ENTREVISTA COM A ESCRITORA GEORGETTE SILEN

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista a escritora Georgette Silen.
 (17/12/11)

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Georgette Silen - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de Georgette Silen no meio literário?

Georgette Silen: Primeiramente, obrigada Ademir Pascale pelo espaço no site para essa entrevista, é sempre um prazer responder perguntas que os leitores e seguidores possam apreciar.
Eu comecei como dramaturga, nos anos 90, quando participei do Projeto Escola de Escritores, promovido pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo em São José dos Campos. Como eu trabalhava com teatro, como atriz, diretora e arte educadora, a ideia era formarmos dramaturgos para suprir a necessidade que esse profissional fazia no mercado regional do Vale do Paraíba. O projeto durou dois anos e teve como um dos responsáveis o dramaturgo Luiz Alberto de Abreu, coautor do seriado Hoje é Dia de Maria, exibido pela Rede Globo de televisão.
Nesse período eu comecei a exercitar, além da linguagem dramatúrgica, também a narrativa, preenchendo as lacunas dos textos teatrais com as passagens que conduziriam os personagens em ação. Mas esses textos ficaram todos em minha gaveta, não era um momento de pensar em publicar nada e meu foco era o teatro, o que eu poderia produzir para os palcos.
Durante anos eu fui alimentando ideias e histórias na minha cabeça, criando roteiros para futuro desenvolvimento, até que em 2003 resolvi que havia chegado o momento de tentar algo, produzir aquilo que eu gostava: literatura de fantasia. E dessa iniciativa surgiu a série Lázarus, meu primeiro romance solo publicado, outros cinco originais que ainda guardo para futura publicação, bem como contos e noveletas que se espalharam em diversas publicações de várias editoras, e com isso conheci muita gente boa, talentosa, e que hoje divide comigo o dia a dia da vida de um escritora no Brasil.

Ademir Pascale: Você publicou o seu primeiro romance “Lázarus” pela Editora Novo Século. Pelo que li em outras matérias, ele terá uma continuação. Você já tem previsão de lançamento da sequência?

Georgette Silen: Sim, o primeiro volume foi publicado pela editora Novo Século em julho de 2010, depois de um período de dois anos a procura de editora. Lázarus faz parte de uma série concebida para 4 livros, que os editores chamam de Saga, e que trabalha com a mitologia vampírica que pesquisei através de relatos variados de países nos continentes habitados. Através dessa pesquisa eu pude descobrir que o mito vampírico é muito diferente, dependendo da nação onde ele foi concebido, do que conhecemos através do cinema hollywoodiano e de outros meios. Em muitos lugares, nem reconheceríamos a figura do vampiro do ponto de vista do conceito ocidental moderno, visto que ele sofre alterações radicais de acordo com a cultura de um povo. Há vampiros gigantescos, mistura de animais e homem, há vampiros que se confundem com mitos mais conhecidos, como as sereias, por exemplo, e outros que nem sonharíamos existir, mas que formam um conjunto de curiosos relatos que inundam a psique humana. Reunidos esses mitos, selecionados os tipos de criaturas que comporiam a trama, a tarefa seguinte foi elaborar o roteiro, definir as ações, os caminhos que seriam percorridos e trabalhar muito em cima da história. Aos poucos outras criaturas do folclore e mitologia mundial foram introduzidos, mesclando-se aos vampiros, e o cenário geral ficou pronto.
A sequência de Lázarus, o romance Panaceia, tem previsão de lançamento em 2012, ainda sem data ou mês definidos.

Ademir Pascale: Recentemente você publicou o livro “Apenas uma Taça” (Editora Estronho), que é uma reunião de contos que homenageiam a criação do mestre Stoker. Na sua opinião, existe mais público leitor para contos ou para romances?

