de si mesmas e do Mundo que nos cerca. Desta vez, consigo sentir-me verdadeiramente realizado.

Ademir Pascale: Você lançou recentemente a obra "Em busca de Luz para meu Ser" (Clube de Autores). Poderia comentar?

Hermes Selenysthákis: Foi um trabalho profundamente comovente, cuja elaboração teve duração de quinze meses. Consiste em um romance, no qual os protagonistas são um casal homossexual. Fernando é uma pessoa que dedicou sua vida ao aprimoramento espiritual. Em encontro fortuito, conhece Alexandre, rapaz simples, trabalhador rural, com pouco estudo. Entre ambos nasce uma grande amizade, por eles construída tendo em vista a determinação de Fernando em procurar a elevação humana de Alexandre. Em certos momentos, o desnível cultural se apresenta como fator limitador do relacionamento. Entretanto, esse aspecto sempre é superado, pois Fernando compreende que instrução e sabedoria não são condições sinônimas. Com o passar do tempo, Fernando descobre primeiramente que Alexandre é drogadicto e, depois, que é portador de HIV. A trama, porém, não se restringe a esse envolvimento. Aliás, a história de amor nem é o foco do livro, servindo apenas como pano de fundo para os assuntos que de fato desejo colocar em questão. Há narrativas de sessões terapêuticas, realizadas por Fernando, durante as quais mergulha no interior de seus pacientes, na esperança de trazer-lhes alívio para dores físicas e sanidade diante dos problemas emocionais. No capítulo 12, o mais longo, é descrito um trabalho em grupo, por ele dirigido. Nesse evento são tratados assuntos que, seguindo um caminho filosófico, portanto, crítico, ajudam os participantes na descoberta de dimensões pessoais e sociais das quais jamais suspeitaram, abrindo-lhes novos horizontes. Crenças e valores são discutidos. Exercícios de meditação são realizados. Por isso, digo que esta é uma obra de Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Direito e, sobretudo, de Espiritualidade, que pretende contribuir na senda da evolução interior.

Ademir Pascale: Em seu livro são abordados assuntos sobre morte, suicídio, aborto, racismo e preconceito, com abordagem filosófica. Como foram as suas pesquisas para tecer estes assuntos?

Hermes Selenysthákis: Como minha formação acadêmica é em Filosofia, tendi a apresentar os temas sob essa perspectiva. Porém, no exercício de minha função terapêutica, aprendi a utilizar não somente a razão, mas também emoção e intuição. Foram inúmeras as pessoas a quem atendi, cada uma trazendo sua história, com suas angústias, medos, traumas, dúvidas e desejos de se tornar melhor, de sentir que sua vida é mais do que havia experimentado até então. Coletando tantos sentimentos, meditando-os em meu coração, creio ter conseguido, neste livro, apresentar a Vida, partindo de como ela é, indo em busca de transformá-la naquilo que é mais harmonioso ser. Assim, meu trabalho se fundamenta em pessoas reais e suas experiências. Tenho sempre a intenção de desmascarar comportamentos padronizados, muitas vezes hipócritas, lançando sobre eles a luz da consciência. É por isso que escolhi esses temas que você mencionou, alvos de muitas controvérsias, mas que frequentemente não recebem a atenção que merecem, sendo tratados com superficialidade. Principalmente para a pessoa de Fernando, mas não unicamente, transportei muitas de minhas próprias características. Ao leitor ficará a tarefa de, caso seja curioso, tentar decifrar quais delas verdadeiramente me pertencem.

Ademir Pascale: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?

Hermes Selenysthákis: Um dos capítulos que escrevi com mais emoção foi o nono, no qual Alexandre revela a Fernando sua dependência química. Este se propõe ajudar o amigo, acompanhando-o, inclusive, às sessões dos Narcóticos Anônimos. Lá conhecem a dirigente, Dona Rosângela, que lhes fala sobre um médico a quem poderiam consultar. Depois disso, Alexandre desaparece durante vários dias, trazendo desespero à vida do amigo, que o procura por todas as partes. Quando reaparece, relata os episódios de violência pelos quais passou e que o fizeram até mesmo pensar em suicídio. Sempre compreensivo e tomado por profunda compaixão, Fernando reafirma sua disposição de guiá-lo. O trecho seguinte descreve os fatos decorridos após a participação na primeira reunião do NA, narrados por Fernando:

