CRÍTICA - MUITO GELO E DOIS DEDOS DE ÁGUA:
Depois de toda campanha
de marketing, spots na TV, trailers e mais trailers
nos cinemas, cartazes e até um vídeo na internet com
a digníssima senhora “tapa na pantera” se
confundindo com o nome do filme, para mim tudo já
estava mais que claro: “Muito Gelo e Dois Dedos
D´água” ia ser mais uma besteira resultante da já
nefasta parceria Daniel Filho/ Globo Filmes... e não
deu outra.
Diante de toda enxurrada publicitária do filme,
tenho que admitir que eu também fui fisgado pela
idéia do longa, mas a cada minuto que eu passava na
frente da tela do cinema ia cada vez mais me
sentindo mal com tamanha besteira.
Na trama, somos apresentados a duas irmãs, Roberta e
Suzana (Mariana Ximenes e Paloma Duarte) que decidem
se juntar para seqüestrar a própria avó (Laura
Cardoso) por um fim de semana, para se vingarem de
todas as “torturas” que a velha praticava com elas
em férias de verões passados em um casa de praia,
acompanhadas do advogado “careta” Renato (Ângelo
Paes Leme) que cai de gaiato no viagem, ainda por
cima os três são perseguidos pelo marido de Suzana
(Thiago Lacerda) que acha que as duas estão se
acabando em drogas pesadas.
A primeira vista o filme, que tem todas as
ferramentas para se tornar um cult, sexy e repleto
de humor negro, ou até apostando na dramaticidade da
situação, no relacionamento entre os personagens,
mas por fim escolhe um outro caminho, aposta no riso
fácil, e se torna bobo e desnecessário.
O roteiro escrito pelo casal Alexandre Machado e
Fernanda Young, responsáveis na TV por séries como
“Os Normais” e “Minha Nada Mole Vida”, peca quando
parece não conseguir entender a verdadeira razão dos
personagens, tornando o filme raso, você não
consegue em nenhum momento realmente sentir pena da
dupla de protagonistas, principalmente pois não dão
espaço suficiente para a avó ser realmente má, já
que a atriz passa a maioria do filme dopada gritando
o nome do General Médici, uma pena já que Laura
Cardoso tinha tudo para dar um show a parte no
filme.
O roteiro ainda ignora a inteligência do público
colocando frases totalmente idiotas na boca da
personagem de Mariana Ximenes, pondo em questão se
aquela personagem não deveria estar em um manicômio
tamanha estupidez com que ela trata tudo na vida,
grande culpa também da atriz que resolve interpretar
uma idiota retardada que fica pulando e fazendo
careta, falta sutileza das duas partes.
E sutileza é também uma palavra que passa longe das
situações apresentadas no filme, tudo é forçado,
além de previsível e por muitas vezes sem graça,
principalmente toda a parte da história relacionada
ao galã Thiago Lacerda, totalmente desnecessário e
pastelão demais para o resto do filme.
Mas a impressão que eu tenho é que o filme teria
sido bem melhor se apostasse mais em seus diálogos,
que apresentam uma quantidade muito boa de acidez, e
um humor inteligente, quando não idiota, mas essas
partes boas na maioria das vezes são interrompidas
por uma piada visual, ou sonora, parece que o
problema foi uma aposta errada, ao invés disso
escolheram um filme visual e deram na mão de Daniel
Filho, que é muito “careta” em seus filmes para
conseguir o tom que “Dois Dedos” precisaria.
O diretor não posiciona o filme para um público, até
tenta ser moderno mais se torna ridículo, aquelas
luzinhas na cara da avó são as provas de que uma
tentativa de ser moderno e descontraído pode se
tornar triste, como aquele tiozão barrigudo com
luzes no cabelo e uma crise de meia idade.
Daniel Filho ainda parece se perder visualmente,
acelerando perseguições de carro, brincado de
honomatopéias, e não deixando o filme fluir em paz
sempre com cortes um pouco rápidos de mais,
parecendo estar dirigindo um filme dos Trapalhões.
Eu provavelmente poderia passar o resto da minha
vida sem ter visto “Muito Gelo e Dois Dedos D´água”
e seria cinematograficamente mais feliz, e não
pararia para pensar como besteiras como essa estão
em todos cinemas do Brasil e filmes como “Cinema,
Aspirinas e Urubus”, ainda continua quase em um
circuito fechado, mesmo depois de ser o indicado ao
Brasil para o Oscar, é uma pena, e quem leva a pior
nessa história somos nós que só queremos ir no
cinema ver algo que presta.
P.S.: a versão da Elza Soares para a música “It´s oh
so Quiet” da Islandesa Björk, é maior que todas
torturas da avó, se possível demorem um pouco mais
na fila da pipoca, vocês não vão se arrepender.