ENTREVISTA COM O ILUSTRADOR CELSO MATHIAS

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o ilustrador Celso Mathias.
 (14/05/10)

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 Celso Mathias - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Sei que você foi influenciado pelo grande Frank Frazetta para o mundo da arte. Mas gostaria de saber com mais detalhes como foi o seu início neste meio.

Celso Mathias: Eu tinha 14 anos e fui convidado a visitar o estúdio do pai de um amigo meu. Ele era artista plástico. Ao chegar lá, ele me perguntou se eu conhecia os quadros do Frank Frazetta. Nessa época a minha grande influência era o peruano Boris Vallejo, mas achava suas pinturas um tanto duras. Disse a ele que nunca havia ouvido falar do Frazetta. Ele então abriu o armário e pegou uns três livros. Book 1, 2 e 5 se eu não me engano. Chapei na hora! O que era aquilo? Um artista que misturava pintura acadêmica com arte fantástica. Quadros que às vezes me lembravam Caravaggio ou Rembrandt. Mulheres pintadas parecendo naturais e não plastificadas e com suas nádegas até com estrias(KK). Puxa! Aquilo me impactou de verdade! Não via a hora de comprar os livros. Com essa idade dependia dos meus pais. Convenci a minha mãe a comprar um, sugava tudo o que podia do livro e no dia seguinte ela ia à livraria trocar por outro (KK) e assim foi até a atendente não querer mais trocar (KK). Anos depois comprei todos. Dormia abraçado aos livros, estudando cada pincelada, cada composição do mestre e por um momento almejei ser Frank Frazetta, afinal eu tinha 14 anos e pronto pra sonhar o mundo. Frank Frazetta, Rembrandt, Norman Rockwell e Rubens me ensinaram a pintar certo e artisticamente. Mas, dos quatro o Frazetta era nessa época a minha maior referência devido aos temas dos seus quadros.

Ademir Pascale: Dos trabalhos do Frank Frazetta, qual mais lhe marcou e por quê?

Celso Mathias: Para quem admira ou é cria do Frazetta todos os quadros são impactantes.
Admiro todos, mas confesso que o que mais me seduziu de verdade foi o Death Dealer. Aquele guerreiro com armadura e em cima do seu cavalo. Nas narinas do cavalo saindo o vapor do frio...Nossa, aquilo me dava um misto de admiração e medo.

Ademir Pascale: Poderia falar para os nossos leitores sobre o dia que você recebeu uma foto autografada do próprio Frank Frazetta? Por que ele fez isso?

Celso Mathias: Mais de duas décadas depois, já como um profissional das artes, resolvi que estava pronto para fazer uma homenagem ao Frazetta. Eu iria presenteá-lo com um retrato. Meu pedido a ele foi um autógrafo em um papel qualquer. Pintei o retrato em acrílica e enviei. Bom, aqui do Brasil temos um péssimo defeito de achar que o mundo não nos olha a não ser pelo futebol e samba. Portanto, retirei da minha cabeça a chance de um dia receber aquele “encantado” pedacinho de papel com o autógrafo do mestre. Mais ou menos como as embalagens premiadas dos chocolates Wonka do filme “A fantástica fábrica de chocolate”. Um dia recebo um e-mail e era nada mais nada menos que o Frank Frazetta Junior, o filho do mestre (sem nenhuma alusão religiosa KK). Não acreditei. Dizia ele que o seu pai havia adorado o retrato e ficado junto com a Ellie, sua esposa, admirando a minha obra por duas horas. Tudo registrado no site oficial do Frazetta, que hoje se encontra em reforma. Hoje o meu quadro se encontra no acervo pessoal do mestre.


Frank Frazetta ao lado da ilustração do Celso Mathias

Ficamos trocando alguns e-mails até o dia em que ele me mandou a foto ainda por e-mail, e sem a dedicatória, essa, a foto original, chegaria por FEDEX em alguns dias. Quando chegou, Saí pulando pelo meu estúdio igual à uma criança. A foto com a dedicatória em caneta dourada! Sinceramente, não acreditava naquilo. Um artista sul-americano ser agraciado com um a foto do mestre e com dedicatória. Confesso que fiquei tão exultante de enquadrá-la rápido que esqueci de escanear antes(RSRS) e hoje fico sem coragem de retira-la da moldura. Quem vem ao meu estúdio fica maravilhado com a foto e a dedicatória.
Transformei-me por completo com essa atitude do Frazetta. Passei a tentar se mais compreensivo com todos os que me procurassem para avaliar seus portifólios, a procurar ajudar a todos os iniciantes nas artes plásticas e depois dessa atitude do Frazetta, mudei meu foco sobre a vida de uma maneira radical.
Como um artista conhecido no mundo inteiro e com mil compromissos em sua agenda, poderia ter parado um minuto para fotografar ao lado da minha obra e ainda ser humilde o suficiente para autografá-la??
Só mesmo um ser iluminado como o mestre Frazetta. Aí entendi a chave do seu enorme sucesso.

Ademir Pascale: Frank Frazetta é o seu maior ídolo, saiba também que ele é um dos meus. Como foi receber a notícia sobre a morte do grande mestre (10/05/10)?

