ENTREVISTA COM O ESCRITOR ANDRÉ BOZZETTO JUNIOR
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor André Bozzetto Junior.
 (18/07/10)

Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber quais foram as suas principais influências e o seu início para o meio literário?

André B. Junior: Em termos de literatura fantástica, creio que as minhas influências foram as mais óbvias. Tive minha iniciação com os clássicos Drácula, de Bram Stoker e Frankenstein, de Mary Shelley e o fascínio despertado por eles me instigou a buscar por outros autores que considero não menos geniais, como Poe, Lovecraft, Álvares de Azevedo, Stephen King e Clive Barker. Inclusive, penso que este último é o que mais me inspira em termos de estética literária, pois me agrada bastante o seu estilo narrativo que, de uma maneira geral, é bem pontual e com uma significativa ênfase na escatologia e na violência explícita. Contudo, não posso negar que sempre fui igualmente influenciado por aquelas revistas em quadrinhos de terror que eram muito populares durante a década de 1980 e que eu li durante toda a minha infância, do tipo Kripta, Mestres do Terror, Calafrio e Cripta do Terror, entre outras tantas. Até hoje há alguns exemplares destas revistas guardados na casa dos meus pais (risos).

Quanto ao meu início no meio literário, ele ocorreu em 1998, através da publicação do meu primeiro romance, intitulado Odisséia nas Sombras e que consiste em uma história sobre um grupo de amigos que precisa enfrentar um serial killer dotado de poderes sobrenaturais que volta da sepultura em busca de vingança. Logicamente, a própria premissa já denuncia que não se trata de nada muito original e hoje, passados mais de dez anos de sua publicação, eu o vejo como um trabalho dotado até de certa ingenuidade, mas que vendeu de forma bem satisfatória para uma época anterior a popularização da internet e serviu para me abrir várias portas, inclusive em termos profissionais.

Ademir Pascale: Por que este fascínio pelos lobisomens?

André B. Junior: Quando as pessoas me perguntam isso eu costumo responder que os lobisomens escolheram a mim mais do que eu a eles (risos). Digo isso porque o meio e a época em que cresci foram incrivelmente favoráveis ao desenvolvimento desse fascínio que nutro pelos licantropos. Sou natural de uma pequena cidade chamada Ilópolis, localizada no interior da região serrana do Rio Grande do Sul, onde os “causos” não apenas sobre lobisomens, mas também sobre assombrações em geral sempre foram bastante comuns e assim eu passei toda a infância ouvindo histórias supostamente “reais” contadas pelos mais velhos. Além disso, também fui muito influenciado pela televisão. Em meados da década de 1980 a Rede Globo exibia a novela “Roque Santeiro” onde havia um personagem que se transformava em lobisomem e ele me assustava e fascinava na mesma proporção, da mesma forma que aqueles filmes maravilhosos que eram exibidos e reprisados com grande freqüência pelo canal SBT, como “Grito de Horror”, “Bala de Prata” e o inesquecível “Um Lobisomem Americano em Londres”, além da série “O Lobisomem ataca de novo”, exibida nas sextas-feiras também pela Globo. Podemos ainda incluir neste contexto as já mencionadas histórias em quadrinhos de terror e então o quadro está completo.

Ademir Pascale: Poderia falar como foi a sua participação em algumas coletâneas?

André B. Junior: Na verdade, a única antologia já publicada da qual eu participei foi Metamorfose – A fúria dos Lobisomens, organizada por um certo Ademir Pascale (risos). Particularmente, eu tenho um especial apreço por esse livro, não apenas pela temática, que é inteiramente do meu agrado, mas também pelo fato de que foi através dele que eu pude conhecer vários outros ótimos autores, alguns dos quais me tornei amigo. Além disso, em um mercado literário tão carente de boas publicações sobre lobisomens, eu vejo esse livro como algo cult, que vem sendo muito apreciado pelos fãs das criaturas licantrópicas e que, de certa forma, foi também o responsável por incitar um revival do gênero na literatura nacional, uma vez que teremos para breve o lançamento de pelo menos três obras envolvendo a abordagem destas criaturas fascinantes.

Ainda em 2010 estarei integrando pelo menos duas outras coletâneas, sendo que uma delas é Draculea II – O Retorno dos Vampiros, da qual me propus a participar com um conto que presta uma homenagem ao universo ficcional do filme “Nosferatu”, de F. W. Murnau, que considero não apenas o meu filme de vampiro favorito, mas também uma das melhores obras cinematográficas que já assisti até hoje. A outra antologia que contará com um conto de minha autoria é Extraneus – Vol. 2: Quase inocentes, organizada por M. D. Amado, através do selo Estronho. Como não deve ser difícil deduzir, em ambas as histórias teremos lobisomens dando as caras (risos).

Ademir Pascale: Você lançará em breve o livro Na Próxima Lua Cheia. Fale um pouco sobre ele para os nossos leitores e como está a expectativa para o seu lançamento.