Georgette Silen: O “Apenas uma Taça – Um Brinde ao Mestre Stoker” é uma reunião de 15 contos e noveletas que foram escritas durante o processo de pesquisa para a série Lázarus, explorando o potencial dos mitos diferenciados dos vampiros. Nesse livro o leitor poderá encontrar essa mitologia exposta em histórias curtas e longas, que podem ser lidas de acordo com o tempo disponível para essa atividade, o que considero um diferencial quando se trata de livros de contos, a praticidade na leitura. O título do livro foi uma sugestão do editor, M.D. Amado, pois na época em que discutimos a publicação eu possuía apenas as histórias, mas não havia pensado em juntá-las em um único volume. O trabalho de edição ficou muito bonito, visualmente o livro encanta e aterroriza, como seria esperado. Nesse livro trabalhei com os mitos folclóricos, antes de Stoker, com os clássicos cuja referência é o mestre irlandês criador de Drácula, e também com os vampiros modernos, que surgiram pós Anne Rice. O leitor vai encontrar nessas histórias as referências claras no momento da leitura.
Também fazem parte desse livro dois contos do universo de Lázarus, com personagens do livro, que escrevi como apoio e suporte à trama principal do romance. Trabalhei várias histórias com os personagens do livro, passagens que não fizeram parte do romance, e agora pretendo torná-las públicas, sendo que o “Apenas Uma Taça” foi o primeiro passo para isso.
Pelo que pude observar nesses anos de publicação, no Brasil existe um público muito diferenciado e eclético. Alguns gostam de romances longos e rejeitam um pouco os contos, outros preferem contos por serem uma leitura única e rápida. Acredito que ainda não temos um “perfil” definitivo do leitor brasileiro, ele está experimentando e experienciando, como nós escritores também estamos fazendo. Um bom trabalho de divulgação, em conjunto com autores e editoras, seria uma boa solução para tornar pública uma obra, seja ela um romance ou um conto, e ajudar a formar esse público consumidor para os livros produzidos atualmente, que estão muito bons. Vejo iniciativas maravilhosas de editoras nas antologias nacionais, como a Giz, Draco, Tarja, Literata, Estronho, e outras, o trabalho dispensado no cuidado das obras, e acredito que não faltariam leitores para consumir esses livros, o que falta é o hábito de se adquirir antologias.
O que ainda impera é certo preconceito sobre livros de contos. Alguém diz que não curte, e outros levantam a mesma bandeira, sem procurar conhecer primeiro. Torcem o nariz antes mesmo de virar a página, mas não acho que seja impossível reverter esse quadro, e as editoras nacionais emergentes têm se esmerado muito em conseguir isso. Eu sou bastante otimista diante desse quadro.

Ademir Pascale: Você já participou de algumas antologias de contos. Poderia comentar sobre elas?

Georgette Silen: Cada uma é uma aventura, uma única experiência. Já participei de antologias como selecionada, como convidada e organizadora, e posso dizer que elas têm um potencial incrível para formar leitores e mostrar a obra de um autor para eles, que depois partem em busca de suas obras solo. Além, é claro, de proporcionar um contato muito legal com outros escritores, todos empenhados em um mesmo trabalho. No meu caso, algumas antologias são muito nostálgicas, como Dimensões.BR, da Editora Andross, a primeira em que participei. Não apenas por ter sido meu primeiro trabalho, ainda muito tímida e hesitante, mas por ter visto pela primeira vez como funciona o trabalho de edição, já que o Edson Rossatto faz o autor participar de todo o processo, desde a revisão, diagramação, prova final e divulgação. Aprendi muito com as edições da Andross, das quais participei muitas outras vezes. E foi nessa antologia que também conheci a Helena Gomes, organizadora e uma das escritoras brasileiras mais talentosas que possuímos, e que me deu a honra de prefaciar o Lázarus. Também foi a primeira vez que segurei uma caneta para assinar o primeiro autógrafo, torcendo para que meu primeiro leitor não visse meus dedos tremerem, rsrs.
Outras antologias saudosas (não dá pra falar de todas) foram Poe 200 Anos, da Editora All Print, Sagas – Espada & Magia, da editora Argonautas (um dos meus xodós), Fragmentos do Inferno, recém lançada pela Editora Estronho e cuja organização de Rober Pinheiro foi primorosa, Imaginários volume 4, da Editora Draco, Paradigmas 4, da Tarja Editorial, que me fez ter a vontade de escrever uma história solo do personagem Caçador de Deus, e, claro, O Grimoire dos Vampiros, da editora Literata, a primeira que organizei, com um super apoio do Eduardo Bonito, o editor que apostou em uma novata que aquele projeto doido daria certo, e do Portal Fahrenheit, organizado pelo Nelson de Oliveira.
Como disse, não poderia falar de todas as antologias, foram mais de 40 delas e seria longo demais, mas cada trabalho teve seu charme, seu carinho especial e até certa dose de lágrimas de sofrimento, como todo filho nos faz ter, e acredito no potencial de cada uma dessas publicações no mercado literário brasileiro.

