ENTREVISTA COM OS AUTORES DO LIVRO PASSADO IMPERFEITO
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista os autores do livro Passado Imperfeito.
 (20/04/12)

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Passado Imperfeito - Ademir Pascale (org.)

SINOPSE:

Em Passado Imperfeito, autores muito imaginativos exploram a questão de grandes figuras da história brasileira em situações fantásticas. O livro contém oito contos extraordinários (nos múltiplos sentidos da palavra):
As ações de um herói brasileiro tornam-se ainda mais heroicas no conto “Xavier e o Lobisomem”, de Christian David.
“Uma Cabeça Para Lampião”, de Luciana Fátima, conta uma história macabra na qual sangue segue sangue após um famoso massacre de cangaceiros.
Um padre voador vive uma aventura mágica no conto “A Passarola”, de Daniel Borba.
Em “Os Dois Livros”, Marcelo Bighetti especula como a combinação de dois livros clássicos e um almoço de dois gênios pode inspirar tecnologia capaz de abalar a história.
Em “O Experimento Canudos”, de Estevan Lutz, descobrimos o verdadeiro poder atrás da resistência histórica de Antônio Conselheiro.
A solução de um mistério histórico é revelada quando um grande explorador enfrenta forças, além da sua imaginação, no conto “Kalapalos”, de Tibor Moricz.
Mariana Albuquerque explica como um dos médicos mais famosos do Brasil arrisca até a própria alma em “Encantos de um Homem de Ciência”.
E para completar, Ademir Pascale, em “Recordações”, descreve as lembranças de um caçador de demônios surpreendente, amarrado numa cadeira e à espera da morte certa nas mãos de um inimigo poderoso.

Autores: Ademir Pascale, Christian David, Daniel Borba, Estevan Lutz, Luciana Fátima, Marcelo Bighetti, Mariana Albuquerque, Tibor Moricz.

ISBN 978-85-64076-03-7
Brochura, 12 x 18 cm

1ª Edição – 2012

104 páginas
Valor de capa do livro: R$ 22,00 (R$ 20,00 nos lançamentos e site da Argonautas)

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Um padre voador vive uma aventura mágica no seu conto “A Passarola”. Conte mais sobre o seu conto.

Daniel Borba: Meu conto tem como personagem principal, o Padre Bartholomeu de Gusmão, um nome conhecido na História Brasileira, mas que poucas pessoas sabem quem realmente foi. Ao pesquisar um pouco sobre sua vida, fiquei encantado com todas as coisas que ele fez. Graças à sua genialidade, foi aceito na Corte Portuguesa e conseguiu inúmeros favores do Rei D. João VI. Estudou muito e teve vários inventos patenteados em seu nome. Sua invenção mais impactante foi a Passarola, um aparelho semelhante a um balão que podia fazer o homem voar. Infelizmente, os livros de História mostram que os experimentos com a Passarola não foram totalmente satisfatórios. Meu conto começa justamente a partir daí, utilizando um período de três anos no qual o Padre Bartholomeu viajou pela Europa e seus registros são praticamente inexistentes. Mas eu tive acesso a alguns diários e registros que mostram que ele continuou trabalhando em seus inventos, vivendo uma aventura maior que a outra. O conto "A Passarola" mostra exatamente uma delas, talvez a maior de todas.

Ademir Pascale: “Experimento Canudos” foi o conto que você escreveu sobre o carismático Antônio Conselheiro. Como foram as suas pesquisas sobre o personagem e o que engloba o seu conto?

Estevan Lutz: Para ficar bastante inteirado dos personagens e do ambiente, assisti ao filme "Guerra de Canudos" e fiz a releitura de alguns trechos da obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha.
O conto "Experimento Canudos" traz a última batalha de Antônio Conselheiro e seus jagunços com cenas em tempo psicológico nas quais o dito "messias" recorda o momento em que recebeu o "poder divino" para dar início a sua missão de combater a "diabólica república". No conto, há uma força superior e desconhecida que opera através do conselheiro e enche de cobiça o general da república. Que força seria essa? Estariam Deus e o Diabo se digladiando através desses homens ou seria algo que estava muito mais além da compreensão deles?

Ademir Pascale: Você disse que gostou muito em ter escrito o conto “Encantos de um Homem de Ciência”, por quê?

Mariana Albuquerque: Bem, primeiro foi uma desculpa para comprar uma série de livros para pesquisa, e quem me conhece sabe que não só sou viciada em livros como adoro uma desculpa para comprá-los sem sentir culpa. E pesquisa era fundamental, já que este era um conto sobre um personagem real, e uma das partes mais importantes é que os detalhes batessem com a vida do personagem. Claro que há um elemento fantástico, mas a idéia, ao menos para mim, é tentar encaixar esse elemento o máximo possível no que aconteceu na história. Alguns pontos (como descobrir os nomes dos filhos de Rodrigues Alves) foram complicados de pesquisar, outros (como a ligação misteriosa que Oswaldo Cruz recebeu de uma mulher no dia do seu enterro, a pulseira dourada que ele tinha e se recusava a tirar, a construção do Instituto de Manguinhos imitando a arquitetura Moura, ao qual Oswaldo Cruz dedicou boa parte da sua vida, o fato de que ele se recusava a atender pelo nome Oswaldo Cruz etc) serviram para moldar a história em si. Tudo o que eu sabia quando comecei a pesquisar é que não queria uma história de zumbis, pois seria óbvio demais. À medida em que fui lendo sobre Oswaldo Cruz, porém, a história quase se escreveu sozinha.

