ENTREVISTA COM O ESCRITOR E EDITOR DUDA FALCÃO
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor e editor Duda Falcão.
 (31/12/10)

Ademir Pascale: Quais foram as suas principais influências e o seu início para o meio literário?

Duda Falcão: Sem dúvida, os quadrinhos foram o meu primeiro contato com a literatura. Isso ocorreu antes mesmo de entrar na escola. Por uma sequência de imagens já era possível construir uma narrativa. Isso significava, de certa forma, deixar a imaginação livre para criar. Ou seja, eu mesmo podia inventar uma parte da história. As crianças costumam fazer isso, se não forem podadas pelos pais, é um exercício de criatividade.
Bem, comecei pelas aventuras dos patos de Disney e, logo, a colecionar revistas da Marvel. Lá na infância, está a origem para responder a sua primeira pergunta... Mas, o fato é que, desde esse tempo, sinto-me influenciado por narrativas de aventura, repletas de heróis e vilões.
A partir disso, passei a edificar uma lista de preferências. Na qual é possível encontrar Robert E. Howard, que conheci dos quadrinhos editados pela Marvel, Edgar Allan Poe, Bram Stoker, Mary Shelley, Baudelaire, Ray Bradbury, Michael Moorcook, H. G. Wells, H. P. Lovecraft, Stephen King e Neil Gaiman. São meus autores preferidos, mas existem muitos outros nesse roll, sendo que a grande maioria, pode-se dizer, enquadra-se na literatura fantástica, na ficção científica, no terror, na fantasia e, também, nos clássicos, como por exemplo, Cervantes e Homero.
Tive meus primeiros contos impressos em 2005. Foram apenas dois. Ainda não sabia exatamente qual o caminho tinha de trilhar para ver meus trabalhos expostos em livros. Em 2008 resolvi publicar na internet, em um blog, uma noveleta com capítulos curtos, Hylana nas Terras de Lhu. Creio que essa decisão tenha me ajudado a expor, mesmo que de maneira mínima, meu trabalho. Isso acabou proporcionando certos contatos.
Somente em 2009 voltei a arriscar uma publicação impressa. Enviei um conto sobre vampiros, intitulado Emplumado, para a antologia Draculea – vol. 1. Fiquei empolgado, pois se tratava de um assunto que me trazia as melhores lembranças das leituras de Drácula do Stoker. Meu vampiro era estranho, bizarro, do mal e fora do comum. Esse é o marco que considero inicial da minha trajetória no meio literário.

Ademir Pascale: Você é um autor bem ativo. O que diz das antologias das quais participou?

Duda Falcão: Gostei, em especial, de participar do Draculea – vol. 1. Então, fui em busca de outras antologias que aceitassem meu trabalho. Isso significava investir em novas editoras. A partir do momento em que havia decidido ser escritor, o importante era publicar... Ponto final!
Foi uma decisão pessoal, cada autor deve saber o que é melhor para o seu trabalho. Aos poucos, nós vamos conhecendo quem são os editores, quem são os outros autores e esse processo apenas amadurece com diversas participações. Não serve de nada deixar o texto mofando na gaveta ou esquecido em alguma pasta perdida no computador.
No início de uma caminhada, por convicção, acredito que precisamos jogar, entende? Não dá pra ficar no banco de reservas esperando uma oportunidade luminosa ou que se abram as portas do céu! Sempre vamos ter derrotas pela frente, mas para ganhar temos de estar em campo. E, a cada vez que jogamos, podemos melhorar um pouco, sermos mais...
Por isso, fui em frente, e de 2009 para cá participei de quinze livros de contos.
Bem ou mal, sei que algumas pessoas, além da minha família e dos amigos, leram meu texto. Isso já é uma pequena vitória, em um país, no qual a literatura e a leitura estão longe de ser prioridade. Portanto, sou favorável às antologias. Participei delas e não me arrependo. Pelo contrário, li alguns textos muito bons e, talvez, o mais importante nesse processo inicial seja o fato de ter conhecido pessoas com interesses e projetos semelhantes. Certamente, continuarei participando de antologias, desde que o tempo me permita produzir bons textos.

Ademir Pascale: Como e quando surgiu a ideia para a criação dos blogs Museu do Terror (museudoterror.blogspot.com) e Hylana nas Terras de Lhu (hylananasterrasdelhu.blogspot.com)?

Duda Falcão: Falarei primeiro de Hylana nas Terras de Lhu, pois o blog surgiu em 2008, sendo anterior ao Museu. Como referi na primeira pergunta, fiz esse blog para colocar em exposição um de meus textos. Comecei divulgando para amigos e, em seguida, me surpreendi pelo acesso de pessoas que eu não conhecia. A cada semana eu postava um capítulo da noveleta. Era um capítulo curtinho, de leitura fácil e rápida para se adequar ao ambiente da internet. Tratava-se de uma aventura, com uma heroína hábil no uso da katana, uma espada oriental. Podemos enquadrar a narrativa no gênero Fantasia, com componentes que lembram o Role Play Game e Tolkien.
Hoje, lendo o texto, se tivesse de reescrever a noveleta para uma possível publicação impressa, cortaria todos os elfos e anões que lembram a Terra Média e deixaria a história mais sombria e original. O texto continua disponível na internet para leitura, apesar de não ser mais atualizado. Hylana nas Terras de Lhu também teve uma versão em pdf, digitalizada por Carlos Rocha, amigo que conheci pelas andanças virtuais na rede (selo-multiversos.net/terras-de-lhu/terras-de-lhu-apresentacao).
Já o Museu do Terror foi inaugurado no ano seguinte, em 2009. Resolvi criar o blog depois de ter participado do Concurso Escritores de Terror, promovido pelo Mario Carneiro Jr. e Me Morte, também escritores. Escrevi o conto Museu do Terror para participar. Daí surgiu o nome do blog. O conto em questão também foi publicado em livro impresso.
A proposta inicial para o blog era dar continuidade à primeira história. Divulguei mais nove contos na web. Um deles foi publicado no livro Poe 200 Anos. Além disso, o Museu do Terror acabou servindo de espaço para divulgar livros de outros escritores brasileiros. E, atualmente, também tenho divulgado minhas publicações e eventos relacionados à Argonautas Editora, empresa que abri com o meu sócio Cesar Alcázar.

