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Entrevista com a desenhista, Natalia Forcat.
O Administrador do cranik "Ademir Pascale"  entrevista a desenhista Natalia Forcat. (30/01/05)

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Ademir: Olá Natalia, agradeço por aceitar a entrevista e gostaria de lhe dizer que você é a primeira desenhista "Mulher" que eu entrevisto. Gostaria de saber como foi o início de sua carreira.


Desenho de Natalia Forcat

Natalia: Olá, eu que agradeço a oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho!) Acho que todo desenhista já nasce desenhando, é quase um karma (rsss!) , uma coisa que vem no sangue, como gostar de doces mais do que salgados e essas coisas. Quando se é criança se desenha com mais prazer porque não há ninguém do lado questionando o estilo ou criticando a técnica, é puro prazer e descobrimento. Eu, particularmente, sofri um pouco quando entrei na escola primaria (na Argentina) pois a minha professora me proibiu de desenhar. Segundo ela, as outras crianças poderiam ficar inibidas porque meu desenho estava um pouquinho mais desenvolvido e assim fui obrigada a desenhar pessoas feitas de “palitos e bolinhas”. Lembro que isso foi terrível para mim, na época tinha 6 ou 7 anos. Na adolescência comecei a desenhar umas coisas “mutcho loucas” (Rsss!) , com alguma influência do surrealismo mas usando técnicas do cartum. Mais tarde comecei a fazer quadrinhos de forma amadora , bastante influenciada pela revista El Vibora (Espanha), gostava muito e ainda gosto do trabalho de Nazario e as aventuras de Ranxerox (Tamburini e Liberatore) e quadrinhos underground americanos como os de Robert Crumb. Foi nessa época que publiquei uns poucos trabalhos na Revista Fierro, num suplemento para novos talentos, várias ilustrações na Revista Cerdos & Peces e participei de uma coletiva no Centro Cultural Recoleta antes de resolver que definitivamente não tinha nascido para morar na Argentina e me mudar para o Brasil. Cheguei no Brasil com uma pasta muito esquisita, cheia de desenhos de estilos insólitos, tudo muito underground e “punk”. Fui parar na Revista Animal, que infelizmente bem naquela época tinha fechado.
Logo depois comecei a ilustrar alguns jornais sindicais (Banespa) e do PT e na Revista Isto É Minas.

Ademir: Porque você acha que a maioria dos desenhistas, são homens?

Natalia: Será mesmo? Mariza, Cahu, Priscila Farias, Lúcia Brandão, Cris Burger, Jinnie Pak, Eva Furnari, Maitena, Laurabeatriz…e quantas outras? Não tenho certeza se há muitos mais desenhistas homens do que mulheres, talvez haja mais desenhistas e cartunistas homens conhecidos pelo grande público, com um trabalho autoral, muitas vezes mais voltado para a área política, mas eu também conheço muitas desenhistas mulheres trabalhando na área de livros infantis, animação, mangá, livros didáticos, arte final, etc, só que nessas áreas o nome do artista não é tão divulgado, aparece em letras pequenas num canto do livro ou da revista e ninguém lê.
Sempre sugiro que algum estudante faça uma tese de mestrado sobre este assunto, com uma boa pesquisa sobre a produção nacional ou, (por que não?) , internacional, para usarmos como referência mas ate agora não consegui convencer ninguém …Rss!

Ademir: Como foram os trabalhos na Gazeta Mercantil, Revista Caros Amigos, Revista Caricia, Revista Set, Revista da Folha de São Paulo, Revista Show Bizz e etc?

Natalia: Na revista Show Bizz, que naquela época se chamava apenas Bizz, cheguei a fazer algumas ilustrações naquele estilo mais quadrinho como eu fazia na Argentina, assim como na Revista Caros Amigos. Na Revista Caricia arrisquei a fazer um estilo que eu não dominava muito, meus desenhos eram pesados e meus personagens tinham umas caras muito feias, todos eram deformados, cheios de verrugas e pêlos, tinham seios exagerados, etc…Rsss! Mas acabei me dando muito bem naquele estilo “teen”, e trabalhei por 4 anos desenhando a personagem Tininha Hortelã (aventuras e desventuras de uma adolescente), isso me abriu as portas , também, para o desenho infantil. Outro trabalho que eu gostei muito de fazer foi o da Revista da Folha, a personagem Clô.
Trabalhei na Gazeta Mercantil quando morei em Fortaleza, foram quase 3 anos fazendo ilustrações diárias, algumas vinhetas, e eventualmente uma charge ou um bico de pena. O fato de ter que fazer ilustrações diárias foi uma experiência interessante pois você fica em forma, como quem malha todos os dias.

Ademir: E as criações de capas de Cds e livros infantis?

Natalia: As capas de Cds foram produzidas para a Paradoxx, através do estudio de design gráfico Quarto Mundo. Foi muito bacana pois tive a oportunidade de experimentar técnicas e materiais diferentes, como massinha, montagem, confecção de objetos de papel maché, esculturas, colagens. Foi uma experiência muito enriquecedora em termos de técnica. Atualmente estou trabalhando com um amigo meu, roteirista e ilustrador, produzindo material para livros infantis com muito carinho, em breve estarão nas prateleiras!

Ademir: Existe algum desenhista que a inspirou no início de sua carreira?