Na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz foi ligar para o Alexandre, a fim de saber como havia passado a noite e para marcarmos a consulta. A ligação não foi atendida e caiu na caixa postal. Não deixei recado. Em outras tentativas, o resultado foi o mesmo. Bom! O aparelho poderia estar desligado, a bateria descarregada ou teria havido algum problema com a operadora. Aquele seria um dia cheio, pois eu tinha dois pacientes para atender pela manhã e mais dois à tarde. Segundo nos disse Da. Rosângela, o médico atendia até as dezenove horas. Se o Alexandre conseguisse marcar horário para mais tarde, eu não teria problemas com meus atendimentos. Assim, fui cuidar de meus afazeres, esperando que ele me ligasse quando tudo estivesse resolvido. Na hora do almoço, liguei novamente, com mais tentativas frustradas. Após o primeiro atendimento da tarde, tentei outra vez, mas nada consegui. Comecei ficar preocupado, pois não me parecia normal o meu amigo não ter dado notícias até então. Minha alternativa era esperar, já que, sem que atendesse ao telefone, não tinha a menor ideia de como poderia encontrá-lo. Embora falássemos regularmente sobre sua prima, nunca lhe perguntei onde morava ou qual era seu número de telefone. Além do mais, achei que deveria partir dele a iniciativa de me dar tais informações, e, se não o fez, pensei que fosse porque não quisesse. Terminado o último atendimento, corri verificar se o celular teria recebido alguma ligação. Sim, lá estava... Mas não era do Alexandre. Tentei não entrar em pânico, mas uma sensação muito forte e tenebrosa se apossou de mim. Como Da. Rosângela nos havia dado o número de seu telefone, liguei imediatamente para ela. Disse-me que ele não ligou. E agora? O que poderia fazer? A situação estava fora de meu controle e eu estava com mãos atadas. Lembrei-me de ligar para o consultório do médico. Quem sabe, ele teria marcado horário... Nada! A secretária me disse que não recebeu ligação dele. Meu Deus! E agora?
Fui para casa e fiquei aguardando. Tentei relaxar, mas estava muito tenso e nada desviava minha atenção desse sumiço. Novas tentativas e, agora, sequer o celular dele chamava. Nem mesmo era possível deixar um recado na caixa postal. Assim passei aquela noite toda, em terrível angústia e medo de que algo grave houvesse acontecido. Por mais que tentasse pensar em viver o agora, aceitando-o como era, tornou-se uma prática quase impossível. Pedia a Deus que lhe desse chance de me ligar, ou que aparecesse, ou que alguma notícia sua eu recebesse. Quando sabemos o que está ocorrendo, por pior que seja, sempre é possível fazer alguma coisa ou aceitar as circunstâncias, mas...
No dia seguinte, eu não tinha atendimentos pela manhã. Por isso, fui à delegacia de polícia do bairro e perguntei como poderia obter informações sobre prisões ou internações. O atendente, muito mal-encarado, o que não é de se espantar, mesmo assim procurou na Internet alguma ocorrência policial registrada no nome do Alexandre. Nada constava. Entretanto, disse-me que seria preciso esperar até o dia seguinte, pois alguns registros não são lançados imediatamente nos arquivos da polícia. Aconselhou-me procurar em hospitais. Fui ao Municipal mais próximo. Felizmente, fui atendido por uma moça bastante solícita, que se prontificou ajudar-me na busca. Em consulta ao computador, verificou que havia registro de entrada de duas pessoas não identificadas, uma no Hospital das Clínicas e outra no Hospital do Campo Limpo. Poderia ser uma delas. Já estava tarde e eu teria atendimentos após o almoço. Como não se tratava de algo urgente, mas de sessões de rotina, liguei para as pessoas e pedi que me desculpassem, mas não poderia atendê-las. Como o aviso foi feito em cima da hora, disse-lhes que, quando remarcássemos, o atendimento seria sem custos para elas. Percebendo que se tratava de algo verdadeiramente urgente, não quiseram aceitar esta proposta.
Dirigi-me ao Hospital das Clínicas. O paciente em questão ainda estava sob cuidados intensivos. Segundo a atendente, tinha cerca de 30 anos e estava em estado grave. Foi um atropelamento. Perguntei-lhe sobre características físicas e sobre seus pertences. Entre outras coisas, disse-me que portava uma aliança de ouro na mão esquerda. Por isso, pensei que esse paciente estivesse descartado, pois o Alexandre usava um anel prateado no polegar da mão esquerda, e não uma aliança de ouro. Mesmo assim, a dúvida cessaria somente quando o visse, mas não obtive permissão. A atendente me pediu para ir ao Hospital do Campo Limpo e depois ligar novamente para as Clínicas, caso aquela não fosse a pessoa procurada.
Cheguei ao segundo hospital já às dezesseis horas. Fiquei sabendo que era um morador de rua, que havia entrado em coma diabético. Como tinha a cabeça raspada e olhos verdes, portanto, não era o Alexandre, contei o caso à moça e lhe pedi que fizesse outra busca na Internet, tanto por nome, quanto por entrada de pessoas sem identificação. Ela me atendeu e o resultado foi negativo. Tentei ligar para o Hospital das Clínicas, mas o telefone estava continuamente ocupado. Voltei para lá. Ao chegar, a atendente me mostrou uma senhora e um garoto mais adiante, dizendo-me que eram a esposa e o filho daquela pessoa ali internada. Dessa maneira, acabaram-se minhas alternativas. O telefone do Alexandre continuava completamente mudo. Triste, com medo, o corpo todo dolorido de tanta tensão, voltei para casa. Sentei-me no sofá e ali desabei a chorar, como há tempo não fazia. Era tanta dor que não conseguia conter as lágrimas. O telefone fixo tocou. Fui até ele e vi no identificador de chamadas que era uma pessoa conhecida e, por isso, não atendi. Nem tinha qualquer condição de falar ao telefone. Fui ao quarto, deitei-me na cama e a acariciava, lembrando-me de que há poucas horas estivera ali na companhia do meu