ENTREVISTA COM O ESCRITOR RENATO A. AZEVEDO

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor e ufólogo Renato A. Azevedo.
 (19/01/12)

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Renato A. Azevedo e Stanton Friedman - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de Renato A. Azevedo no meio literário?

Renato A. Azevedo: Ademir, sempre gostei muito de ficção científica, séries de TV, filmes e livros. Comprei certa vez uma revista científica, e como brinde veio um volume da série Perry Rhodan, então passei a adquirir outros e me tornei grande fã da série. Na mesma época também li 2010: Uma Odisséia no Espaço II, de Arthur C. Clarke, que firmou definitivamente em mim o gosto pela FC. Então, era por volta de 1997, meio por acaso, e comecei a tentar escrever minhas próprias histórias. Escrevi nos anos seguintes três livros, contando como seria o contato da Terra com civilizações extraterrestres de forma aberta, e algo que me inspirou foi o fato de 1997 ser o cinquentenário do famoso Caso Roswell. Essas histórias foram finalmente publicadas na hoje infelizmente extinta editora virtual Hotbook, onde tive meus primeiros contatos com outros colegas escritores.
Paralelamente escrevia fanfictions (normalmente baseadas na série Arquivo-X, da qual igualmente sou fã, e cheguei inclusive a escrever crossover com outros seriados, como Buffy e 24 Horas), e logo começava também com contos. Também acabei criando outros universos literários, especialmente o de meu primeiro livro, De Roswell a Varginha (Tarja Editorial, 2008). A partir da publicação deste livro, o caminho ficou um pouco menos difícil.

Ademir Pascale: E quais foram suas colaborações na ufologia como consultor da revista UFO?

Renato A. Azevedo: Foram diversas desde 2000, quando foi publicado meu primeiro artigo, na edição 75: Mapas centenários sugerem atuação de ETs no passado. Esse artigo foi inclusive republicado recentemente, na UFO Especial 60. Escrevi sobre variados assuntos para outras edições, como astronomia, as polêmicas coletivas de imprensa da NASA, a carreira do físico Stephen Hawking e vários outros. Também entrevistei figuras como o professor Rubens Junqueira Villela, simplesmente o primeiro brasileiro a pisar no pólo sul e que teve participação fundamental no Programa Antártico Brasileiro, e os americanos Jim Marrs e Leslie Kean. Mas duas edições se tornaram muito especiais e marcantes para mim.
Uma foi a UFO 130, onde publiquei um extenso artigo sobre a vida e a obra de Carl Sagan. Ele foi sem dúvida o maior divulgador científico de todos os tempos, e ter assistido sua série Cosmos, da qual também possuo o livro de mesmo título, foi fundamental nessa carreira de escritor, e um pouco de divulgador científico, na qual embarquei.
O outro grande marco para mim foi atuar como editor convidado da edição UFO Especial 36: Alienígenas na Ficção Científica. Esse foi um trabalho estupendo, que superou em muito minhas expectativas, e veja você, a editora que publica a UFO não possui mais exemplares dessa edição! Consta como esgotada, sucesso que muito me orgulha. E interessante que, em nosso meio da ficção científica brasileira, foi duramente criticada por certos indivíduos que nunca contribuíram para o momento que vivemos atualmente. É evidente que recebi críticas construtivas, das quais sempre podemos tirar lições, mas alguém que não respeita seu trabalho também não é digno de respeito.

Ademir Pascale: Você também colaborou com a revista Scifi News, com a coluna Espaço Ovni, onde publicou entre 2004 e 2006 uma série de contos intitulada "A Lista", dentro do subgênero das realidades paralelas. Conte pra gente como foi essa experiência.

Renato A. Azevedo: O Espaço Ovni começou em 2001 e foi muito gratificante, era uma coluna onde eu procurava traçar um paralelo entre os eventos da ufologia e produções de ficção científica. Mas o ponto alto como colaborador da Scifi News se iniciou em 2004, quando comecei, na coluna “Quem Conta um Conto...”, a publicar uma série de contos de minha autoria.
A Lista trata de uma lista de discussão, tal como os fóruns que temos na Internet, com a diferença que seus inúmeros participantes encontram-se, cada um, em uma realidade paralela. Pude assim tratar de diversos assuntos, como o racismo, o preconceito e especialmente a opressão. É importante dizer que, como escritores, nós também vamos descobrindo os universos de nossa criação conforme escrevemos, sempre foi assim que me senti. E, com A Lista, tenho explorado as inúmeras possibilidades que esse multiverso possibilita, e resgatado esse fator de crítica social que sempre foi tradicional na ficção científica. Inclusive retornei a esse universo recentemente, com o conto A Lista: Letras da Igualdade, publicado no Volume Laranja de A Fantástica Literatura Queer, também da Tarja. Um romance dA Lista está com certeza em meus planos, especialmente diante das teorias científicas cada vez mais sólidas, apresentadas por cientistas como Michio Kaku, ditando que universos paralelos devem mesmo existir.

