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Ademir: Olá Velasco, agradeço por aceitar a
entrevista e lhe desejo um ótimo 2005. Primeiramente,
gostaria de saber como foi o início de sua carreira.
Velasco: Obrigado Ademir. Bom, a minha história,
como cartunista, começa mesmo quando eu decidi montar
meu próprio jornal de humor com 20 anos mais ou menos.
Ele se chamava Na Capa e já trazia Patrick e Penetra,
dentre outros personagens e textos de humor. Era
rústico, montado a mão e distribuído por mim e um amigo
que tinha carro em alguns bairros de Belo Horizonte. Fiz
apenas quatro edições, mas que me deram muita
experiência pra saber o que eu queria e o que eu não
queria com quadrinhos. A partir daí eu entrei em alguns
poucos concursos de cartuns e charges, mas sem acreditar
muito neles. Chegava a ser selecionado por um ou outro,
mas eram fracos. Em 2000 tentei trazer o Na Capa de
volta, mas agora como revista. O problema é que me
faltava tempo para fazer do jeito que eu queria. O
processo de editoração (grana, parceria, gráfica,
editora) é um negócio burocrático e complicado pra quem
não tinha muita experiência e contato. Então resolvi
publicar através da Internet, mas eu não entendia nada
de html. Peguei um livro e comecei a aprender. Resolvi
lançar Patrick e Penetra por que eram meus personagens
favoritos. Eles vestiam qualquer característica, como
atores em um palco. Isso me dava mais liberdade para
criar piadas sobre qualquer tema. Paralelamente fui para
Escola de Design da UEMG e me formei em 2001. Pulava de
agência em agência sempre fazendo ilustrações e
animações publicitárias como freelancer também.
Apanhei um bocado no começo do site, mas sempre encarei
as coisas com naturalidade. Hoje o site vai bem e tem
sua personalidade cada vez mais definida. Você acha que
sabe fazer piadas então começa a desenhar personagens e
vai lapidando suas características com o tempo. Nos
últimos meses tenho recebido uma resposta bem positiva
do público sobre meus trabalhos. Eles me dão retorno e
conselhos que me fazem crescer e querer um pouco mais.
Eu levo o site com prazer e isso é importante e que vier
daí é consequência. Está sendo assim...
Ademir: Achei muito interessante a Capa do CD e
encarte da Banda Cartoon que você produziu (
http://www.patrickepenetra.com/imgs/portbigorna.jpg
). Como foi esse trabalho?
Velasco: O Tirrê, amigo de faculdade e desenhista
também, conhecia os integrantes da banda Cartoon desde a
infância e tinha um contato freqüente com os caras.
Inclusive foi ele quem fez todo o encarte do primeiro cd
desta banda psicodélica virtuosa. Eles gostaram do
resultado e convidaram Tirrê novamente para o segundo
cd. Ele me ligou e perguntou se eu não queria fazer com
ele o projeto. Topei na hora. Eu desenhava, mandava as
páginas por email e Tirrê coloria no digitalmente com
maestria. Foi um trabalho bacana de se fazer, mas eu
diria que a capa ficou mais interessante que o miolo. Eu
não tinha muita noção de perspectiva e o enrredo ficou
confuso de se entender por que são trechos picados das
letras das músicas. Era uma ópera rock o disco. O
acabamento, as cores e a produção gráfica do Tirrê
fizeram a diferença. No final, creio eu, todos saíram
satisfeitos.
Ademir: Como surgiu a idéia do Patrick e Penetra?
Velasco: Eu estava no segundo ano do segundo grau quando
desenhei a primeira vez o Patrick. Era um desenho
baixinho, atarrachado e cabeçudo com um topete enorme.
Tinha óculos escuros redondos. Daí criei outro
personagem para render algum diálogo, mas o nome Penetra
só foi definido quando fiz o Na Capa. Queria um nome
debochado que desse uma sonoridade bacana depois de
Patrick. Ao longo dos anos eles foram espichados e
vestiram ternos e gravatas pra sempre. É um uniforme
sério e neutro que contrasta bem com o que eles falam.
Depois notei que muito disso na tv. Eu queria que eles
atingissem qualquer segmento, sem um público específico.
Queria algo crítico e venenoso. Queria também falar um
pouco de tudo, assim, do mesmo jeito quando conversamos
com os amigos.
