Joacy Jamys - Foto Divulgação.
Biografia: Joacy Jamys começou a
produzir desde 1986, dezenas de HQs, centenas de
tiras, marcas, capas, ilustrações, cartuns etc.
Edita os zines Legenda (HQ), Legenda Comix (HQ e
misto), Não Sistema! (tiras), Grito Punk (jornal),
Liberdade em Preto e Branco (HQ verídica
anti-racista) e os extintos Singularplural, Grito? e
Sociedade dos Mutilados. Co-editou com o grupo
Singularplural Quadrinhos (que é co-fundador), as
revistas Fusão, Fúria e Singularplural. Possui o
livro “Não Sistema! (Ed. Marca de Fantasia) e
produziu algumas apostilas de como fazer quadrinhos
e editoração para zineiros. Foi instrutor de cursos
de quadrinhos, cartuns, tiras, desenhos e etc.
Vocalista da banda punk Última Marcha e possui um
selo chamado Grito Punk. Profissionalmente, é
designer/webdesigner no escritório Etnia Design. Tem
trabalhos publicados no exterior e em dezenas de
fanzines e algumas revistas do Brasil.
Ademir Pascale: O que você acha do Gênero Fantasia-Fantástica nos dias atuais?
Joacy Jamys: Quase não existe mais a produção no Brasil.
Depois da Art &Comics, muitos de nossos artistas
enveredaram e adaptaram suas HQs para tentar uma
chance no mercado dos Estados Unidos. Muitos
zineiros novos seguiram (e seguem) esta meta, sempre
tentando fazer trampos voltados para conseguir um
contrato (de escravidão, na maioria das vezes,
servem de mão-de-obra barata do Terceiro Mundo, da
globalização, pois o tal mercado paga bem abaixo do
valor real para artistas estrangeiros). Porém,
outros muitos continuam firmes, inclusive os
“novatos”. O mangá também invadiu o mundo, mexeu até
com o mercado europeu. A gurizada se vicia nisto
tentando adaptar culturas que não compreendem/vivem.
A própria fantasia-fantástica é da escola
franco-belga, Moebius, Caza e tal. Foi minha
influência no começo quando adolescente. Mas, fiz
uma adaptação para minha realidade e eles
reconheceram isto lá, quando comentavam meus
trabalhos na Europa.
A fantasia-fantástica perdeu muito de seus expoentes
no Brasil. Mas, outros continuam produzindo outras
linhas autorais e expressionistas, como Andraus e
Edgar Franco. Contudo, a Fantasia quase não se tem
mais desenhistas fazendo, eu mesmo estou produzindo
aos poucos. Adoro este gênero. Também existem outros
gêneros/linhas que foram perdendo sua força, como
fazia Alberto Monteiro, Ricardo Borges, Hermuche e
outros.
Ademir Pascale: Poderia comentar sobre o Zine Legenda?
Joacy Jamys: Ele é o primeiro de quadrinhos no Maranhão
e ainda resiste. Desde 1990, seguiu a linha
editorial autoral, onde um autor tem uma coletânea
de seus trabalhos e a apresenta. Depois lancei o
Legenda Comix, que segue a linha mista, HQs
nacionais e estrangeiras (não pirateadas, mas que
autores enviam), notícias, entrevistas, artigos etc.
O mais atual é o nº 27, com coletânea de meus
trabalhos chamada “Canciones de sangre”, só HQs na
linha existencial, tristes...muitas inéditas.
Ademir Pascale: E o que você diz sobre a primeira edição
de quadrinhos pós-modernos Brasileiros?
Joacy Jamys: O Flávio Calazans sempre está incentivando
e estudando, pesquisando e dando conceitos sobre
trabalhos que acha interessante. Isto é bom. Vejo
que ele sempre teve uma atenção com meus trampos.
Quando lancei o “Legenda 20 – Contos Fictícios”, que
reuniu em 1990, 20 HQs desta série de
fantasia-fantástica, ele tratou-a como
“pós-moderno”. Este zine está entre os três
principais títulos publicados até hoje no Brasil, ao
lado de “Psiu Mudo” (Edgar Guimarães) e “Guerra das
Idéias” (Calazans), tem outros ainda que não podem
ser esquecidos como “Psiu Mudo” e “Psiu Ecologia”. É
uma pena não termos mais iniciativas editoriais como
estas, de grandes zines que realmente mudam coisas,
que infincam idéias e mostram que há trabalhos
inteligentes com quadrinhos de qualidade. Lembro
ainda das edições do Henrique Magalhães, do Worney ,
do Calazans e Edgard Guimarães.
O Legenda 20 – Contos Fictícios, ainda virou
material de estudo na USP e UFMS. Em breve estarei
lançando a 2ª parte desta minha série, que chegam a
35 HQs, publicadas em diversos zines brasileiros e
Portugal.
Ademir Pascale: Como surgiu o grupo “Singularplural”?