Celso Mathias: Pra mim foi um impacto. Chorei compulsivamente por horas. Algumas pessoas podem achar estranho, mas eu me sentia próximo espiritualmente dele. Parecia que eu já o conhecia sabe? No ano do atentado das Torres Gêmeas, lhe enviei uma máquina fotográfica em miniatura de presente. Infelizmente nunca chegou, pois os EUA estavam alarmados e achavam que tudo era bomba. Mas sempre guardei o mestre em meu coração. Sempre mentalizava coisas boas para ele. Fiquei triste quando soube que o seu outro filho, Alfonso, havia tentado roubar-lhe um quadro do museu e foi preso. Mas também fiquei super feliz quando soube que um dos seus quadros da série Conan atingiu a cifra de um milhão de dólares em leilão. Muito justo para um fantástico artista e mestre. Portanto saber de sua morte foi mais ou menos como um parente que me deixou meio órfão. Nunca mais teremos um Frazetta no mundo. Jefrey Jones, Simon Bisley, entre outros com certeza ficaram muito tristes também. Eu acredito em vidas passadas e futuras e sei que o Frazetta está em um lugar maravilhoso conversando com outros artistas, talvez o Rockwell, ou o Jack Kirby, ou quem sabe até mesmo, Rembrandt. Uma amiga minha disse algo bacana quando lhe falei sobre a minha tristeza: “ Um dia o Frazetta irá lhe visitar em seu estúdio e você sentirá claramente a sua presença.” Fiquei feliz de ouvir isso.

Ademir Pascale: Através do seu blog artedecelsomathias.blogspot.com, vi que você desenvolve vários trabalhos. Poderia falar mais sobre eles?

Celso Mathias
: Sou um artista camaleônico. Compulsivamente camaleônico. Gosto de transitar por várias áreas das artes e sempre estou fazendo algo radicalmente diferente do que estava fazendo há um minuto atrás. Acredito que todas as almas são multifacetadas e para um artista inquieto como eu, gosto de mostrar todas essas “fatias” do meu ser artístico.
Meus trabalhos vão desde uma série de olhos quiméricos, passando por uma série de ícones da música, principalmente dos anos 70 de que gosto muito, até uma série sobre “tipos” de Copacabana, onde os fotografo e os pinto sobre a minha ótica.
Não consigo trabalhar em uma coisa só. Entedio-me rápido. Na minha arte está a mais pura síntese do meu ser artista.


Arte de Celso Mathias. Quadro: Sedução. 50x70cm. Acrílica sobre tela

Ademir Pascale: Dos seus trabalhos, qual é o n° 1, aquele que você não cansa de olhar?

Celso Mathias: Seria mais ou menos que perguntar qual dos filhos alguém gosta mais...RSRS! Mas como eu não tenho filhos posso responder com mais clareza e sem um peso na consciência (KKK).
Na aquarela, um que fiz do Led Zeppelin, um do B.B. King e um de uma lata de Coca-cola.
Na Acrílica, a caricatura do Keith Richards, um ninfa com asas pintado em uma tela grande que está no meu estúdio, uma mulher ruiva com um rabo de dragão e um retrato grande que fiz há alguns anos.
Na tinta a óleo: Os hiper-realistas do basquete e recentemente a série “leitores”.
No grafite: Os retratos do Bela Lugosi
No pastel: Algumas paisagens
No digital: O descanso da ninfa.

Ademir Pascale: Como os leitores interessados poderão saber mais sobre você e os seus trabalhos?

Celso Mathias: No meu blog é onde posto com freqüência os trabalhos.
artedecelsomathias.blogspot.com
Hoje em dia, o blog está dando muito retorno, pois é totalmente interativo com os fãs e admiradores da minha arte, ao contrário do website. Mas, no website mesmo assim tenho visitas de 32 países diferentes: www.celsomathias.com 

Perguntas rápidas:

Um livro: Eu fui Vermmer
Um(a) autor(a): Carlos Drummond de Andrade
Um ator ou atriz: Johnny Deep e Scarlet Johansson
Um filme: Cidadão Kane ( Orson Wells) e A moça do brinco de pérolas
Um dia especial: Quando pinto em silêncio e sem hora pra nada
Um desejo: Visitar os museus do Norman Rockwell, Frank Frazetta e Rembrandt

Ademir Pascale: Deseja encerrar a entrevista com algum comentário?

Celso Mathias: Seja sempre o seu maior fã. Assim ninguém nunca destruirá seus sonhos ou lhe dirá que você não consegue chegar aonde quer.

Citações a minha arte por dois mestres brasileiros:

"Para quem babou muito como eu, olhando embevecido as fabulosas ilustrações
de Frank Frazetta, não conseguirá ficar impassível diante das fantásticas artes fantásticas de Celso Mathias, artista da nova e criativa geração carioca. Com colorido quente, dinamizado com muito humor, suas pinturas e ilustrações transportam-nos para a dimensão onírica, povoada de personagens masculinos e femininos que interagem com seres insólitos nunca antes imaginados. Celso Mathias é um craque que pode ser alinhado com os melhores da arte fantástica internacional".

Julio Y. Shimamoto (quadrinista e ilustrador).


"É fácil gostar da arte de Celso Mathias, se ele tivesse nascido há séculos atrás certamente encontraríamos suas obras espalhadas pelos melhores museus do mundo. Seu talento é óbvio, basta olhar para seus quadros. Já estou tão acostumado a excelência de seu virtuosismo que nada que ele pinte me surpreende mais.
Mas estava enganado!
Um dia ele me mandou uma série de desenhos que fez quando machucou sua mão direita. Como não podia ficar sem desenhar, criou garatujas com a esquerda.Foi então que me surpreendi. Eram pequenas obras de arte em gestação. A proto-obra, a pintura antes da pintura... E eram traços, aquarelas,nankins... Uma infinidade de obras por vir, uma prolixidade de estilos e texturas. Fiquei encantado. Era meio obsceno, como penetrar na intimidade do artista ou folhear o caderno secreto de rascunhos de um mestre... Ser testemunha do ato de criação em sua gênese. O Big Bang desse artista, a fonte de todo seu talento...
Agora não digo mais que nada que Celso Mathias faça me surpreende mas torço para que ele me surpreenda novamente".

Cesar Lobo (ilustrador e quadrinista).

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado:  Celso Mathias.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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