Ademir Pascale: Em 2008, você publicou pela Tarja Editorial o livro "De Roswell a Varginha". Como surgiu a ideia inicial para a criação deste livro e como foram as pesquisas para compô-lo?

Renato A. Azevedo: Como mencionei anteriormente, após o começo deste século XXI passei a elaborar outros universos, e o de De Roswell a Varginha foi um deles. Como meus livros iniciais resultaram relativamente grandes, tentei descobrir se poderia escrever histórias menores, e o resultado foi esse livro, que inclusive já conta com três sequências prontas, aguardando publicação. Em 2007, sempre buscando como publicar, o que é bastante difícil para autores iniciantes no Brasil, descobri o site da Tarja e entrei em contato com os editores, Gianpaollo Celli e Richard Diegues. O livro finalmente saiu em 2008, sendo bastante comentado não apenas no meio FC, mas também no ufológico. As vezes me perguntam se os fatos narrados no livro são verdadeiros (risos), e essa, digamos, sensação de realidade obtida da mistura de fatos reais com outros ficcionais tem sido uma constante em minha obra. Também gosto de explorar essas teorias conspiratórias, que viveram seu auge com Arquivo-X, além de casos ufológicos de nosso país que não encontram paralelo no mundo. Um outro componente que considero essencial na história é o romance entre os personagens Ligia e Roberto. Eles querem muito ficar juntos, mas as convenções sociais os obrigam a se relacionar com outras pessoas, resultando daí uma série de conflitos que precisam ser resolvidos.

Ademir Pascale: Você lançou recentemente pela editora Estronho, o livro “Filhas das Estrelas”. O que os leitores encontrarão nesse livro e como os interessados deverão proceder para adquirir um exemplar?

Renato A. Azevedo: Acima eu mencionei que, além de escrever outros livros (De Roswell a Varginha e suas sequências), também passei a escrever contos. E muitos destes se passam nesse mesmo universo, daí foi natural reuní-los em livros. Vendo a qualidade dos livros lançados pela Editora Estronho, entrei em contato com eles e o livro logo ficou pronto, com uma apresentação e uma qualidade que me surpreenderam.
Filhas das Estrelas traz contos que complementam e ampliam o universo de De Roswell a Varginha, com seus personagens sempre as voltas com discos voadores e seres extraterrestres. Desde a publicação do livro O Homem que viu o Disco Voador, de Rubens Scavone, ainda na década de 1960, a FC ufológica tem sido uma tradição de nossa literatura, e fico honrado em fazer parte dela. Filhas das Estrelas pode ser adquirido na loja do site Estronho (www.editora.estronho.com.br). Em Filhas das Estrelas são apresentados novos personagens, temos novas revelações, e inclusive um pouco mais de violência e sangue, especialmente em um dos contos, enfocando o ser misterioso conhecido como chupacabras. E gostaria de aproveitar e novamente agradecer ao editor M.D. Amado pela oportunidade, e ao colega escritor e amigo Adriano Siqueira pelo prefácio. Por sinal, na página do livro, pode-se inclusive baixar uma degustação: www.editora.estronho.com.br/index.php/filhas-das-estrelas.

Ademir Pascale: E o que você diz da antologia "Ufo: Contos Não Identificados" (Editora Literata), da qual participou?

Renato A. Azevedo: Essa antologia partiu de uma idéia sensacional da escritora e amiga Georgette Silen, que conhecendo meu trabalho me convidou a participar. Também é um livro com uma apresentação impecável, com participação de muitos ótimos autores que deram cada um sua visão particular para o contato com alienígenas. Apesar de alguns a criticarem como “antologia caça-níqueis” (Como se esses críticos disponibilizassem seu trabalho gratuitamente, não é mesmo? Creio ser muita hipocrisia tecer esse tipo de comentário, quando o objetivo final de todos nós é ser profissionais), UFO: Contos Não Identificados teve ótima aceitação, e inclusive sua capa foi considerada como uma das mais bonitas de 2010.
Gostaria de aproveitar e mencionar outras antologias das quais participei: Medieval Scifi (Estronho/Literata), Histórias Fantásticas Volume 1 (Estronho/Cidadela), e Imaginários 4 (Draco). Nas duas primeiras meus contos novamente abordam os alienígenas, mas em Imaginários 4 exploro o cyberpunk. Sei que uma dessas editoras tem um novo projeto de uma antologia de vampiros, e já preparei um conto para me aventurar com essas criaturas da noite.