amor. Meu corpo formigava e eu estava completamente entregue ao sofrimento. Sem forças, consegui me lembrar de que não adianta lutar contra o agora. Quando algo acontece, podemos resistir, mas isso vai apenas aumentar o sofrimento. A segunda alternativa é entregar-se, aceitando a situação completamente, exatamente como ela é. Assim, perguntei-me: “Fernando. O desespero vai te levar a algum lugar? Vai ajudá-lo a encontrar o Alexandre? Vai aliviar sua dor?” Para todas as perguntas, a resposta era negativa. Assim, coloquei-me em uma posição mais harmoniosa e comecei imaginar sobre mim aquela luz verde e curativa que faz parte de todas as minhas meditações. Enquanto ela se espalhava pelo meu corpo, eu ia comandando um relaxamento profundo, que me tranquilizou. Depois, comecei imaginar a mesma luz indo ao encontro do meu amado, onde quer que ele estivesse, pousando sobre ele e dando-lhe tudo de que necessitava. Imaginei-o a meu lado, e nós dois sendo abençoados pela energia radiante do Amor Divino. Meu coração ainda estava acelerado por causa da ansiedade, mas com essa meditação consegui interromper aquele descontrole de momentos atrás. Não conseguia me esquecer do desaparecimento do Alexandre, mas estava bem consciente de que “aquilo também passaria”. Procurei não permitir que minha mente criasse histórias, pois haveria milhares que eu poderia contar, uma pior do que a outra, todas frutos de uma imaginação que, ao invés de me auxiliar, apenas me traria mais sofrimento. Naquela noite, evidentemente, não consegui repousar, mas também não fiquei histérico. Sentia-me apenas angustiado e expectante.
Na manhã seguinte, exausto, voltei à delegacia. Mais negativas. Outra vez aos hospitais. Ninguém que correspondesse às características aparecera por lá. Sem condições emocionais ou físicas, à tarde atendi à minha paciente. À noite, novamente: delegacia, hospitais. Nada! E assim sucedeu dia após dia, durante dez dias, findos os quais eu estava arrasado, imprestável, sem saber do Alexandre. Já tentara todos os recursos: espalhei cartazes nas proximidades de onde imaginava que morava sua prima; à noite, percorri algumas ruas centrais, em lugares em que se abrigavam moradores de rua e dependentes em situação crítica; encontrei grupos de voluntários que levavam alimentos a essas pessoas, sempre lhes mostrando fotos; nesses mesmos locais, inquiria os policiais sobre seu paradeiro; fui a igrejas católicas, onde mendigos se aglomeravam em busca de algum alimento ou dinheiro; conversei com jovens malabaristas, que exibiam suas aptidões aos motoristas parados nos semáforos. Nada! Em vista de tantas decepções, a partir do décimo dia passei a exercitar a entrega, isto é, a deposição dessas minhas angústias e da pessoa amada nas Mãos de Deus. Em outras palavras, praticamente “lavei minhas mãos”. Seja o que tenha acontecido, estava para além de minhas capacidades. Eu estava evidentemente em depressão e precisava urgentemente de ajuda.
Sentia-me um desistente, o que me deixava com vergonha, mas verdadeiramente não tinha forças para mais nada. Mesmo assim, não queria me afundar na melancolia e na tristeza. Por isso, tratei de marcar um horário com uma colega da escola de Medicina Tradicional Chinesa. Tamiris era uma pessoa com quem eu simpatizava bastante. Era muito competente como terapeuta e tinha uma qualidade que infelizmente muita gente perde: a humildade. Não havia nela arrogância e nem tinha qualquer receio em reconhecer diante do paciente suas limitações. Talvez por esse motivo ela fosse tão bem-sucedida e invariavelmente reconhecida por quem a procurava. Consegui marcar um horário para o dia seguinte, pois um paciente seu havia desistido.
Cheguei ao consultório cerca de meia-hora antes, pois ela me ligara para dizer que o assistido anterior a mim havia sofrido um acidente e, evidentemente, não iria. Assim, aprontei-me rapidamente e fui aproveitar o tempo mais longo que poderíamos ter.
- Oi, meu querido! Nossa! Como você está bem! Nunca fica velho, é?
- Ah, Tami! Os cabelos já estão ficando brancos.
- Cadê? Onde é que tem cabelo branco aí?
- Bom! Não tem porque eu quase raspo a cabeça...
Dessa forma, nós nos cumprimentamos, com essas frases que ela certamente diz à maioria das pessoas e aquelas que eu repito a todos, quando o assunto é envelhecimento.
Ela começou um processo bem longo e minucioso de entrevista, recurso que utilizamos para fazer o diagnóstico energético. Somente nisso, ficamos uma hora: perguntas, respostas, comentários, explicações, interpretações. Quando a anamnese terminou, ela me conduziu à maca, na qual me recostei confortavelmente. Pediu-me que falasse apenas o necessário, para poder concentrar-se totalmente em mim. Tendo ao fundo uma música suave cantada por Enya, na penumbra da sala iluminada por tênue luz verde, já nas primeiras manobras eu relaxei tanto que adormeci. Inconsciente, transportei-me a uma cena em que via o Alexandre sorrindo e estendendo a mão direita para mim. Imediatamente já estávamos em outro lugar, no quintal de uma casa que não consegui identificar. Eu estava procurando alguma coisa no chão de terra batida e ele estava a meu lado. Ofereceu-me ajuda. Quando olhei para seu rosto, percebi que seus cabelos estavam grisalhos. De repente, ele me abraçou e se afastou, mas, sorrindo, voltou, abraçou-me novamente, efusivamente, como se estivesse muito feliz com minha presença. Nada dissemos um ao outro, mas a alegria era imensa, para nós dois. Repentinamente acordei, estimulado pelo toque de Tamiris em um ponto doloroso. Diante de minha reação, ela perguntou:
- Você está com medo de quê?
Nem fiquei surpreso diante dessa pergunta, pois já sabia que ela era uma terapeuta muito intuitiva, que logo captava os pontos fracos do paciente. Por isso, sem rodeios, respondi-lhe:
- Tenho um amigo que está desaparecido há mais de dez dias. Temo que algo muito grave lhe tenha acontecido. Ele é dependente químico e estava começando um tratamento. Penso que talvez tenha entrado no estado característico da síndrome da abstinência, mas é somente uma suposição, entre tantas outras em que já pensei. Não adianta nada ficar criando fantasias, mas os pensamentos perturbadores não param de me ocorrer, por mais que tente afastá-los ou mesmo negá-los.
- Que pena! Sinto muito! Sempre que uma pessoa desaparece, seja pelo motivo que for, é uma grande dor. Não saber o que aconteceu a alguém é muito pior do que receber a notícia de que aconteceu o pior.
- Você está certa! A ignorância é mal terrível, que somente a sabedoria pode suplantar. Não saber é equivalente a estar cego e prestes a cair em um abismo.
- Acho que é isso mesmo. Porém, o que percebi aqui é que você tem um medo muito antigo. Esse que você acabou de dizer nada é além de um reforço daquele. Não tenho a menor ideia do que seja, mas está afetando seus Rins. Por isso, sua energia vital decaiu bastante. Não é sem motivo que você está deprimido e seus pensamentos estão confusos.
Ela estava certa. Embora não lhe dissesse, o medo antigo a que se referiu era de passar pela vida sem encontrar uma pessoa a quem amasse e que me correspondesse. Quando o Alexandre apareceu, esse medo quase sumiu. Na verdade, outro o substituiu, que era o receio da perda de um ser tão querido e que tanto me custou encontrar. Naquele momento, o receio se tornou fato. Agora eu tinha medo de não reencontrá-lo. Era uma reedição do que já vivenciei muitas vezes.
Ao término da sessão, Tamiris me disse:
- Olha, Fernando! Fiz uma estimulação profunda e geral em você. Agora, esperemos que a energia flua de maneira mais harmoniosa. Quando isso acontecer, você se sentirá melhor e sua alegria vai retornar. Espero que seu amigo apareça, e acho que não vai demorar muito até que receba notícias dele.
- Espero que sim, Tami, porque estou muito angustiado com essa história.
Saí de seu consultório e me coloquei em direção à minha casa. Lá chegando, vi que a secretária eletrônica estava piscando. Antes de qualquer coisa, acionei-a. Era uma mensagem que se repetiu três vezes, mas que não dava informação alguma. Existiam apenas ruídos no local de onde procedia a chamada, mas percebi claramente tratar-se de área externa, talvez um parque ou uma rua. A ligação parecia proceder de um telefone público. Teria sido uma chamada do Alexandre, que não quis deixar recado? Mas por que ele não teria ligado para meu celular? Poderia ser alguém querendo dar alguma informação sobre ele? Tantas suspeitas somente conseguiram reavivar minha ansiedade. Saí do consultório da Tamiris com tanta tranquilidade e, de repente, muita tensão se acumulou novamente, em decorrência desses pensamentos que em nada seriam capazes de me ajudar, ou resolver alguma coisa. Mais uma vez se provava a perniciosidade das preocupações, que na maioria das vezes sequer têm algo a ver com a realidade. Tratam-se apenas de produtos mentais, hipóteses, trabalhos que exaurem a energia psíquica e nos fazem afastar-nos da vida, que se expressa apenas na prática do agora. Seja como for, naquele momento fiquei completamente absorto pela expectativa de nova ligação, motivo pelo qual me propus não sair de casa. Não obstante, havia pacientes para atender, e deveria fazê-lo com a responsabilidade e a dedicação que me eram características. Nesses momentos, desligava os telefones ou os deixava em um local em que seus sons não pudessem ser ouvidos e, eventualmente, atrapalhassem minha concentração ou o relaxamento do paciente. Nos minutos que antecederam a chegada de minha paciente, parei, concentrei-me e tomei consciência de minha presença como terapeuta, incumbido de dar àquela pessoa toda minha atenção e o melhor tratamento que estava à minha disposição. Imbuído dessa perspectiva, como se estivesse iluminado por forças que certamente não provinham apenas de mim, a campainha soou. Fui atendê-la. Ao abrir a porta, em um misto de alegria e horror, vi à minha frente o Alexandre. Quase irreconhecível, ele estava sujo, barbudo e completamente alterado. Eu nem sabia o que fazer. Abriria a porta? Iria deixá-lo entrar? Sinceramente, fiquei com medo. Ele me olhou e me cumprimentou apenas com um “Oi!” apagado. Seu rosto não mostrava alegria por me ver. Ao contrário, mostrava cansaço, como se estivesse a ponto de desfalecer. Sua voz mal saía. Mesmo assim, fui ao seu encontro. Abri a porta e ele cambaleou. Apoiei-o e o conduzi para dentro de casa. Sem nada dizermos, levei-o ao meu quarto e o coloquei na cama. Foi um trabalho pesado, pois ele quase totalmente se jogou sobre mim. Exalava um cheiro muito desagradável e era difícil ficar perto dele naquela condição. Percebi que estava machucado, mas não tinha tempo de verificar a extensão ou a natureza dos traumas. Estava catatônico e eu lhe disse:
- Xande. Agora não posso fazer nada por você, porque minha paciente está chegando. Você pode me fazer o favor de ficar aí quietinho, até eu terminar o atendimento? Você precisa descansar e eu preciso trabalhar. Está com fome?
Ele apenas acenou a cabeça negativamente e fechou os olhos. Vi seu corpo relaxando sobre a cama e, sem que tivesse tempo de dizer-lhe mais alguma coisa, ele dormiu. Tão logo o cobri, a campainha soou novamente. Deixei-o e fechei a porta do quarto. Aquele odor deixou seu rastro, que tentei apagar acendendo rapidamente um incenso. Como as janelas e portas estavam abertas e havia leve brisa, o cheiro logo se dispersou. Fui ao guarda-roupa e peguei outro avental, pois o que usava ficou sujo e aquele cheiro do Alexandre o impregnou. Ao abrir a porta, Janete me cumprimentou e foi dizendo:
- Será que dá para você me atender em apenas quarenta e cinco minutos? Preciso sair antes das cinco horas, pois hoje é dia do meu rodízio, do qual me esqueci.


Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir um exemplar de "Em busca de Luz para meu Ser"?

Hermes Selenysthákis: O leitor poderá adquiri-lo exclusivamente por meio do site www.clubedeautores.com.br. Ao acessá-lo, na barra de pesquisa procurará a obra pelo título ou pelo nome do autor. É possível ler o prefácio e o início do capítulo 1, clicando sobre o ícone do livro. A publicação está disponível nas versões impressa e eletrônica (e-book).

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Hermes Selenysthákis: Após esta estréia, não pretendo mais parar. Existem pessoas atormentadas pelo fato de não conseguirem realizar-se afetivamente. Um dos motivos é a baixa autoestima, que faz muita gente acreditar-se incapaz de ser amada. Outro motivo bastante comum dessa não realização é a partida da pessoa amada, deixando um vazio que aparentemente jamais poderá ser preenchido. Pode parecer pretensioso, mas procurarei apresentar um método para amenizar esse sofrimento e até mesmo anulá-lo. Devo reconhecer não ser fácil e exigir muito empenho; porém, é verdadeiramente eficiente e muito melhor do que antidepressivos usados por anos, do que a aceitação de uma existência infeliz, ou do que entregar-se aos sucedâneos oferecidos pelo Mundo, que, ao invés de levarem à libertação, conduzem à escravidão. Tendo-o experimentado em mim mesmo, tenho certeza de que ajudará outras pessoas que desejem abraçá-lo. De certa maneira, já o introduzi em “Em busca de Luz para meu Ser”, mas há mais a ser desenvolvido. Além deste, quero retomar alguns livros de Filosofia que escrevi há anos e agora vejo oportunidade de publicar, nos campos da Lógica, da Ética e da Filosofia Antiga.