Joacy Jamys: Reunião de alguns adolescentes e fanzineiros em 1989, que queriam não só ficar
produzindo quadrinhos e zines, mas montar uma
associação. Como tínhamos poucos autores, o jeito
foi criar um grupo, como propôs o Iramir. Desde
1991, a formação mudou muito, primeiro foi o nome
Grupo de Risco para Singularplural Quadrinhos (Singularplural
era o nome do zine do Grupo de Risco, que na verdade
foi um “marco”, digo porque publicava mais de 25
quadrinhistas por edição e foi o primeiro a divulgar
o cenário de quadrinhos, eventos e grupos do mundo
no Brasil – não existia internet! Tudo pesquisado
por mim...êta, como não tenho modéstia! Desculpem
estas falhas humanas. Veja quantas citações o
Henrique Magalhães fez em seu livro “Rebuliço Mundo
dos Fanzines” (desculpe se o título certo não é
este). Abria os capítulos sobre “fanzines” com
citações em matéria publicada em nosso zine. Mais de
uma década depois, ele lembra disso.
Ademir Pascale: Além de produzir quadrinhos e ilustrações,
você ainda é vocalista da banda anarcopunk Última
Marcha, e mantém a distribuidora/selo “Grito Punk
Prod”, também organiza eventos de quadrinhos e shows
punks. Como você organiza todas essas tarefas no seu
dia-a-dia?
Joacy Jamys: Ainda tenho família e trampo o dia inteiro.
Todos sempre perguntavam sobre isso do meu tempo e
conciliação. Digo que é teimosia e insatisfação.
Insatisfeito em ficar parado, em não poder somar com
nada. Quando tudo isto vira sua vida, fica mais
fácil e prazeiroso em fazer. Você não se cansa. Além
do que citou, ainda colaboro com zines (e agora
sites), faço diversos sites, respondo trocentas
cartas do Brasil e exterior, produzo quadrinhos,
cartuns, fanzines, revistas e ainda bebo cachaça com
os(as) amigos(as) no final de semana.
Ademir Pascale: Poderia comentar sobre os concursos e
exposições no qual participou e ainda participa?
Joacy Jamys: Ganhei Menção Honrosa no Concurso de Carlos
Barbosa/RS (HQ) e Mostra de Humor do Maranhão (cartum).
Participei de exposições em São Paulo, Paraná, Rio
de Janeiro, Maranhão, Piauí, Portugal, Cabo Verde e
etc. Sejam exposições de quadrinhos, cartuns e zines.
Ademir Pascale: Fiquei sabendo que você já Publicou na
Espanha, Dinamarca, Portugal, França, Polônia entre
outros lugares. Como o seu trabalho é visto fora do
Brasil? Quais são os comentários dos críticos?
Joacy Jamys: sempre recebo bons comentários. Agora
mesmo, o editor da Atomik (França) elogiou bastante
uma tira que publicou na revista dele em 1995! Disse
que surtiu ótimo efeito entre os leitores. Com a
fantasia-fantástica, produzi muitas HQs sem
diálogos, ficando fácil publicar no exterior.
Algumas HQs são em inglês e espanhol. A PLG (uma das
maiores associações de quadrinhistas
franceses),tratou meus trabalhos como o “Moebius”
brasileiro. Sempre mantive bons contatos com os
estrangeiros e tive diversos trabalhos lá, até um
especial em Portugal. Também sempre enviei trabalhos
de brasileiros para o exterior, eles adoram.
Preferem raízes, não adaptações de mangás e
super-heróis, todos cansam disso. Olha que gosto de
muitos mangás e super-heróis melhores produzidos
(atual Demolidor e Hulk, por exemplo).
Ademir Pascale: Qual é a sua visão dos desenhistas nos
dias atuais no quesito “criatividade”?
Joacy Jamys: meio à meio. Temos ótimos quadrinhistas e
argumentistas. O pessoal evoluiu muito, falando
sério. Invejo muitos jovens que estão arrebentando.
Aqui em São Luís mesmo, tem um pessoal novo que
detona. Até o pessoal que está produzindo
super-heróis e mangás, estão bons. Infelizmente,
muitos se pasteurizaram, ficando bonitinhos demais e
estão atolados em temas que não somam com nada,
transformando ARTE em apenas PRODUTO. O Brasil está
cheio de artistas-produtos, preocupados com elogios
e status em grupos fechados. Mas, tem outros que
mantém trabalhos coerentes e interessantes. Veja o
pessoal da revista Graffiti (MG), Front (SP), Ragú
(PE), Fúria (MA) e outros. Tem gente boa por aí,
sim. Veja os sites. Tem coisas bem trabalhas e
produzidas.
Ademir Pascale: Caso queiram entrar em contato com você,
para dúvidas ou trabalhos, como devem proceder?
Joacy Jamys: Escrevam que a resposta é garantida.
Correios: Caixa Postal 710 – São Luís/MA – 65001.970
E-mail: joacy_jamys@yahoo.com.br
Sites:
http://joacyjamys.vila.bol.com.br
http://ultima.marcha.vila.bol.com.br
http://www.gritopunk.hpg.com.br
Ademir Pascale: Parabéns pelo ótimo trabalho, Joacy. Um
forte abraço e sucesso sempre...
Joacy Jamys: Ah! Muito obrigado pela entrevista,
Ademir! Continue com este trabalho que desenvolve.
Parabéns.
Abaixo, um dos trabalhos de
Joacy Jamys:
© Cranik
*Você poderá adicionar essa
entrevista em seu site, desde que insira os devidos
créditos: Entrevistador e Administrador do
http://www.cranik.com :
Ademir Pascale
Entrevistado: Joacy
Jamys
E nos informar pelo e-mail:
suporte@cranik.com