Ademir Pascale: Além de participar, você também já organizou algumas antologias temáticas. Fale mais sobre elas.

Georgette Silen: Ao todo, foram os seguintes trabalhos organizados e ainda em organização:
- O Grimoire dos Vampiros, Ufo – Contos Não Identificados, Espectra – Histórias de Fantasmas – Tomo1, lançados pela editora Literata. Ainda pela Literata serão lançadas as antologias Formaturas Macabras e Angelus – Histórias Fantásticas de Anjos, em 2012.
A Literata abriu as portas para mim quando decidi apresentar um projeto de organização e publicação, e essas antologias são importantes, tanto sentimentalmente como profissionalmente, pois aprendi com elas cada passo editorial importante no momento de divulgar, selecionar e editar um trabalho, percebi o que dá certo e o que deve ser descartado, me deu suporte editorial sólido. Além, é claro, dos inúmeros amigos que fiz com esses trabalhos, muitos dos quais estão me acompanhando até hoje.
Pela Editora Cidadela, de Porto Alegre, organizei a coletânea de 4 volumes Histórias Fantásticas, cujos volumes 3 e 4 estão no prelo, e os volumes 1 e 2 foram lançados em 2010 e 2011 respectivamente.
Ainda há mais antologias a serem divulgadas no seu devido momento, cujos projetos estão em andamento, e 2012 promete algumas novidades aos leitores e escritores.
O importante no trabalho como organizadora é a disciplina envolvida. Tudo requer cronogramas, etapas a serem cumpridas e prazos pré-determinados. E essa experiência acaba sendo levada para sua vida como escritora, atentando para detalhes até então insuspeitados. E o feedback que tive até o momento foi dos melhores possíveis, o que me incentiva a continuar.

Ademir Pascale: Você acha importante a participação em antologias de um autor experiente ou em início de carreira?

Georgette Silen: Acho importante a participação do autor no meio literário sempre, independente de ser “iniciante” ou não. Antologias são publicações tão importantes quanto romances, livros solos. Têm que ser encaradas com o mesmo respeito e a mesma dedicação, pois elas são obras que chegarão as mãos do leitor, e ele sempre merece o melhor de cada autor. Cada obra, cada livro, seja solo ou em coautoria, é uma responsabilidade que independe do tempo de carreira de cada um. Claro, as cobranças sobre os mais experientes serão sempre maiores, mas isso faz parte do processo evolutivo, e creio que cada autor sente a necessidade de aprimorar seu trabalho quando olha para trás e vê o que já publicou, o que pode melhorar e o que precisa rever enquanto conceitos e técnicas. Portanto, seja um autor iniciante no meio ou um autor com mais “tempo de estrada”, o cuidado deve ser o mesmo em princípio: buscar a qualidade máxima que se pode dar ao seu texto naquele momento, extrair bons resultados, buscar a pesquisa constante, e nunca, jamais se acomodar.

Ademir Pascale: Quais dicas você daria para os escritores em início de carreira?