Perguntas rápidas
:

Um livro: Um Mundo Novo - o despertara de uma nova consciência (Eckhart Tolle)
Um(a) autor(a): Platão
Um ator ou atriz: Susan Sarandon
Um filme: Adoráveis mulheres (Little women)
Um dia especial: quando começaram as manifestações por todo o Brasil, em junho de 2013, exigindo o fim da corrupção, mais justiça, seriedade e respeito para os cidadãos. É apenas uma boa lembrança, pois, infelizmente, mais uma vez, tudo “acabou em pizza” e o povo, ao que parece, esmoreceu (com vergonha, devo reconhecer: inclusive eu!).

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Hermes Selenysthákis: Meu livro não passou pelo crivo de uma revisão gramatical profissional. Por isso, sei que contém diversos erros. Peço desculpas por eles. Peço também ao leitor rigoroso que, caso deseje, aponte-me as falhas, para eu poder corrigi-las. Com prazer, aceitarei críticas e sugestões que me ajudem na preparação da segunda edição. Sendo meu livro um manifesto contra o preconceito e a discriminação, em todos os âmbitos, espero que seja apreciado por todas as pessoas que compartilhem meu ideal de transformar o Mundo, trazendo-lhes inspiração para fazer coisas muito melhores do que simplesmente escrever. Podem contar comigo!              

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Em busca de Luz para meu Ser - Hermes Selenysthákis

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistado: Hermes Selenysthákis
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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