ENTREVISTA COM CLAUDIO BRITES

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor e editor Claudio Brites.
 (29/03/12)

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Claudio Brites - Foto Divulgação

Claudio Brites é pai de dois filhos. Formado em Letras e Mestre em Linguística, atualmente cursa graduação em Psicologia. Trabalha como designer e desenvolvedor Web, revirsor e preparador de textos e como editor na Terracota editora. Organizou algumas coletâneas, tem publicado textos esparsos e em 2010 lançou um romance, A Tríade, em coautoria com mais três. Seu primeiro romance, Talvez, foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural – Proac 2011 – da Secretaria Estadual de Cultura, e será publicado ainda este ano.

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como e quando foi o início de Claudio Brites para o meio literário?

Claudio Brites: No meio literário em si, foi com as oficinas do Marcelino Freire e do Nelson de Oliveira. Foi quando comecei a participar de encontros, lançamentos, palestras. Conhecer escritores de renome e tal. Entender como as editoras comerciais funcionavam e definir na minha cabeça o que era realmente essa tal Literatura. Eu estava no fim da faculdade de Letras, acho, e foi meio que o pontapé inicial para tudo que vivo hoje.

Ademir Pascale
: Como foi a sua passagem pela editora Andross?

Claudio Brites: Quando entrei em Letras, a Andross organizava o Concurso Prática de Escrita, dentro da Universidade Cruzeiro do Sul. Era o segundo ano do evento, o tema era crônicas. Eu tinha saído de jornalismo, não tinha dinheiro pra pagar e fui pra Letras meio a contra gosto. Com ajuda de uma professora fantástica, a Beth Cury, mandei meus textos pro Edson Rossatto e pro Carlos Andrade, na época sócio dele. Duas das 4 crônicas que mandei foram selecionadas e eu publiquei. No ano seguinte, eu organizei a antologia de poemas do concurso e no outro, o Kizzy Ysatis não pode organizar o Livro Negro dos Vampiros e me indicou, foi um trabalho bem bacana. Aprendi muito. Então, veio a parceria com a Helena Gomes, no Anno Domini. Ela era fantástica, trabalhava como consultora de cada um dos autores. Foi essa minha passagem por lá, como eu disse, aprendi muito com o Edson, com a Helena, com tudo o que li e vi. Foram meus primeiros passos como editor por que não?

Ademir Pascale: Quais são as suas principais metas como editor da Terracota?

Claudio Brites: Sobreviver dela é minha meta número 1. Às vezes vejo: nossa, ainda estamos por aqui! E fico superotimista em relação a essa meta, as coisas estão acontecendo. Todos meus esforços, e do Carlos, do Eli, de nossos parceiros, estão focados em tornar a Terracota uma editora que possa tratar sempre cada um dos autores com o devido respeito, assim como suas obras, criando uma ponte sólida entre escritores e leitores. Possa pagar suas contas e investir cada vez mais no trabalho de autores nacionais, tradutores, que merecem espaço no mercado. Mas um espaço aberto, com ar puro, sabe? Quero tentar quebrar essa barreira aparentemente intransponível da distribuição. E, quem sabe, acumular alguns prêmios literários para os trabalhos que publicarmos? Tem muito trabalho pela frente.

Ademir Pascale: Como editor, o que você enxerga primeiro numa obra para análise?

Claudio Brites: A qualidade literária que pula nos meus olhos na primeira frase, no primeiro parágrafo, nas primeiras quinze ou vinte páginas. Literatura é palavra, não dá pra fugir disso, não vou ficar aqui discutindo a velha batalha entre forma e conteúdo, não, mas não adianta ter uma ótima história, com personagens deliciosos e não saber contar a tal da história. Bem porque a história não vai chegar nos miolos do leitor, a palavra mal tratada é ruído, e não escutamos a voz do personagem, não percebemos a qualidade do conteúdo, ele é afetado diretamente pela péssima escolha das construções, pelos lugares comuns que chegam a deixar mesmo a gente assim um pouco tonto, sabe? Tem coisa que cai na minha mão que me faz duvidar da existência de Deus, do mesmo modo que tem outras que me salvam, que me levam pro lugar donde emana leite e mel. Leite não, tenho alergia, coloca outra coisa aí com o mel. É pra lá que eu vou!

Ademir Pascale: Você ainda pensa em escrever ou abandonou a escrita para ser editor?

Claudio Brites: Escrever pra mim é uma forma de ficar menos louco e doente. Eu uso da escrita como de uma sessão de análise. Nunca me classifiquei como escritor, porque não vivo do texto, da sua produção para publicação. Ele surge, tem coisas que são bacanas e eu compartilho com os outros. Tem outras que ficam comigo, só.
Hoje eu escrevo menos, mas não por conta da vida de editor. É mais porque eu tenho escrito outras coisas, algumas acadêmicas, por conta do mestrado; outras sob encomenda... tenho feito preparação de textos, ou seja, me debruçando sobre o texto dos outros. Um monte de coisas que pagam as contas, sabe? Mas eu continuo escrevendo sim, ainda mais porque ganhei a bolsa do Proac do ano passado e TENHO que entregar meu romance esse ano. Não tem jeito, não tem como fugir, ou eles pedem o dinheiro de volta.