Georgette Silen: Dicas são sempre muito relativas, pois cada escritor tem seu ritmo e seu ritual para escrever e trabalhar. Para mim, o que funciona e o que eu percebo são as seguintes:
Foco. Sinto que isso falta e muito para alguns que se aventuram na literatura, que sentem a necessidade de querer escrever algo, talvez por acharem que escrever seja algo fácil, apenas colocar ideias em um papel. Ledo engano.
Em seguida, eu diria Pesquisa. Trabalho com revisão literária e sempre me deparo com detalhes que facilmente seriam resolvidos se a pesquisa fosse mais cuidadosa. Se trabalho um texto na Idade Média, preciso saber o que se pensava, como se portavam os cidadãos desse período e tomar cuidado para não colocar elementos que não sejam pertinentes, salvo se o subgênero literário assim o permitir, o que a Literatura Fantástica acaba oferecendo em seus viés, como Steampunk, Midlepunk entre outros. Mas mesmo essas liberdades têm que ser dosadas dentro da proposta que se abraça, ou pode se pecar pelo exagero ou pela ausência.
Reciclagem, o que posso traduzir como leitura. Ler sempre, buscar referências, alimentar a mente, provocar as ideias. Tudo isso a leitura pode fazer, é base da base, sem sombra de dúvidas.
Disciplina. Escolha os trabalhos que pode fazer naquele momento e se dedique a eles, não tente abraçar tudo de uma vez, ou você pode perder qualidade literária. Melhor ter menos trabalhos publicados, mas ter atingido um grau que o satisfaça, do que publicar muita coisa que, em certo momento, pode deixar de ter sentido para você.
Paciência. Publicar não é tarefa fácil, exige tempo e, acima de tudo, cuidado. Tenha certeza que seu texto está pronto, bem acabado, amarrado. Cuidado com a ansiedade do “iniciante”, ela é o pior inimigo do bom autor. Analise as propostas que tiver, coloque-as lado a lado e peça informações com colegas escritores mais experientes em publicação, não importa se você vai publicar por uma editora patrocinadora ou se será autopublicação. Quando tiver certeza e se sentir confortável com suas escolhas, então é hora de colocar a cara a tapa, por que somente os leitores poderão dar um feedback sincero e honesto sobre seu trabalho.
Conheça o Mercado Literário. Nada pior para um escritor do que considerar a obra apenas como seu “filho” e se esquecer que ele, na verdade, é um produto que precisa ser vendido, negociado. Editoras verão seu livro como um produto vendável, e por mais que sejamos apegados ao nosso trabalho de uma forma diferenciada, precisamos entender o mercado literário, suas regras e como elas podem afetar nossa obra. A relação escritor/editora deve ser clara, sempre, com objetivos comuns a serem alcançados e trabalhados por ambas as partes.
Divulgue-se. Participe de eventos literários, bienais e feiras de livros e converse com leitores, conheça seu público. Isso é excelente para se avaliar o alcance de sua publicação.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Georgette Silen: Opa, com certeza. Para 2012 deverão ser lançadas as antologias Formaturas Macabras e Angelus – Histórias Fantásticas de Anjos, pela editora Literata e com organização minha. Além disso, estarei em mais 4 publicações como contista convidada e ainda haverá o lançamento de Panaceia, continuação de Lázarus, e do livro O Caçador de Deus.
Também farei o prefácio do próximo audiobook da Rádio Digital Rio, com contos vampirescos em homenagem a Bram Stoker, que será lançado em 2012 e cujas inscrições estão abertas para recebimentos de contos. Agradeço a Anny Luccard pelo convite a esse trabalho. Também gostaria de citar o lançamento do livro O Castelo Montessales, de Susy Ramone, cuja quarta capa foi de minha autoria.
Existem outros projetos sobre os quais não posso falar, mas que irei divulgando conforme me for permitido fazer.

Ademir Pascale: Como os interessados poderão saber mais sobre Georgette Silen?

Georgette Silen: Bem, eu poderia dizer para acessar meu blog: sagalazarus.blogspot.com. Mas, como sou uma péssima blogueira, quem quiser conversar comigo pode mandar e-mail para missgette@yahoo.com.br, me seguir no twitter @georgettesilen ou me procurar no facebook como Georgette Silen, são os meios de comunicação que mais utilizo com os leitores.

Perguntas Rápidas:
Um livro: As Brumas de Avalon
Um(a) autor(a): Marion Zimmer Bradley
Um ator ou atriz: Daniel Day-Lewis
Um filme: Meu Pé Esquerdo

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Georgette Silen: Gostaria muito de agradecer ao espaço que cedeu para essa entrevista Ademir, é muito importante que os autores possam apresentar seus trabalhos ao público leitor, nossas ideias e opiniões. Trocar informações é sempre bem-vindo. Espero que essas poucas palavras possam ser úteis aos leitores, e que se sintam a vontade para entrar em contato comigo pelos meios citados acima.
Caso desejem adquirir os livros Lázarus e Apenas Uma Taça – Um Brinde ao Mestre Stoker, podem acessar os seguintes links:
Lázarus está a venda nas lojas Submarino. Saraiva e Siciliano. Livraria Cultura. E em outras lojas de e-comerce e físicas, nas grandes redes.
Caso algum leitor deseje o livro autografado, tenho alguns exemplares disponíveis para compra direta pelo e-mail missgette@yahoo.com.br.
O ‘Apenas Uma Taça – Um Brinde ao Mestre Stoker” pode ser adquirido na Loja da Editora Estronho com descontos e brindes: clique aqui, ou no site da Livraria Cultura.
E as antologias citadas acima estão disponíveis nos sites das editoras e também na Livraria Cultura e Saraiva.

Mais uma vez obrigada, e sucesso a você sempre!

Georgette Silen

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Lázarus - Georgette Silen

 

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistada: Georgette Silen
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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