Natalia:Como toda criança, adorava assistir desenhos da Disney, também gostava dos gibis de Quinterno e Garcia Ferrer: Patoruzú, Isidoro, Hijitus, mas tarde de Quino: Mafalda e os quadrinhos de Fontanarrosa: : “Las aveturas de Inodoro Pereira y su perro Mendieta” e “Boogie, el aceitoso”. Ao crescer me apaixonei pelo mundo dos quadrinhos chamados de underground, tanto europeus como americanos, mas não acho que tenham me influenciado tanto no resultado final do meu trabalho, tal vez sim no começo da minha profissão.

Ademir: Algo que acho muito interessante é o projeto das HQs em forma de livro nas escolas para o aluno firmar mais ainda o seu aprendizado, pois qualquer criança gosta de ler uma historinha em quadrinhos. O que você acha desse projeto?

Natalia:Acho legal, sim, sobre tudo para despertar o interesse pela leitura nas crianças mais pequenas, mas também acho fundamental a leitura de livros, hoje em dia parece que existe uma tendência para dar tudo digerido e simplificado para as crianças. Parece haver uma obsessão para transformar a educação em algo necessariamente divertido, não entendo, acho que as crianças têm que crescer sabendo que nem tudo vai ser tão divertido assim na vida o processo de aprendizagem pode ser custoso e difícil. ao meu ver a educação está deixando de lado o conteúdo, simplificando demais, hoje em dia tem que ser quase um palhaço ou um ator para conseguir prender a atenção dos alunos . Pode- se usar o quadrinho, por exemplo, para fixar algum fato histórico, para enriquecer o currículo escolar, para ensinar às crianças a fixar a atenção, para estimular o prazer pela leitura mas não se pode, de forma alguma, dispensar os livros, as crianças têm que aprender a interpretar textos mais longos e complexos, não podem ter medo dos livros! Você pode ate achar estranho eu dizer isto, gostando tanto de quadrinhos mas o fato é que cada vez as crianças aprender a ler mais tarde e lêem menos. Isso me assusta, quadrinhos podem ajudar a mudar esse quadro desde que sejam usados criteriosamente.

              
                                    Paulista - Desenho de Natalia Forcat

Ademir: Como você acha que anda a cultura no Brasil em relação aos outros países? Onde você acha que devemos nos fortalecer mais e qual o nosso ponto forte?

Natalia: O Brasil é um país com uma riqueza cultural imensa e muito forte , com muita personalidade. Isso sempre me chamou a atenção, acho que é um país musical e visual, talvez por isso os quadrinhos tenham tudo a ver com o Brasil. O lado forte eu penso que é a música, alem de ter personalidade e qualidade, é insuperável! O que precisa ser fortalecido, assim como no resto de América Latina, é a educação. Os governos precisam investir de verdade em educação, em programas de alfabetização para adultos, em educação com conteúdo, questionadora e que ensine a pensar.

Ademir: Eu leio muito e indico o livro "Desvendando os Quadrinhos - Autor: Scott MacCloud, Editora: M.Books. Você indica algum livro que trás referência aos quadrinhos ou a arte em geral?

Natalia: O livro do Maccloud é muito interessante mas eu gosto de indicar e ler quadrinhos mesmo. Durante algum tempo frequentei a Gibiteca Henfil, quando ficava no outro local, perto do Metrô Vila mas infelizmente hoje se encontra meio abandonada e tem poucos títulos.
Para “desvendar “ os quadrinhos recomendo ler : Hugo Pratt, Will Eisner, Moebius, Guido Crepax, Milo Manara, H.G. Oesterheld, Enrique e Alberto Breccia.

Ademir: Conheço ótimos desenhistas como o Tibúrcio, o Rico, Velasco, Joacy Jamys, Calazans, Moura, Jorge Barreto, Juska e muito outros como você, no qual todos tem um traço e uma técnica inigualáveis. Você gostaria de comentar sobre mais algum desenhista ou ilustrador que tenha traços e técnicas irreverentes?

Natalia: Sim, sou fã de vários artistas brasileiros, dizer que gosto do trabalho do Laerte, do Gonzales e do Angeli é meio obvio, mas não quero deixar de citá-los pois são demais. Admiro muito, também, o trabalho de Mario Vale, ele tem um traço muito pessoal e consegue passar uma mensagem forte e contundente com um estilo de aparência singela, acho isso genial! Também gosto e recomendo os cartuns e tiras do Gilmar e do Junião.
Outro que admiro é o Spacca, é um artista genial, brilhante! As caricaturas dele são de uma sensibilidade e qualidade que poucos conseguem alcançar, com um traço simples e certeiro.

Ademir: Gostaria de comentar sobre os seus prêmios e participações em salões de humor?

Natalia: Participei do Primeiro Concurso Nacional de Quadrinhos (HQ BRASIL) ficando com o primeiro lugar na categoria tiras de jornal (roteiro do Paulo Batista) e tive cartuns selecionados no Salão de Piracicaba e no Salão Pernambucano de Humor no ano 1999 e 2003.

Ademir: Como alguém poderá entrar em contato com você para trabalhos de desenhos e ilustrações?

Natalia: Por e-mail: nataliaforcat@yahoo.com.br  e também podem visitar meu site para ver outros trabalhos : www.nataliaforcat.hpg.ig.com.br .

Ademir: Muito obrigado por aceitar a entrevista. Desejo muito sucesso para você.

Natalia:Obrigada! :0)


Trabalho de Natalia Forcat

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© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Entrevistador e Administrador do http://ww.cranik.com : Ademir Pascale Cardoso
Entrevistado: Natalia Forcat
E nos informar pelo e-mail: suporte@cranik.com              

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