Ademir Pascale: E o que você diz da nova parceria com Cesar Alcázar na editora Argonautas (www.argonautaseditora.wordpress.com)? Qual o diferencial da editora e o que os leitores poderão esperar dela para 2011?

Duda Falcão: O trabalho com o Cesar tem sido o melhor possível. Estamos engajados em produzir livros de qualidade, que valorizem os autores e os leitores. Em primeiro lugar, pretendemos dar uma identidade própria à editora, que se solidificará com o tempo, desde o projeto gráfico até os gêneros que pretendemos divulgar.
Acredito que alguns dos nossos diferenciais sejam os seguintes: teremos apenas autores convidados em nossos livros; não fazemos processo de seleção; trabalharemos apenas com literatura fantástica e os seus subgêneros.
Em 2011, dependeremos das vendas, ou seja, dos leitores, para colocar mais livros no mercado. Por isso, faremos o melhor possível para manter a qualidade das edições que os leitores venham a adquirir. Isso significa editar boas histórias escritas por bons autores, investir em uma ilustração de qualidade para a capa, investir no projeto gráfico, na revisão e na diagramação, para que o produto final – o livro – seja algo interessante de ler, de ver, de tocar, de comentar e de colecionar.

Ademir Pascale: Fale mais sobre Sagas 1: Espada e Magia. Os demais volumes terão o mesmo subtítulo?

Duda Falcão: O Vol. 1 – Espada e Magia privilegiou a Fantasia Heroica, teve Prefácio de Roberto de Sousa Causo e contou com as noveletas de Georgette Silen (A Cidadela de Elan), Rober Pinheiro (A Dama da Casa de Wassir), além de um conto meu (Sem Lembranças daquele Inverno) e outro do Cesar Alcázar (Lágrimas do Anjo da Morte). O trabalho foi inspirado em autores tais como Robert E. Howard, Michael Moorcok e Fritz Leiber. O herói é o foco das narrativas, em busca da resolução de seus conflitos pessoais. Enfrenta os mais diversos perigos, entre feiticeiras e monstros. E, os cenários, verdadeiras viagens por ambientes insólitos e fantásticos. Em poucas palavras, o livro foi feito para valorizar a imaginação e a aventura.
Os próximos volumes de Sagas seguirão uma tradição pulp voltada para o Terror, a Ficção Científica e a Fantasia em composição com os seus subgêneros. Oeste Estranho é o título do volume 2 da série. E já está em produção. Participarão desse livro M. D. Amado, Wilson Vieira, Alicia Azevedo e Christian David. O volume 2 deve ser lançado em abril. O terceiro ainda é segredo, mas calculo que até o final de 2011 esteja pronto. Além desses dois, vamos ver como as finanças se regulam para lançar um livro de autor solo. O livro solo e o volume 3, por enquanto, são projetos, mas acredito que em breve poderão ser anunciados.

Ademir Pascale: Veremos na Argonautas outros trabalhos do excelente ilustrador Nate Milliner?

Duda Falcão: Com certeza! Nate é um grande ilustrador, uma pessoa super acessível e acima de tudo profissional. Certamente ele participará de outros projetos conosco.

Ademir Pascale: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?

Duda Falcão: Não existe um segredo, ao contrário do que outras pessoas possam achar. Para ser escritor, deseje ser um escritor. Escreva. Escreva muito. Leia. Leia muito. E revise seus textos com paciência. Pode ter certeza, que se fizer isso, algum dia você alcançará seus sonhos. E, não esqueça, a rede social é importante. Faça contatos, converse com aqueles que já têm mais experiência. E, por fim, não deixe seus textos engavetados, escritor é aquele que publica.

Ademir Pascale: Quando poderemos contemplar um romance de Duda Falcão?

Duda Falcão: Por enquanto, não tenho uma perspectiva nesse sentido. Prefiro escrever e publicar contos, sejam eles curtos ou longos. Para escrever um romance de qualidade é preciso muito tempo de pesquisa. E, como tenho de dividir meu tempo entre lecionar, escrever narrativas curtas e agora editar, um romance seria, ao menos na minha perspectiva, um trabalho de gigante!
Por isso, deixo aqui meus parabéns aos autores nacionais que conseguem se dedicar a esse trabalho titânico...

Perguntas Rápidas:

Um livro: Frankenstein ou o Moderno Prometeu
Um(a) autor(a): H. P. Lovecraft
Um ator ou atriz: Vincent Price
Um filme: The song remains the same – Led Zeppelin
Um dia especial: 15 de maio de 1999.
Um desejo: Continuar publicando ficção.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Duda Falcão: Quero apenas agradecê-lo pela entrevista, Ademir. Você é um verdadeiro Ativista Cultural, uma pessoa preocupada com a literatura em nosso país. Obrigado pelo espaço e pela oportunidade de divulgar meu nome de escritor e meu trabalho na Argonautas Editora. Valeu!

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