ENTREVISTA COM SONINHA FRANCINE
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista Soninha Francine, candidata a prefeita de São Paulo
 (19/07/12)

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Soninha Francine - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Lendo algumas de suas últimas entrevistas, percebi que o foco da sua campanha para 2012 será facilitar a ida e vinda da população no transporte público, mas como ficam as ações culturais?

Soninha Francine
: Até as ações culturais são prejudicadas pelas distâncias enormes e os problemas da mobilidade em São Paulo! Nossa cidade tem centenas de atrações culturais gratuitas ou a preços muito acessíveis, mas uma boa parte delas está localizada na região central. Só a avenida Paulista, por exemplo, tem o MASP, a Casa das Rosas, o Itaú Cultural, o Sesc, o Teatro do Sesi... A Feira de Antiguidades, atividades no Parque Mário Covas e no Trianon, músicos de rua! E muita gente na cidade nunca esteve na Paulista, não sabe como chegar ou não teria dinheiro para vir. Portanto, até mesmo para aproveitar o que a cidade já tem para oferecer, é preciso criar modos de chegar - ônibus fretados pela prefeitura, por exemplo, para destinos culturais.

Claro que, além disso, é preciso aumentar a oferta de espetáculos de teatro, dança, música, circo, festejos populares, mostras de cinema, festivais literários, exposições de artes visuais, saraus etc. na periferia. Não esqueço uma reunião de que participei pela Comissão de Juventude da Câmara em uma Escola Estadual do Campo Limpo - uma das reivindicações dos alunos era poder ter uma vaca da Cow Parade naquela parte da Zona Sul, e não apenas nos Jardins!!!!

Mas não podemos pensar em cultura apenas com algo que se leva pronto para que as pessoas consumam... Sem dúvida é importante o desfrute, como “consumidor” (palavra esquisita neste contexto...) de bens culturais, mas também é fundamental permitir que as pessoas sejam autoras, produtoras, criadoras. Para isso a prefeitura tem de oferecer espaços para ateliês, ensaios, encontros, elaboração de projetos, estúdios para gravação e edição de áudio e vídeo etc. Um modelo muito interessante de equipamento desse tipo é o do CCJ da Vila Nova Cachoeirinha, que é municipal. Ainda não conheci de perto, mas me parece que as Fábricas de Cultura, do governo estadual, seguem a mesma linha.

Falando agora de algumas ações mais específicas, eis alguns compromissos meus:

- Criar novas Escolas Municipais de Música.
- Aumentar o número de vagas na Escola Municipal de Bailado.
- Criar linha de crédito para aquisição de instrumentos musicais.
- Criar uma frota de bibliotecas itinerantes em ônibus.
- Aumentar a dotação orçamentária do VAI.
- Criar um programa de incentivo a cineclubes e clubes literários.
- Criar programação permanente de encontros e intercâmbios entre artistas e grupos de São Paulo e de outras cidades do país e do mundo.
- Criar programa de Bolsas de Estudo para aperfeiçoamento no exterior (dança, música etc), com critérios claros de seleção.
- Criar a SP Escola de Circo e uma lona permanente a ser ocupada por companhias diversas.
- Incentivar a ocupação de espaços por músicos de rua - em terminais de ônibus, coretos, praças e outros espaços.
- Apoiar a transformação de espaços públicos em centros culturais (como o Sacolão das Artes, na Zona Sul).
- Garantir a ocupação democrática e a gestão participativa das Casas de Cultura.
- Incentivar a exibição de curtas-metragens brasileiros no início das sessões de cinema.
- Articular melhor as iniciativas municipais, estaduais (Oficinas Culturais, Fábricas de Cultura, SP Escola de Teatro, SP Cia de Dança, Museus etc), federais ( Pontos de Cultura, Funarte, Banco do Brasil, Petrobrás) e outras (Sesc, Sesi, Cultura Inglesa, Mostra Internacional de Cinema, etc!) para que se tire máximo proveito de editais, linhas de financiamento, prêmios e eventos.
- Investir na identificação, recuperação, preservação e informação sobre patrimônio cultural material e imaterial.
- Regulamentar o Fundo Municipal de Cultura.
- Manter espaço permanente de encontro e discussão com as entidades ligadas à área da Cultura, tornando o Conselho Municipal atuante de fato.

Ademir Pascale: Um ingresso hoje no cinema chega a custar R$ 20,00 ou mais. Um pai de família que ganha um salário mínimo jamais conseguirá levar seus filhos às salas de exibições, o que não deixará de serem excluídos socialmente devido ao alto valor do ingresso. Existe alguma ação para melhoria neste quesito?

Soninha Francine: É possível facilitar o acesso ao cinema de várias maneiras: promovendo a exibição de filmes nos equipamentos culturais como as salas de espetáculo dos CEUs e Centros Culturais, incentivando a criação de cineclubes, patrocinando festivais, garantindo “espaço de tela” para a produção do “Hemisfério Sul” (América Latina, África e Asia) e da Europa continental, que tem mais dificuldade para furar a hegemonia estadunidense) e concedendo descontos e isenções fiscais bem direcionados - por exemplo, subsidiando ingressos para filmes brasileiros ou filmes estrangeiros selecionados por uma comissão plural e representativa (para não empregar recursos públicos que resultem em desconto para assistir “Velozes e Furiosos”, por exemplo...) e apoiando empreendedores que criem salas de cinema de rua, especialmente nas regiões distantes do centro. Já existe uma lei nesse sentido, mas a eficácia foi nula.