Ademir Pascale: Quais dicas daria para quem deseja adentrar na ufologia?

Renato A. Azevedo: Ler bastante, não apenas ufologia mas também sobre ciência. Revistas científicas e sites com as mais recentes descobertas também são importantes. Tenho pesquisado bastante no excelente site Space (www.space.com). Lamentavelmente, a ufologia ainda não é uma disciplina acadêmica e portanto qualquer um pode se intitular ufólogo e dizer que pesquisa contatos extraterrestres. A melhor fonte de informação que temos no Brasil, com certeza, é a revista UFO (www.ufo.com.br). Por sinal, o FAQ do site de UFO é outro de meus trabalhos, e fico feliz que seja considerado um dos mais completos do mundo.

Ademir Pascale: Como os interessados poderão saber mais sobre Renato A. Azevedo?

Renato A. Azevedo: Escrevo o blog Escritor com R (escritorcomr.blog.uol.com.br), e sou responsável pela seção Mundo Ufológico na Revista UFO. Além disso, no próprio site da UFO (www.ufo.com.br), existe uma seção de blogs com vários dos consultores, incluindo eu mesmo, que os leitores também podem conferir. Colaboro também com o site Aumanack (www.aumanack.com). E claro, podem entrar em contato tanto com a Tarja Editorial quanto com a Editora Estronho.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Renato A. Azevedo: Vida de escritor não é fácil, conforme alguns erroneamente pensam! Vários projetos em andamento têm me ocupado, como contos em duas antologias que devem ser anunciadas em breve e também outros livros. Artigos e entrevistas para a UFO também estão sendo providenciados, além de palestras em eventos, ou seja, será um ano movimentado.
E não, não acho que venha algum fim de mundo por aí (risos).

Perguntas Rápidas:

Um livro: Já mencionado aqui algumas vezes, Cosmos, de Carl Sagan. De ficção, 2010: Uma Odisséia no Espaço II (Arthur C. Clarke), que foi o primeiro grande livro de FC que li. Ah, foi mais de um livro (risos).
Um(a) autor(a)
: Isaac Asimov, finalmente li Fundação recentemente e achei sensacional.
Um ator ou atriz: Tive o imenso prazer de assistir a uma palestra de Anthony Daniels, que viveu C3-PO na saga Star Wars, e me impressionou o carinho e o respeito que ele tem pelo personagem que o consagrou, ao contrário de tantos outros atores. Imagine transmitir a torrente de emoções que vemos nos filmes, vestindo a “pele” de um dróide que não tem sequer um movimento facial! Um cara sensacional e um ser humano exemplar! Por sinal, o artigo que escrevi a respeito essa palestra pode ser lido em:
aqui.
Um filme: Contatos Imediatos do Terceiro Grau, obra prima de Steven Spielberg.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Renato A. Azevedo
: Nós, autores fantásticos, temos conseguido importantes vitórias nessa onda que vem desde meados de 2008, coincidentemente quando publiquei De Roswell a Varginha. Mais e mais livros e antologias são lançados a cada ano, mas ainda batalhamos por mais espaço na grande imprensa. Recentemente, por exemplo, assisti a uma coluna cultural em um telejornal que mencionou diversos universos vampirescos, os clássicos e os mais recentes (passando por certo universo purpurinado que não pode ser considerado exatamente vampiresco...), mas não citou um único autor nacional!
Eu considerei isso uma vergonha, uma falta de respeito ao trabalho de colegas, mas também não se trata de apedrejar a grande mídia. Penso eu, trata-se isso sim de continuarmos a ser profissionais, a realizarmos nosso trabalho com seriedade, e continuar criando com verdadeira paixão. Acredito que isso é o ponto central que nos move.
E acima de tudo, precisamos de mais união e menos egos, nos apoiarmos uns aos outros, divulgarmos nosso trabalho para cada vez mais sairmos do fandom e buscarmos nosso espaço lá fora. Somente assim conseguiremos verdadeiramente nos profissionalizar, que afinal é o desejo de todos.
Ademir, agradeço pela oportunidade, e desejo muita imaginação e muito sucesso para todos nós!

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De Roswell a Varginha e Filhas das Estrelas - Renato A. Azevedo

 

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistado: Renato A. Azevedo
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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