Ademir Pascale: A Editora Terracota esta sempre preocupada com a qualidade literária das suas publicações, além de ministrar cursos e oficinas de aperfeiçoamento. Como os interessados deverão proceder para participar dos seus cursos e oficinas e quais ainda estão com vagas?

Claudio Brites: No site e nas mídias sociais, tentamos manter todos informados do que está acontecendo. As inscrições são feitas pelo site. Atualmente, temos vagar pra oficina de contos do Marcelino Freire, depois teremos em maio uma oficina de ensaios com a Cláudia Maria de Vasconcellos, no segundo semestre temos oficina com o Sérgio Pereira Couto, Edson Cruz, Bruno Cobbi, e, provavelmente, a segunda edição da Cozinha Literária, curso de romance do Kizzy Ysatis. De todas essas oficinas teremos como resultado livros. Coletâneas e, no caso do curso do Kizzy, romances. É como um celeiro, um grupo de produção, um coletivo.

Ademir Pascale
: Quais dicas você daria aos novos autores ou aos que ainda desejam ingressar no meio literário como escritor?

Claudio Brites: Escrevam. Deem acabamento para o que escrevem. Sigam suas intuições. Peçam opiniões para pessoas que entendem do assunto e, se puderem, paguem pela leitura de profissionais. Ou, ao menos, paguem um revisor antes de mandar às editoras. Estudem, leiam muito, mas muito mesmo, algo dos clássicos e muito dos contemporâneos. Leiam o mainstream, literatura de gênero, não ficção, livros de Biologia, sobre Política e pornografia. Leiam poemas, e não se cansem nos primeiros, é difícil alcança-los, mas vale a escalada. Façam oficinas literárias, mas não se viciem nelas! Criem grupos literários, com pessoas que leem umas as outras. E se livre deles quando achar que estão sendo condescendentes demais com o que você escreve. Não sejam cruéis demais consigo e nunca desistam, não pare no vigésimo não. Tente saber porque ele aconteceu e reescreva. Reescreva sempre. E tenha a coragem de deixar um projeto de lado por outro melhor. Pague para publicar, mas em editoras que tenham respeito pelo livro, por você, ou vá logo em uma gráfica digital, faça 5 dezenas de exemplares e vá distribuindo, enquanto as coisas não acontecem. Isso é uma forma de fazê-las acontecer. Hoje você pode cuidar de tudo sozinho, a editora ajuda, mas não é o único caminho. Cuidado para não ser saqueado, não deixe seu sonho virar compota cheia de bicho. Concorra a concursos literários, porque nunca se sabe... e tenha respeito pela palavra, é dela que tudo nasce na Literatura e se você não tiver respeito por ela, bem, ela pode se vingar de você.

Livros pra ajudar: A Preparação do Escritor (Raimundo Carrero), O zena e a arte da escrita (Bradbury), Oficina de escritores (Stephen Koch), Guerra sem testemunhas (Osman Lins), Muitas Peles (Luiz Bras), ABC da Literatura (Ezra Pound), As regras da arte (Pierre Bourdieu), Angústia (Graciliano Ramos).

Filmes: Pi, Tetro, Poesia (Shi), Mais estranho do que a ficção, Encontrando Forrester, Adaptação, Amores Brutos, Babel, Nina, O palhaço, Reflexões de um Liquidificador.

Duvide de todas as fórmulas e de todas as dicas para quem deseja ingressar no meio literário.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em andamento?

Claudio Brites: Sim, além dos cursos que falei, vamos publicar alguns autores bacanas esse ano e logo eu vou abrir para recebimento de originais para o ano que vem. Eu exonerei do meu cargo na escola pública e me dedicarei mais ao trabalho na Terracota. Publicaremos no mês que vem, com ajuda do nosso consultor de livro digital, Erick Sama, nosso primeiro epub, o romance do Octavio Cariello, Tueris. Acabamos de fechar uma parceria com o site Musa Rara e agora teremos um selo literário em parceria, encabeçado pelo Edson Cruz. E vamos ver no que dá. Pessoalmente, eu quero terminar meu romance e publicar o quanto antes, porque tem outros me atormentando. Quero aprender a desenhar e a programar para Web, enquanto não termino a faculdade de Psicologia. Porque depois que terminar, vou escrever livros de autoajuda e ficar muito rico!

Perguntas Rápidas
:

Um livro: Não verás país nenhum, do Ignácio de Loyola Brandão
Um(a) autor(a): Graciliano Ramos
Um ator ou atriz: Cacá Carvalho
Um filme: Amores Brutos
Um dia especial: Dois: quando meus filhos nasceram.

Ademir Pascale
: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Claudio Brites: Eu quero agradecer o convite, o espaço que você cede pros seus contemporâneos falarem de seus trabalhos, divulgarem seus feitos e tudo mais. Isso é muito legal, quebra um pouco com o egoísmo autocentrado tão presente no meio literário, artístico etc. 

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A Tríade - Carlos Andrade - Claudio Brites - Kizzy Ysatis - Octavio Cariello

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistado: Claudio Brites
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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