Ademir Pascale
: Como escritor, sei que é difícil publicar um livro no Brasil. São poucas ou quase nulas as ações de incentivo por parte dos governantes. A nossa classe não é valorizada, por isso pergunto se Soninha Francine apoiará os escritores paulistas.

Soninha Francine: Sim!! Patrocinando publicações selecionadas em concursos e editais, firmando parcerias com a Imprensa Oficial e editoras universitárias e incentivando e facilitando a leitura - com ônibus-biblioteca, salas de leitura, saraus em equipamentos públicos, festivais literários e promovendo uma verdadeira invasão de letras pela cidade - nos ônibus, pontos e terminais, parques, praças e calçadões, nas salas de espera e Praças de Atendimento, nos postes de iluminação e muros das escolas!

Ademir Pascale: Ainda no assunto literatura, tanto o estado de São Paulo como em outros estados do Brasil, o preço de capa dos livros variam de R$ 20,00 até R$ 50,00. Se os impostos das livrarias, editoras e gráficas fossem reduzidos, os livros não seriam mais baratos e não teríamos mais leitores?

Soninha Francine
: Sim, se os livros fossem mais baratos sem dúvida haveria mais leitores - em conjunto com outras medidas de incentivo à leitura, como as descritas acima. Precisamos analisar os impostos que incidem sobre a atividade editorial e reduzi-los tanto quanto possível.

Ademir Pascale
: A mesma coisa acontece nas agências dos Correios. A maioria das vezes em que vou postar um livro para um leitor ou jornalista, muitos atendentes me olham de cara feia quando solicito o “impresso registrado módico”, que é uma postagem mais barata para impressos. Não seria possível a gratuidade na remessa de livros?

Soninha Francine: Para que o serviço fosse gratuito para o usuário, teria de haver um investimento de recurso público - ou seja, a população pagaria de um modo ou de outro. Nesse caso, não tenho certeza se a medida seria a mais adequada do ponto de vista da coletividade.

Ademir Pascale: Existem muitos pontos turísticos, parques e áreas de lazer gratuitos em São Paulo, sendo a maioria no centro da cidade ou em regiões distantes da periferia. Mas o que adianta a gratuidade se a passagem no transporte público custa R$ 3,00? Cito como exemplo uma família de cinco pessoas: a ida e vinda custará R$ 30,00, isso se passar do período de integração que é o de duas horas. Não seria interessante a gratuidade na passagem nos finais de semana em determinadas linhas?

Soninha Francine: Sim, como eu disse na primeira resposta! :o) Podemos instituir o “Bilhete-Cultura”, com passagem gratuita para famílias nas linhas regulares, e criar linhas gratuitas especiais no fim-de-semana para acesso a circuitos culturais.

Ademir Pascale: Você tem algo a dizer sobre a inclusão digital em nosso estado?

Soninha Francine: Hoje em dia, o estado já não precisa se preocupar tanto com a oferta de computadores em centros públicos porque eles estão bem mais acessíveis - quando ainda estava na MTV, eu sonhava com uma política pública que permitisse que cada um tivesse seu computador em casa e eles se tornassem tão comuns quanto as televisões, e no fim o mercado se encarregou disso... Mas o acesso à internet ainda é limitado, especialmente à banda larga de qualidade - que faz muita falta na hora de baixar um aplicativo ou assistir um vídeo, por exemplo! A prefeitura tem de assegurar então uma boa qualidade de acesso à internet nos equipamentos públicos e a oferta de internet sem fio nas bibliotecas, centros culturais, parques e outros locais abertos ao público.

Além do acesso ao computador e à conexão, é importante criar condições para a aquisição, produção e compartilhamento de conhecimento. Nesse sentido, a oferta de cursos e oficinas nos Telecentros, Acessa, Centros Culturais etc é muito importante. Pretendo também publicar editais de seleção de projetos na área de T.I.C. para seleção de aplicativos que tornem os serviços públicos melhores, facilitando e enriquecendo a vida do cidadão e incentivando, recompensando a aproveitando a criatividade, engajamento e talento de nossos hackers :)

Perguntas Rápidas:

Um livro: Sagarana
Um(a) autor(a): Nelson Rodrigues
Um ator ou atriz: Zé Dumont
Um filme: Pixote
Um dia especial: A estreia da peça A Gota D’Agua em que eu fiz o papel de Joana , no teatro do Paço Municipal de São Bernardo do Campo em 1984.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Soninha Francine
: A experiência, conhecimento e ideias de cada funcionário, usuário e gestor de equipamentos públicos, dos beneficiários dos projetos e programas, dos artistas, escritores etc são insubstituíveis. Eu tenho muita curiosidade, interesse e disposição para ouvir as pessoas, mas não se pode contar só com a boa-vontade do governante... Então quero assegurar a implantação e funcionamento de Conselhos Gestores e outros espaços de participação, na área da cultura e em todas as outras.
 

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistada: Soninha Francine
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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