Ademir: Quando o site
http://www.patrickepenetra.com foi
ao ar?
Velasco: Foi ao ar em 25 de novembro de 2003 com um
desenho totalmente diferente de hoje. Passou por três
grandes reformulações até o estado atual. Mas a data de
aniversário mesmo eu considero a da última reformulação,
em agosto de 2004.
Ademir: O que você acha da idéia de implantação das HQs
em forma de livro nas escolas?
Velasco: É uma excelente idéia, desde que não incluam Patrick e Penetra nas criancinhas. Brincadeira, acho
legal por que as hq´s mexem muito com a imaginação
principalmente das crianças , melhora a criatividade e
traz conteúdo de forma amigável. Cara, nunca pensei
nisso. Hum...
Ademir: Onde você busca inspiração para criar as suas tirinhas de humor?
Velasco: No que acontece comigo, com os amigos, nas
notícias atuais, na história, mas principalmente no
cotidiano mundano mesmo. Geralmente eu faço na hora.
Sento frente ao computador e penso “tem que sair alguma
coisa”. Determino o tema da tirinha e tento fazer algo
com isso. Tem dado certo. Os “brancos” são raros por
enquanto. Tenho um caderno enorme com várias idéias e
rascunhos e originais desenhados. Se eu não anoto uma
piada eu a perco fácil. O caderno ajuda muito desde
antes do nascimento. Adoro o desafio de fazer piada em
cima de um tema determinado. A vezes, os leitores pedem
tira de algum tema e eu procuro sempre tirar o coelho da
cartola.
Ademir: Eu achei excelente o livro "Desvendando os
Quadrinhos - Scott MacCloud". Você indicaria algum livro
ou trabalho referente as HQs que ache interessante?
Velasco: Infelizmente não me vem nada na cabeça. É
estranho por que eu não gosto muito de quadrinhos. Eu
sei muito pouco sobre quadrinhos. Patrick e Penetra nem
têm muito cenário e etc... Uma vez postei uma história
no site e foi só. Eu acho muito trabalhoso e demorado
fazer quadrinho. Uma história leva tempo pra acabar,
quadrinho em si, não é minha praia. Quando criança meu
pai me aplicava Recruta Zero e eu adorava. Mais tarde
fui ler algumas MAD´s e lia muito GROO, Angeli e Henfil.
E foi só. De vez em quando pegava algumas revistas mais
undergroud´s ( Marcati e etc) pra dar uma espiada. Ver
novos ares. Já dei uma vaga lida em muitas coisas. Hoje
digo que faz tempo que não compro nenhum quadrinho.
Ademir: Além de ilustrações e animações, o que mais você
produz?
Velasco: Trabalho hoje em um estúdio de fotografia
fazendo tratamento digital de imagens, faço projetos
gráficos como freelancer e perco certo tempo compondo e
moldando algumas trilhas, letras e músicas. Talvez um
dia elas mandem algum retorno. De vez em quando pinto
alguns quadros, mas é raro. Faço pipoca, suchi e bife.
Ademir: O que você indicaria para os jovens desenhistas?
Velasco: Não sejam nerd´s. Não se prendam em uma tribo
só. Vasculhem o mundo, as pessoas, os objetos com olhar
mais clínico e sem preconceitos. Os preconceitos travam
todo o processo criativo sem a pessoa perceber.
Cartunista tem que entrar em vários mundos para se ter
mais bagagem. Anotem idéias e sempre façam algo. Tudo o
que você guarda serve como referência pra você saber se
está crescendo ou não. Indico, livros e jornais. E
tecnicamente falando, indico muito estudo e dedicação. È
preciso saber onde quer chegar em qualquer projeto que
se faça. È preciso lapidar um estilo. Estilo faz a
diferença e vende hoje em dia. Tenham paciência. Na
minha curta carreia de cartunista, indico essas coisas.
Ademir: Poderia deixar um contato ou link para pessoas
interessadas em seus trabalhos?
Velasco: Claro, meu email é:
velasco99@uol.com.br
Ademir: Mais uma vez eu lhe agradeço por aceitar a
entrevista. Parabéns pelo ótimo trabalho. Um forte
abraço.
Velasco: Gracias Ademir, pelo espaço, pela simpatia.
Grande abraço.
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Entrevista com o desenhista e ilustrador Velasco.