André B. Junior: Na Próxima Lua Cheia é um livro que comecei a escrever em 2007, parei durante o período em que estive cursando Mestrado e só vim a concluí-lo no ano passado. Logo consegui um contrato com uma editora para publicá-lo, mas depois de terem se passado vários meses sem que nada acontecesse, pedi rescisão e fechei com a Literata, que vai fazer a publicação através do selo Estronho. Particularmente, estou convencido de que a mudança foi benéfica, pois o livro será finalmente lançado em breve, por meio de pessoas que estão trabalhando nele com responsabilidade e profissionalismo. O enredo do livro gira em torno de um personagem chamado Lucas, que, obcecado em desvendar a verdade por trás de uma história antiga e obscura narrada por seu pai no leito de morte, decide partir na companhia de dois amigos em uma viagem a um lugarejo remoto no interior da região serrana do Rio Grande do Sul. Chegando ao seu destino, ele descobre que há um alto preço a ser pago pelos segredos revelados, pois quando surge a lua cheia, o trio de amigos se vê diante de horrendas criaturas dispostas a manchar de sangue os tons sombrios da noite. Trata-se de uma história de terror sobre vingança e lobisomens, com ação, violência e bastante sangue. O livro terá prefácio de M. D. Amado, apresentação de Ademir Pascale e um texto introdutório de Adriano Siqueira.

Ademir Pascale: Está sendo fácil publicar um livro nos dias atuais?

André B. Junior: Eu diria que é bem menos difícil hoje do que no final da década de 1990, quando publiquei meu primeiro livro, mas mesmo assim a situação ainda está muito longe do ideal. Se o autor estiver disposto a pagar para publicar, há inúmeras editoras dispostas a realizar essa tarefa, quase sempre cobrando pequenas fortunas. Sabemos que as editoras grandes geralmente mantém suas portas fechadas para os autores nacionais em início de carreira, então, para aqueles que não se dispõe a pagar, resta a opção de procurar pelas editoras de pequeno e médio porte, o que não se constitui em algo menos dificultoso, uma vez que aquelas que trabalham com profissionalismo e qualidade são minoria e geralmente bem concorridas, além de dotadas de longas filas de espera. Em síntese: creio que as coisas estão evoluindo, mas ainda muito lentamente.

Ademir Pascale: Além de escritor, você é professor universitário e colunista do site Boca do Inferno (www.bocadoinferno.com). Como você faz para conciliar todas essas funções diariamente?

André B. Junior: Na verdade, já faz algum tempo que eu não estou mais escrevendo para o site Boca do Inferno, mas há textos de minha autoria sendo publicados no Portal Gore Boulevard (goreboulevard.webnode.com.br), mantido pelo versátil Iam Godoy. De qualquer maneira, eu adoro lecionar e escrever, de forma que a única dificuldade que decorre disso é que eventualmente falta tempo para conciliar as duas funções e, obviamente, nestes casos o trabalho assume a posição prioritária. Mas, geralmente eu consigo me virar bem com ambas as atividades, o que me proporciona grande satisfação.

Ademir Pascale: Poderia dar algumas dicas para os jovens que estão ingressando no meio literário?

André B. Junior: Em primeiro lugar, ler muito. Não me parece possível que alguém possa um dia se tornar um grande escritor sem antes ser um grande leitor. Em segundo lugar, recomendo muita paciência e perseverança, pois lidar com um mercado editorial como o descrito na resposta de uma das perguntas anteriores não é uma tarefa das mais simples. Também é imprescindível que o autor escreva algo de boa qualidade, pois com exceção daquelas editoras que aceitam publicar qualquer coisa mediante pagamento, as outras sempre vão evitar arranhar sua imagem perante os leitores lançando um livro ruim. No caso de alguma se dispor a publicar os originais enviados, acho importantíssimo exigir que tudo aquilo que for combinado verbalmente conste de forma detalhada no contrato, inclusive o tempo do qual a editora irá dispor para realizar a publicação. Infelizmente, há pessoas neste meio que – por incompetência ou mesmo má fé – não cumprem aquilo que prometem inicialmente, e o maior prejudicado com isso acaba sendo sempre o autor. Sei disso por experiência própria.

Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para saber mais sobre você e o seu livro?

André B. Junior: O livro Na Próxima Lua Cheia já tem site oficial (www.estronho.com.br/luacheia) e comunidade no Orkut. Também recomendo que visitem o blog Escrituras da Lua Cheia (www.escriturasdaluacheia.blogspot.com), única página da internet brasileira dedicada exclusivamente à publicação de contos de lobisomem, não só de minha autoria, mas também de vários outros escritores convidados.

Perguntas Rápidas:

Um livro: Drácula, de Bram Stoker
Um(a) autor(a): Clive Barker
Um ator ou atriz: Robert De Niro
Um filme: Um Lobisomem Americano em Londres
Um dia especial: Certamente o dia mais emocionante da minha vida está por chegar em breve, no nascimento do meu filho.
Um desejo: Viver em paz com a minha família pelo máximo de tempo que as Forças Superiores permitirem.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

André B. Junior: Quero agradecer sinceramente pelo gentil convite para conceder esta entrevista e me despedir deixando um forte abraço para todos os leitores do Portal Cranik.

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Na Próxima Lua Cheia - André Bozzetto Junior