O segundo motivo pelo qual gostei de escrever este conto é que Oswaldo Cruz é um dos personagens que mais admiro na História brasileira. Acredito que a Ciência é uma das mais importantes criações da Humanidade (tinha uma amiga que dizia que a Ciência e a Arte são nossas únicas desculpas para estarmos aqui, e concordo com ela), e Oswaldo Cruz não só é um dos maiores cientistas que já tivemos neste país, como é um dos pioneiros que trouxeram o hábito da Ciência para cá, hábito que nós brasileiros ainda não temos o suficiente. Ele praticamente criou a Epidemiologia por estas bandas, e há poucas Ciências com tantas aplicações práticas e tão necessárias ao bem viver (oposto ao sobreviver) quanto esta. Era um herói, mas muita gente não consegue entender o quão grandemente ele foi um herói, tanto no tempo dele como hoje. Ele combateu inimigos que causavam mais mortes que guerras inteiras, mas que não são nenhum dragão ou vilão para que as pessoas possam entender o que ele fez assim logo de cara. Ele derrotou esses inimigos na batalha, e alguns (como a varíola) na guerra. Outros estão de volta, porque não soubemos aprender as lições que ele ensinou. Termos epidemias de dengue, hoje, por exemplo, como ele dizia, é estupidez. O mesmo mosquito que transmite a Febre Amarela transmite a Dengue, e se o mesmo combate incansável fosse efetuado, seria possível deixar de ter essa doença causando mortes todo ano. Mas enquanto o direito de ter enfeites que acumulam água no jardim, pneus velhos espalhados e de não limpar a caixa d´água for maior que o direito de não sofrer com a doença, nada vai mudar. E dito assim parece óbvio, mas tinha muita gente que se opunha, ontem e hoje. Sei lá, o conceito de liberdade deles é diferente do meu, acho.

Ademir Pascale: Poderia comentar sobre o significado do título do seu conto e comentar um pouco sobre o enredo de "Kalapalos"?

Tibor Moricz: Os Kalapalos são uma tribo do alto Xingu. Foi com eles que Percy Fawcet teve seu último contato antes de seu suposto desaparecimento. Dar ao meu conto o nome dessa tribo me pareceu bastante conveniente.
A narrativa se fixa nos momentos cruciais que antecedem o encontro, à beira do Xingu. Exploro também a casuística ufológica onde encontros dessa natureza são comumente narradas na região. Transformo o desaparecimento do explorador inglês num evento fantástico.

Ademir Pascale: Além de capista e diagramador da obra, parece que você curtiu bastante escrever sobre Alberto Santos Dumont, com o conto “Os dois livros”. Fale mais sobre a criação da capa e diagramação do “Passado Imperfeito” e sem muitos spoilers, também sobre o seu conto.

Marcelo Bighetti: A capa passou por várias opções, desde a adaptação de telas de eventos da história do Brasil até fotos da década de 40. Por fim utilizei este terminal meio steampunk, onde coloquei ícones dos tablets atuais. Gostei muito do resultado final da capa, a qual transmite um certo ar de mistério. A diagramação me permitiu adaptar a capa para cada página da biografia do autor.
Escrever sobre Santos-Dumont foi maravilhoso. Quando me foi designado criar um conto sobre ele fiquei super animado. Já havia lido muito sobre ele, um dos meus heróis,e especificamente na pesquisa para este conto me deparei com uma biografia feita pelo americano Paul Hoffmann e um documentário baseado no mesmo. Por incrível que possa parecer foi o melhor material que já tive acesso sobre nosso herói, escrito por um americano a despeito de toda a polêmica sobre os irmãos Wright. A aventura de Santos-Dumont neste conto é intensa, e creio que irá agradar aos leitores. No meu site www.marcelo.bighetti.com.br haverá conteúdo extra sobre este conto, mas que será acessível apenas para aqueles que tiverem o livro em mãos, pois a chave de acesso está na minha página de biografia.

Ademir Pascale: Qual foi a sua ideia inicial quando recebeu o convite para participar da coletânea “Passado Imperfeito” com um conto sobre Lampião?

Luciana Fátima: Quando recebi o convite, logo pensei "Uau! Dá para explorar um monte de coisas malucas numa história sobre o Lampião." Mas, quando tentei começar a escrever, descobri que não era tão simples assim. Eu tinha um conhecimento superficial sobre o bando, a Maria Bonita, o cangaço, etc., mas precisei estudar mais a fundo para poder me sentir confortável o suficiente para manipular os elementos dentro do conto. Naquele momento, eu só conseguia pensar na coisa da decapitação e não parava de pensar na famosa foto das cabeças expostas na escada da igeja. E, como gosto muito dessa mistura entre literatura e fotografia, decidi seguir por essa linha, deixando a tétrica foto conduzir a narrativa. Fiquei bastante feliz com o resultado! Espero que os leitores também gostem...!

Ademir Pascale: Olá, Christian! Por favor, comente sobre o seu conto “Xavier e o Lobisomem”, parte integrante da coletânea Passado Imperfeito.

Christian David: Foi um desafio escrevê-lo, existe uma linha tênue entre envolver um personagem histórico em uma situação fantástica e forçá-lo em uma situção completamente inverossímil, entretanto acredito ter conseguido empurrar a linha o máximo possível em direção ao fantástico de forma a valorizar o personagem e ressaltar as suas "marcas" conhecidas no senso comum. Depois de começado o exercício da escrita passou a ser prazeroso de forma que me diverti com Tiradentes nesse conto. 

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Capa Aberta do livro "Passado Imperfeito" - Editora Argonautas

 

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistados: Autores do livro Passado Imperfeito
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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