DE
JUNG A BEOWULF - A BUSCA DO HERÓI
por Danny Marks -
Crítico de Cinema
e-mail:
dannymarks63@gmail.com
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Jung (Foto Divulgação)
“Mitos são aquilo que os seres
humanos têm em comum, são histórias de nossa busca da
verdade, de sentido, de significação, através dos
tempos. (...) São metáforas da potencialidade
espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que
animam nossa vida animam a vida do mundo.”
(Joseph Campbell)
“Precisamos de um Herói” é a fala mais profunda do
Rei Hrothgar, ele mesmo um antigo herói, no filme “A
Lenda de Beowulf”.
O que teria levado o heróico rei, amado por seu
povo, a declarar-se impotente? Grendell, o filho do
rei com a Bruxa dos Pântanos. E é Beowlf quem vem em
socorro do rei caído e de seu reino: o novo herói.
A Lenda de Beowulf é um mito moderno, um filme
arquetípico que traça uma linha direta entre o
inconsciente coletivo e nossas necessidades atuais.
Este mito fala da busca do Herói, das provações que
ele passa para encontrar o maior desafio de sua
vida, o Si Mesmo.
O Rei Hrothgar representa o herói que fracassou em
enfrentar o desafio, após percorrer toda a sua
jornada de glória e dor. É o anti-herói moderno:
simpático, forte, destemido diante de quase tudo,
mas que não consegue superar as próprias limitações
e se torna decadente e pede ajuda deixando, em um
último ato heróico, o caminho livre para o novo
herói e sua jornada.
Não há como não simpatizar com a triste derrocada
deste antigo herói, superado, ultrapassado pelo
novo, que se viu frente a frente com a Grande Mãe (a
Bruxa do pântano) e, com essa força sombria, fez um
pacto que o permitiu ir além das possibilidades
imediatas e obter o reconhecimento até que, como em
todo pacto mais cedo ou mais tarde é cobrado o
preço, o confrontamento se fez necessário.
Grendell se recusa a atacar o pai, por ordem da Mãe
Devoradora. E o pai não consegue atacá-lo, incita-o
à luta, mas não avança sobre o mal que o corroe e
destrói a tudo que tinha conquistado. Recusando-se a
enfrentar sua própria sombra, deixa de ser o herói e
é derrotado por Si Mesmo.
Beowulf é o novo herói que iniciará a sua busca
aprendendo com aquele que irá substituir, usando o
que já foi conquistado. Seu primeiro embate é a
prova de que é merecedor, a luta contra o demônio do
antigo herói. Vencendo-o conquista a glória de ir
além dele, mas antes terá que enfrentar a mesma
prova, encontrar a Sombra e forjar o seu pacto que
lhe garantirá ingressar no caminho do herói
efetivamente, e o ciclo recomeça.
É dessa forma que a cultura, os ganhos de uma
civilização, passam para a geração seguinte, e o rei
antigo tem que ser superado, absorvido, logo após
passar a coroa ao novo vencedor, ou se tornará um
empecilho para a jornada seguinte, para no novo
ciclo a ser cumprido.
Mas quem é a Bruxa do Pântano? Ela é a parte sombria
dos arquétipos, a força que move o herói e a que o
subjuga se não for vencida no seu devido tempo. A
trégua que se faz no pacto com a sombra é o impulso
inicial que se precisa para conquistar o mundo.
Alimentando-se da força da Sombra o herói parte para
suas conquistas e autoconhecimento até que, coberto
de glórias, tem que enfrentar os seus demônios.
Conquistou o seu lugar no mundo externo e agora tem
que conquistar o seu mundo interno, fazer as pazes
com o seu passado, olhar para Si Mesmo e enfrentar o
resultado de suas escolhas. É a maturidade do Herói,
onde ele tem que escolher entre doar-se ao mundo
como um Deus ou perecer como um mortal. Dos frutos
dessa batalha final se alimentarão as futuras
gerações que o sucederão.
A Bruxa nunca morre, nunca é derrotada como os seus
filhos sombrios, a quem reabsorve junto com o herói,
sua força não pertence a ninguém, é emprestada e
tomada no devido tempo, como toda a força da
natureza que anima a vida que se alimenta da vida e
retorna como alimento da natureza para o novo ciclo.
No Caminho do Herói não existe bem ou mal, existem
apenas escolhas certas ou erradas, na comunhão com
os poderes animais e espirituais que impulsionam a
vida como um todo, em ciclos que se sucedem e se
complementam. O passado se torna futuro e os velhos
símbolos ressuscitam em novas formas e vem resgatar
suas dividas arquetípicas.
O “Herói” somos nós, cada um de nós, em nossa busca
pela glória, em nossa necessidade de imortalidade
nas futuras gerações, nossa luta constante contra o
mundo e, quando conquistado esse mundo, nossa luta
final contra a sombra, que fortalecemos em nossas
conquistas, em busca do equilíbrio que nos dará a
paz derradeira: o aceitar-se.
Essa busca heróica não é feita sozinha, nela o
aventureiro encontra a Bruxa, o Amigo Fiel, a
Rainha, a Amante e finalmente o seu inimigo: O
Demônio do Si Mesmo.
Quando o Si Mesmo confronta o Herói eles estão
equivalentes, lados opostos da mesma força
primordial, luz e trevas. O Demônio despreza as
conquistas do Herói e as destrói para demonstrar
como são efêmeras diante de seu poder sobrenatural.
É quando o Herói tem que encarar a própria morte com
a coragem que encarou a vida para que o ciclo se
feche, e recomece o novo ciclo, perecer agora é
invalidar todo o caminho percorrido, sobreviver a
ele é condenar as gerações futuras ao sofrimento.
A solução está no fundir-se com o adversário, juntar
luz e sombras em uma paz harmônica que traz as
cores, romper o poder sobrenatural da morte com a
espada da vida penetrando-lhe o coração,
ofertando-se como oferenda e alimento que será
consumido pelos que virão e, assim, imortalizando-se
como o Deus Vivo que dá a vida com a sua morte.
A vida se alimentando da vida, a morte sendo apenas
uma transição entre o passado e o futuro, dando-se
como oferenda, como presente ao novo Herói em sua
busca, até que as forças da natureza o chamem de
volta ao berço primordial para que, finalmente,
descanse em paz.
Em “A Lenda de Beowulf” podemos aprender de forma
simples como os mitos nos ensinam sobre a jornada da
vida, a busca pelo autoconhecimento. O feito heróico
do dia a dia é o superar as adversidades, muitas
vezes através de pactos sombrios, que nos custarão
um preço futuro. Escolhas que nós confrontarão e
para as quais temos que ter uma resposta à altura de
um herói.
REFERÊNCIAS:
Filme: A Lenda de Beowulf
Livros:
CAMPBELL, Joseph & MOYERS, Bill. O poder do mito.
1990.
Jung, C G. & Jaffé, Aniela. Memórias, Sonhos e
Reflexões
Diversos. Enciclopédia Times Life – Mistérios do
Desconhecido.
Marks, Danny. A Lei da Completitude – Ciência
Evolucionária.
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Crítica:
Danny Marks - Crítico de Cinema - e-mail:
dannymarks63@gmail.com
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